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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Sabiás

Elas são comuns tanto nos gramados aqui de casa quanto nos pratos com frutas que deixo pelas manhãs no que se convencionou chamar de quintal, Estrategicamente presos em um poste de luz. Estão quase no topo da cadeia alimentar local, mas nessas disputas preferem não enfrentar os bem-te-vis. Às vezes enfrentam. Às vezes também não se importam de compartilhar as refeições com pássaros de menor porte, como os sanhaços, os tiês e um casal de saíras que mora aqui perto. De vez em quando uma Araúna de Bico Branco - estão sempre de passagem - vem compartilhar o repasto.

Os Jacus – do tamanho de frangos, mas com rabo grande, chegam meio desajeitados e acabam derrubando as frutas no gramado. O que é um risco pra todo mundo por que os cachorros, pastores alemães, não gostam muito de ver seu território invadido. Mesmo por passarinhos inofensivos.

O problema é que volta e meia um casal da espécie resolve fazer ninho na varanda. É uma atitude sábia, porque filhotes & pais ficam abrigados das chuvas, do vento mais forte e, até de eventuais predadores – à noite ouvimos o pio de uma coruja numa das árvores do quintal.

O problema é que, para não provocar stress em pais e filhotes acabamos evitando passar em frente ao ninho, estrategicamente construído num vaso de cactos junto à parede. E isso atrapalha minha caminhada na varanda em torno da casa, trinta e oito voltas, o equivalente a dois quilômetros, todos os dias.

Mas acabamos, eu e as sabiás, minimizando o problema: eu caminho só em dias ímpares e elas suportam minhas seguidas passagens em frente ao ninho nos dias pares.  

A Água vai desaparecer?

Foi há coisa de seis, talvez sete anos. Ou mais, não sei. De repente as notícias apareceram, alicerçadas em dados mais ou menos concretos e pelo menos uma parte das pessoas passou a acreditar.

Às vezes insistentes, as matérias fizeram com que muitos de nós começássemos a ficar sob a pressão da possibilidade de uma drástica redução da água no planeta Terra. Alegava-se que em alguns locais o abastecimento já era feito utilizando-se aquíferos do período Jurássico, e vai por aí.

Discuti o tema com um hoteleiro da região de Teresópolis. Naquele momento ele acompanhava, muito preocupado, as notícias sobre a necessidade de economizarmos água. Argumentei que o planeta tinha 3\4 de superfície líquida e os processos de dessalinização eram cada vez mais simplificáveis. Países do Oriente Médio já dependiam unicamente da água dos oceanos, mas meus argumentos foram em vão.

Não chegamos a uma conclusão sobre o destino da água utilizada nas casas, nas indústrias, na agricultura. Meu argumento era que, deixada na natureza, toda a água do mundo volta a ser potável.

Parte da argumentação do meu "antagonista" era que a água está sendo cada dia mais poluída e inviável para consumo humano. Tudo bem, mas são inúmeros os processos naturais de despoluição que possibilitam consumir água potável em todo o planeta.

A conversa parou por aí, cada um resguardando seu ponto de vista.

Aliás, meu objetivo era entrevistar o dono do hotel sobre o crescimento do turismo no município de Teresópolis. Fiz meu trabalho, o fotógrafo fez o dele. Fui convidado, e aceitei, a almoçar no hotel e acabei escrevendo cinco laudas de texto que funcionaram como matéria publicitária. Esse era o objetivo dos proprietários da revista para qual eu trabalhava. Não me importei, fiz o melhor que pude e a matéria ganhou quatro páginas com boas fotos do mobiliário, dos apartamentos, cavalariças, um lago e muitas outras atrações para quem vem descansar na serra fluminense.  

Passaram-se alguns anos e o noticiário sobre o risco do planeta tornar-se um deserto como o da Namíbia, ou o Saara, desapareceu da mídia.

Nossa preocupação agora é com o excesso de água, produto do aquecimento global.

O derretimento de geleiras nos polos, por exemplo, pode fazer subir o nível dos oceanos, inviabilizando cidades como Santos e o Rio de Janeiro. E outras, muitas outras, plantadas nos litorais pelo mundo.   

IA do nosso lado!?

Lei redigida com auxílio da Inteligência Artificial é aprovada por vereadores em Porto Alegre.

