PGR investiga suposto envolvimento do
presidente do PSDB com esquema de corrupção em Furnas
BRASÍLIA — O
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, nesta
quinta-feira, o prosseguimento do inquérito contra o senador Aécio Neves (MG),
presidente nacional do PSDB, por suposto envolvimento com esquema de corrupção
em Furnas. No mês passado, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR),
Gilmar, que é relator do caso no STF, abriu o inquérito contra o tucano. No dia
seguinte, diante da defesa prévia apresentada pelo senador, o ministro suspendeu as
investigações e questionou o procurador sobre a real necessidade de manter as
apurações.
Nesta
quarta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou o segundo parecer ao STF
recomendando o prosseguimento das investigações. No parecer, Janot
reiterou a existência de indícios contra o parlamentar e reafirmou que o
inquérito é necessário para esclarecer o caso.
Em delação
premiada, Youssef contou, segundo a PGR, que ouviu de José Janene a informação
de que o PSDB, por meio de Aécio, dividia uma diretoria de Furnas com o PP.
Yousseff também teria ouvido que o tucano recebia valores mensais, por meio da
irmã, por uma das empresas contratadas por Furnas, a Bauruense, entre 1994 e
2001.
No ano
passado, Janot enviou indícios contra Aécio ao STF, que foram reunidos em uma
petição. Os elementos surgiram a partir da delação premiada do doleiro Alberto
Youssef. Essa petição foi arquivada por falta de elementos suficientes contra o
senador. No mês passado, Janot pediu o desarquivamento da petição e o acréscimo
de novos elementos contra o tucano — desta vez, vindos da delação premiada do
ex-senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). A suspeita é de que o senador
cometeu corrupção e lavagem de dinheiro.
No
documento, Janot afirmou que a delação de Delcídio e elementos de convicção
dela decorrentes “constituem indubitavelmente provas novas a exigirem o
desarquivamento da menção feita por Yousseff”. Segundo o procurador, os dois
delatores confirmaram que a irmã de Aécio tinha empresas em seu nome na época
dos fatos, que podem ter sido usadas para manter e ocultar valores no exterior.
GILMAR
REBATE CRÍTICAS
No despacho,
Gilmar Mendes responde às críticas que recebeu do procurador-geral da República
por ele ter pedido a suspensão das diligências. Janot lembrou que a decisão de
apurar é do Ministério Público. O Judiciário não poderia, portanto, decidir não
abrir um inquérito pedido pelo procurador-geral. Janot afirmou ainda que Gilmar
estaria “despindo-se da necessária imparcialidade”.
Gilmar
Mendes disse que a investigação não é "uma propriedade do Ministério
Público e da polícia, imune à interferência judicial". E disse que o juiz
tem o dever de arquivar inquéritos que sejam incabíveis. O ministro destacou
que a interferência, ao suspender as diligências, "teve escopo bastante
limitado". E que “ a prerrogativa de manifestação não se traduz em um
direito a ter suas manifestações atendidas”.
“O despacho
não afirmou que os esclarecimentos prestados pelo investigado eram suficientes.
Assegurou a prerrogativa do Ministério Público de formar sua opinião, tomando
contato com a tese e a documentação produzida pelo investigado. Tampouco houve
no despacho qualquer direcionamento das diligências investigatórias. Não se
inovou no plano de investigação traçado pelo Procurador-Geral da República. Não
se indeferiram provas. Não se determinaram provas de interesse exclusivo da defesa”,
escreveu Gilmar.
“A
intervenção judicial para resguardo de direitos dos investigados não só é
possível, como, em muitos casos, é obrigatória. Não é necessário aguardar a
fase processual para afirmar direitos violados no curso da investigação”, acrescentou
Gilmar.
Gilmar
afirmou que a decisão sobre a reabertura do inquérito não poderia se dar em
razão apenas de “mudança de opinião” e que é indispensável que haja novas
provas. “Foram trazidos elementos de corroboração oriundos de outras
investigações que podem reforçar a suspeita em apuração. Logo, cabível a
retomada das investigações”, escreveu Gilmar no despacho.
AÉCIO:
“INJUSTAMENTE ACUSADO”
O senador
Aécio Neves se manifestou por meio de nota. Ele afirmou que “ninguém gosta de
ser injustamente acusado, como é o caso, mas eu tenho serenidade para
compreender que esse é o papel do Ministério Público, investigar as citações e
acusações que ali chegam, e o da Justiça, de dar prosseguimento a essas
investigações”.
Aécio se
disse confiante de que será inocentado: “Tenho a absoluta convicção de que, ao
final, ficará provado mais uma vez a minha inocência, como já aconteceu no
passado, o que levou, inclusive, ao arquivamento dessas mesmas acusações”.
POR MANOEL VENTURA no O Globo
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