O presidente da casa acha que foi aberto um ‘precedente perigoso’. O Projeto de Lei apresentado pelo vereador Ramiro Rosário (PSDB) isenta moradores de cobrança sobre a substituição do medidor de consumo de água caso o objeto seja furtado. O texto foi totalmente redigido pela ferramenta ChatGPT da empresa Open Al”.

O vereador diz ter escolhido um projeto de lei que fosse simples e fugisse de temas polêmicos. “A Inteligência Artificial não se limitou a entregar o texto que eu propus, ela foi além, propôs prazos e incluiu um artigo que não tínhamos pensado. Eu achei sensacional”, concluiu.

E é. O mais importante é que a IA tomou posição em defesa da parte mais fraca nesse tipo de embate, o consumidor que sempre leva a pior nesses casos.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Bill Gates e o ócio nosso de cada dia

 

Saiu na mídia:

Bill Gates vê possibilidade de semana de três dias com avanço da Inteligência Artificial.

“Se você diminuir o zoom, você sabe que o propósito da vida não é apenas trabalhar. Então, se você eventualmente conseguir uma sociedade onde você só tem que trabalhar três dias por semana ou algo assim, provavelmente está tudo bem se as máquinas puderem fazer toda a comida e não tenhamos que trabalhar tanto”, disse Gates.

É mesmo?! Sei não. Acontece que humanos tem tatuado no DNA o estigma da luta diária, da batalha por comida por espaço, por direito a ter mais do que o próximo. Vivemos de trabalhar duro desde que éramos caçadores/coletores. Passamos pelos arados da agricultura primitiva, e chegamos aos teares da Revolução Industrial na Inglaterra no século 18: homens, mulheres e crianças de até cinco anos manipulavam, 12 horas por dia, maquinas que frequentemente amputavam suas mãos e braços.

Os regimes de trabalho melhoraram um pouco ao longo de século 20, com a entrada no jogo das novas tecnologias e das legislações trabalhistas, que reduziram um pouco o esforço físico e os riscos, mas em compensação roubaram o emprego de muita gente. E parece que dentro em breve alguns de nós vão ingressar em ambientes onde a única tarefa será programar a Inteligência Artificial. O resultado é a inevitável redução do tempo dedicado ao trabalho como previsto por Gates.

Mas saberemos lidar com a nova realidade do aumento do ócio? Isso porque em duas ou três gerações o trabalho vai representar, com certeza, um número bem menor de horas no dia a dia dos humanos. Máquinas inteligentes estarão pegando no pesado (ou não tão pesado assim) em nossas casas e locais de trabalho. Em alguns casos os humanos mais brilhantes serão chamados apenas para pequenas intervenções ou correções de curso. Mais tarde até mesmo essas intervenções ficarão por conta exclusiva da IA.

Vai ser bastante difícil conciliar o caçador de Mamutes, o conquistador dos povos mais frágeis, os guerreiros das Termópilas, com um novo homem. Cujo único exercício físico será numa esteira na academia localizada dois andares abaixo do apartamento em que mora.

E aí? Haverá um aumento exponencial na taxa de suicídios? É bom lembrar que a mídia evita noticiar suicídios e o número é maior do que imaginamos nos dias de hoje. Nos tempos em era repórter da Editoria de Polícia de O Globo, o jornal não queria saber quem se suicidou, onde, quando ou por que. O carro de reportagem não saía do pátio ao menor indício do que o corpo encontrado fosse o de um suicida. Era o único item que igualava ricaços, classes médias e pobres.

É claro que, desde espetáculos como o futebol, fórmula 1, Olimpíadas, shows cada vez mais tecnológicos e grandiosos, viagens de turismo ao alcance de quase todo mundo, eventos culturais, vão tentar substituir um cada vez maior espaço para o ócio. Dará certo?

O que acontece quando ambulâncias com robôs paramédicos puderem atender quem passa mal em casa, ou quando os táxis dispensarem motoristas e pudermos pedir que máquinas especializadas (talvez drones mais espertinhos) deixem na nossa porta tudo o que pedimos para o jantar. O que faremos quando não houver trabalho no mundo? Passaremos o tempo todos vendo robôs disputando partidas de futebol? Artistas virtuais levarão para nossas telas shows de músicas compostas pela Inteligência Artificial.

Para humanos o ócio pode ser mortal.

Ou como preveem alguns futurólogos Rivotril e Canabidiol vão fazer inexoravelmente parte da nossa cesta básica.

 

 

Celulares

 Quanto mais é aperfeiçoado, quando mais novos programas são introduzidos, mais dependentes nos tornamos do Celular. No passado distante, quando a televisão chegou ai Brasil – eu era criança – dizia-se que a partir de então as pessoas estavam deixando de conversar. De interagir, mesmo dentro de casa.

Não sei exatamente o que acontecia nos tempos antes da televisão. Mas me lembro que algumas famílias, em São Cristóvão, bairro da zona norte do Rio, território da baixa classe média, as famílias costumavam levar, ao entardecer, cadeiras para a calçada. Eram longos bate papos, inclusive com vizinhos próximos, que duravam até as primeiras horas da noite.

É claro que no horário nobre dos novelões, as conversas entre pessoas que estavam na sala em geral se limitavam a comentários sobre as personagens da trama. Mas nada tão radical quanto pessoas procurando isolamento, empunhando um celular, absortas, indiferentes ao que se passa ao lado, envolvidas com qualquer texto, foto ou vídeo que apareça nessa irritante minúscula tela. Talvez no futuro esse lapso de tempo venha a ser chamado de a Era dos Celulares.

Mas até lá os celulares com certeza terão outro nome.  

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Desemprego em queda

O desemprego - o IBGE fala em 7.7% contra 12% no passado próximo - diminui porque o objetivo agora é deixar que parte do dinheiro em circulação na economia flua para um maior número de bolsos. Com um pouco mais de grana, quem está acima da linha de pobreza começa a virar consumidor.

Consumidor tímido, porque antes é necessário pagar contas que ficaram em aberto no passado. Depois pessoas agora empregadas começam a desejar uma televisão nova, um carro usado, a troca do celular por outro mais moderno, um tênis de marca, uma viagem para ver os pais numa cidade do Nordeste.

As indústrias agradecem; o comércio também! Idem para o setor de serviços!

Então a queda na taxa de desemprego é sempre uma boa notícia.

  

Amortais


O antropólogo Yuval Noah Hararari, autor do best seller Sapiens, acha que em breve seremos amortais. Ou seja, não haverá mortes por doenças ou envelhecimento. Claro que não vai ser possível continuar vivendo se formos vítimas, por exemplo, de um acidente de trânsito, ou se alguém atirar em nós durante uma briga ou um assalto a mão armada.

 É possível viver 150 anos ou mais? Acho que sim. Ainda mais com a entrada em cena da Inteligência Artificial e o que a partir daí pode ser feito para prolongar a vida.

Mas para pessoas como eu, com mais de 80 anos e alguma dificuldade de adaptação aos conteúdos do século 21, as coisas vão se complicar. E muito. Será preciso voltar aos bancos escolares para aprender a conviver com o futuro? E meu idoso cérebro, já bombardeado por ideias nunca imaginadas, vai poder assimilar toda a modernidade futura? Será que aos 150 anos vou querer continuar vivo?

Impossível saber!

domingo, 26 de novembro de 2023

Espelho Meu

Aos 80 anos rostos conhecidos são como espelhos; espelhos que refletem melhor nossa realidade. Melhor do que aquele com que nos defrontamos todas as manhãs.

Alguém com que cruzamos na rua e não víamos há muito tempo, como envelheceu!!! E aquele ator, ainda está vivo, mas seu rosto já não cabe mais nas personagens do passado. Ou talvez só sirva para aparecer coadjuvante numa série de TV.

A realidade é que encaramos nessas pessoas todas as marcas de nossa própria idade. Nos vemos idosos nos outros porque o espelho do banheiro tenta nos enganar todas as manhãs. Fazendo com que encontremos do outro lado alguém pelo menos dez anos mais moço.

sábado, 25 de novembro de 2023

A Inteligência Artificial vai nos diluir?

 

Ser escravos de máquinas inteligentes é uma possibilidade? Pelo menos livros e filmes, como um alerta, já exploraram, e muito, o tema.

Mas a chegada mais ou menos recente da Inteligência Artificial no nosso dia a dia começou nos anos 60. Com os chamados computadores.

Assisti, in loco e ao vivo, a entrada desses equipamentos na vida diária das empresas. Eram “armários,” quase do tamanho de guarda-roupas, colocados lado a lado em salas muito refrigeradas.

Na Racimec, para a qual eu prestava serviços, o material, números da movimentação de contas bancárias, eram primeiramente inseridos em cartões, depois transformados em fita de papel. Em seguida transferidos para outras fitas, possivelmente acetato, não sei muito bem, para então serem inseridos nos “armários”.

 Foi uma revolução rápida. Em poucos anos deixamos pra trás os últimos resquícios da Idade Média e ingressamos na modernidade de máquinas que podiam processar, em minutos, todo o movimento bancário do dia de centenas de agências. Hoje as operações são muito mais rápidas, claro!

Também rapidamente os computadores diminuíram de tamanho tornaram-se acessíveis e entraram definitivamente na vida das casas da classe média.

De onde podem estar de saída, substituídos pelos celulares. Celulares são computadores devidamente encolhidos.

Seu uso disseminado e a forma como estão sendo utilizados, também vem mudando nossas vidas. Hoje falar com alguém pelo celular perdeu importância, diante de outras possibilidades oferecidas. Como passar textos pelo Zap.

A idosa prerrogativa, criada por um senhor chamado Grahan Bell, está sendo definitivamente enviada para o museu dos objetos superados.

 O acesso às chamadas Redes Sociais, por exemplo, tornou-se muito mais importante do que um papo amigo sobre o cotidiano. Ou há um exagero nisso?

A revolução agora em curso, o ingresso em nosso dia a dia da Inteligência Artificial já está deixando muita gente “de cabelo em pé” (expressão há muito desaparecida).

Afinal vamos avançar por uma trilha que nos leva ao desconhecido. Vamos conseguir controlar a IA? Ou a humanidade, no futuro, vai servir apenas pra fazer a faxina do lugar onde estarão as maquinas produtoras de Inteligência.

Nos anos 60 o cineasta francês Jean Luc Goddard dirigiu Alphaville, um filme sobre um supercomputador que controlava corações e mentes a partir de um planeta em outra galáxia. E estava se convertendo numa ameaça à humanidade.  

O herói terráqueo, personificado pelo ator Eddie Constantine, chega no computador num Ford Galaxie (nem Goddard resistiu à piada) e recita um poema. O computador não consegue digerir, entra em choque e acaba por se desmantelar.

Bom, pelo menos no filme saímos vencedores.

 

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Mastroiani versus Jobim

Foi há muito tempo – mas esse é um blog que não se furta de escrever sobre o passado. (Até mesmo o “não se furta” já desapareceu, faz muitos anos, dos textos cotidianos).

Então foi há muito tempo, quando não havia TV por assinatura e a telinha era em preto e branco. Um programa exibido à tarde  - claro que não me lembro o canal - desbravava para o respeitável público algumas das peculiaridades da cidade de Roma.

Uma câmera colocada da janela de um prédio mostrava uma carruagem passando por uma rua do centro. O cavalo, no exato momento da gravação, resolveu depositar no asfalto uma razoável quantidade de fertilizante natural, acrescentando um novo detalhe ao que o ator Marcelo Mastroianni - o convidado de produção - acabara de lamentar: a bagunça e a sujeira nas ruas da cidade.

Mastroianni também estava escalado para responder perguntas via satélite e então chegou à vez do maestro Tom Jobim.

Jobim já tinha cantado com Frank Sinatra num programa da TV americana, era conhecido por muita gente mundo afora e ficou à vontade para perguntar como o ator “conseguia fazer aquele olhar, aquele charme que enlouquecia a mulherada”.

Mastroianni que talvez esperasse uma pergunta séria, sobre seus filmes, suas atuações, seu trabalho com os grandes diretores do cinema italiano, não ficou nem um pouco feliz com a pergunta.

Respondeu simplesmente: Tchau Tom Jobim!

 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Elétricas & Eólicas

 

A substituição de combustíveis fosseis por energia elétrica pode, se ainda der tempo, salvar o planeta de problemas gravíssimos que, aliás, já estão a caminho. Mas ainda não li na mídia, qualquer matéria consistente sobre como vai ser possível gerar eletricidade suficiente para, por exemplo, abastecer a frota de automóveis, ônibus e caminhões que roda pelo mundo. Para ficar só nesse grupo de produtores do efeito estufa.

É claro que outras formas de gerar energia limpa começam a entrar em uso: usinas solares (algumas pessoas chamam de fazendas ) e eólicas já se espalham pelo mundo. Mesmo no Brasil, onde a quase totalidade da energia elétrica é gerada por  hidroelétricas, a tendência é a mesma. No mundo de hoje hidroelétricas são caras e muitas vezes causam danos irreversíveis ao meio ambiente.

Em consequência os leilões do Governo Federal para a aquisição de energia elétrica são agora vencidos por quem está investindo em solares ou eólicas.

 Mas é uma corrida de obstáculos e não sabemos se a solução chegará antes que chuvas arrasadoras (ou ventos de mais de 300 quilômetros por hora) comecem a destruir cidades e plantações.

Até que o planeta não ofereça mais condições de vida para os humanos.

 

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Nas quatro linhas

 No futebol o Imponderável de Souza (tudo a ver com o Sobrenatural de Almeida do Nélson Rodrigues) nunca deixa de estar em campo. Apesar do VAR. E se manifesta quando o juiz – sem essa de árbitro – tem que decidir, e decide, se o puxão na camisa do atacante foi forte o suficiente ou não para que ele se projetasse em verdadeira grandeza dentro da área adversária.  

Desemprego em queda

 O G1 nos diz que a taxa de desemprego caiu em três das 27 unidades da federação. Subiu em Roraima e se manteve estável nos demais estados. O patamar é o mais baixo desde o trimestre terminado em fevereiro de 2015 e com recorde histórico de trabalhadores ocupados. Gosto de consultar o G1 porque nesse site o grupo Globo exprime a opinião da Classe Dominante.

Para os desavisados é bom lembrar que não existe opinião da Rede Globo, do Jornal O Globo, ou da Globonews. A opinião é de quem investe nos comerciais que sustentam a operação da empresa. Embora o grupo Globo tenha outras formas de auferir receitas, o Big Brother é um exemplo, nunca é tarde para lembrar que a família Marinho faz parte dessa comunidade que reúne os ricaços do país.

Recentemente a empresa passou para a Oposição e atacou bastante o governo Bolsonaro. Então é possível inferir que grande parte dos proprietários dos meios de produção não estava nada satisfeita com as políticas bolsonaristas. Inclusive a política econômica.

Não é difícil imaginar por que. Bolsonaro colocou o Brasil na contramão da atualidade. Assim, a troco de nada, um seu ministro atacou o capitalismo chinês, não estando nem aí para o fato de que a China é o maior parceiro comercial do Brasil.

Bolsonaro, uma pessoa com grande dificuldade para analisar o mundo em que vivemos, acreditava ser um paladino do anticomunismo que, na sua opinião, era o regime local desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.  

Durante mandato o ex-presidente expôs suas limitações diante do público. E gravou tudo. Ou deixou que gravassem tudo. Todas as imbecilidade e contradições proferidas no Brasil e no exterior, os constrangimento explícito de outros chefes de estado diante da alguém que não tem nada a dizer, ou não sabe o que dizer, tudo isso ficou gravado. 

E mais, os desafetos foram buscar no passado vídeos e declarações que contrastavam com a postura no presidente em exercício. Como por exemplo quando ele se manifesta contra a privatização da Eletrobrás por medo de que a empresa acabasse nas mãos de uma estatal chinesa.

Como não entende absolutamente nada de economia Jair Messias chamou para assumir o ministério, um desconhecido chamado Paulo Guedes. Alguém do – vamos ver se a imagem funciona – alguém do baixo clero entre os economistas. Resultado: nenhum.

Para quem apoiou o governo Bolsonaro e ainda apoia, o saldo positivo são algumas privatizações. Positivo para eles, claro.

Pessoalmente suspeito muitíssimo de privatizações. No caso da Vale do Rio Doce, no governo FHC, a corrupção ficou explicitada pelos lucros que a empresa obteve logo depois. Foram praticamente iguais ao preço pela qual a estatal foi vendida.

Claro que “doações” deste naipe, longe de despertar suspeições são freneticamente apoiadas pelo grande mídia, porque beneficiam a classe dominante que paga suas operações.

O desemprego diminui porque o objetivo do atual governo é deixar que o dinheiro flua para um maior número de mãos. Com mais dinheiro no bolso, pessoas que estão um pouco acima da linha de pobreza passam a consumir um pouco mais.

De início timidamente, porque antes é necessário pagar contas que ficaram em aberto no passado. Depois pessoas empregadas começam a desejar uma televisão nova, um carro usado. Em resumo tudo aquilo que faz a economia entrar no chamado ciclo virtuoso do consumo.

Então a queda na taxa de desemprego é sempre uma boa notícia.

 

Seleção Perdedora?

 Bom para a seleção brasileira que as eliminatórias da Copa do Mundo só vão recomeçar em 2024. O time que entrou em campo ontem, terça, 21 de novembro, começa ter a cara de time perdedor.

No futebol o psicológico, ou às vezes problemas internos que não chegam ao conhecimento do respeitável público, tornam “perdedores” equipes de nível razoável. Que despencam na tabela e acabam descendo de divisão.

Cruzeiro e Vasco estiveram recentemente na Segundona apesar de seus times não serem inferiores a alguns outros que se mantiveram na principal e mais lucrativa, Primeira Divisão. O Cruzeiro pode voltar.

Os narradores gostam de usar a expressão “cenas lamentáveis” para caracterizar a briga de torcidas que aconteceu antes mesmo do jogo começar. A polícia como sempre agrediu, com a violência habitual dos cassetetes, parte dos argentinos que estavam no Maracanã.

Mas é bom lembrar que ainda nessa eliminatória o Brasil joga na Argentina.  Argentina de Javier Milei o raivoso e agora presidente eleito. Milei, repetindo Bolsonaro, vai distribuir armas para a população.

Quanto ao futebol apresentado, cabe no velho chavão: dispensa comentários.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Novos Sentimentos

 No tempo de curso clássico, aos 17, 18 anos nós, estudantes de colégios públicos, mais ou menos politizados, tínhamos uma grande simpatia, talvez até um pouco de carinho pelos judeus e o estado de Israel. Afinal a Segunda Guerra Mundial tinha terminado há menos de vinte anos e esse pouco tempo nos remetia ao holocausto.

Israel também tendia a ser visto como uma espécie de meio termo entre o capitalismo feroz de Wall Street e o comunismo soviético. O Kibutz personificava essa tendência.

Em tempos recentes as atrocidades cometidas contra os palestinos está erodindo esse sentimento. E os judeus no poder em Israel assumem, sem problemas, o papel de vilões quando câmeras e microfones mostram a derrubada de casas de pessoas pobres. E assassinatos de inocentes.

A desculpa: ali viviam terroristas que planejavam atos contra o território israelense. A Associated Press e a Reuters nunca mencionam a consequência: o avanço de condomínios, para judeus endinheirados, sobre terras palestinas.

Só depois do episódio das “armas de destruição em massa” no Iraque de Sadan Houssein é que começamos a perceber que sempre somos tratados como idiotas pela mídia e tendemos a engolir mentiras primárias que não resistem a três minutos de reflexão.

O sentimento em relação aos judeus está passando pelo desprezo e com certeza esse povo pelo qual tínhamos carinho, está começando a ter que enfrentar o ódio centrado na figura de Benjamin Netanyahu.

As passeatas pelo mundo estão começando a deixar isso claro.

Origens

                         

Nasci numa família de classe média... média. Morávamos num casa de dois andares na Rua São Luiz Gonzaga em São Cristovão. O bairro num passado distante fora enobrecido pela presença do Imperador Dom Pedro Segundo.

Dom Pedro morava num casarão doado, ao império por um traficante de escravos, na Quinta da Boa Vista. Mas São Cristovão quando eu nasci há muito perdera o status de “bairro onde mora o Imperador”.

Era agora uma zona de comércio, e fábricas de porte médio (para a época) e principal passagem para subúrbios como Bonsucesso, Ramos e a Penha, Quando garoto eu achava que a cidade terminava ali, na Penha. Isso porque a Penha era o ponto final do bonde.

Nasci com o bonde passando na porta de casa, andei de bonde na Avenida Nossa Senhora de Copacabana incrivelmente na contramão em relação a todos os outros veículos.

Isso porque corria 1956 e o fluxo de carros, caminhões, ônibus no sentido Posto Seis, onde Copacabana terminava, já estava desviado para a Rua Barata Ribeiro. O prefeito de plantão não teve pique para acabar com os bondes; preferiu manter os trilhos onde estavam há décadas.

(Muitos anos depois assisti, já morando no Jardim Botânico, o fim dos bondes, o meio de transporte mais popular, simpático e barato que havia no Rio de Janeiro de então).

Meu pai tinha sido vendedor de aparelhos de TV, geladeiras, aspiradores de pó, numa loja da GE, marca antiga que de repente abandonou suas atividades no varejo. Fez então um concurso público e virou funcionário do IAPC, Instituto de Aposentadoria dos Comerciários.

Depois deu um jeito e foi trabalhar, à noite, como revisor no jornal Correio da Manhã, suponho que movido pelo desejo de seguir o status da profissão do pai dele, um jornalista que assinava as matérias. Nas redações da vida isso significa estar um degrau acima de repórteres, copy desks, redatores e vai por aí.

Dois tios meus eram bancários, um terceiro militava nas hostes da Polícia de choque da Ditadura Vargas. O mais velho, um coronel do Exército esteve no front italiano. Uma tia foi secretária do presidente da Caixa Econômica Federal e outra vivia de cobrar aluguel dos barracos de uma favela crescendo com o tempo no final do terreno do casarão.

Minha mãe casou e sempre foi “dona de casa”. No casarão também moravam uma irmã da minha avó, o marido – e primo dela - e a filha. A outra irmã da minha avó, solteira, povoou a minha infância com histórias que ela mesma inventava. No meu livro Breve Estada em Teresópolis escrevi que tia Teresa me ensinou a imaginar.

Meu avô, João Manoel Lebrão, morto aos 43 anos, tinha sido sócio do irmão, Manoel José Lebrão, na Confeitaria Colombo. Brigaram, meu avô saiu e montou a Casa Jardim (ou seria Casa & Jardim), também no Centro do Rio. Sua morte precoce fez com que a família passasse a depender do dinheiro do aluguel de duas ou três casas que ele tinha comprado anos antes.

Nasci na Maternidade Escola, em Laranjeiras, mas vivi no casarão de São Cristovão até os 12 anos. Então eu, meus pais e irmãos mudamos para o Leblon. Mas essa é uma história que até já contei. Pelo menos em parte.

 

 

O dia em que Getúlio morreu

Quando a gente envelhece lúcido, quando ainda não foi detonada a vontade de continuar aprendendo, é sempre possível lembrar momentos em que “estivemos” na História. Não exatamente no local onde os fatos estavam acontecendo, ou participando diretamente deles, mas vivendo no mesmo momento em que aconteciam. E sabendo que aconteciam.

Minha lembrança do dia 24 de agosto de 1954 é, ainda, clara como se eu estivesse vendo imagens no jornal da noite na TV: meu pai, na varanda da casa em São Cristóvão, terno e gravata, pronto para pegar o ônibus em direção ao Centro da cidade. Rotina normal de um dia de trabalho no IAPC, Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários.

Mas seu rosto branco, talvez a palavra “lívido” seja mais adequada, deixava clara sua perplexidade naquela manhã. Minutos antes, talvez pelo rádio, ou um telefonema de alguém, não sei, recebera a notícia do suicídio do Presidente Getúlio Vargas.

Antigetulista convicto, tinha feito um enorme balão com o rosto do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da União Democrática Nacional. Ele mesmo soltou o balão no final de último comício da campanha presidencial de 1950.

(Suponho que com ajuda de outros militantes porque segundo pessoas da minha família “de tão grande o balão chegou a ser visto em Niterói”, do outro lado da baia da Guanabara).

Naquele ano, 1950, Getúlio voltou a Palácio do Catete, desta vez pelo voto.

Quatro anos depois, eu tinha 11 anos e estava assustado, mais pelo rosto lívido do que pela dimensão da notícia, pensei em pedir a meu pai que não fosse trabalhar, com medo do que podia acontecer. Claro que não adiantava, nem tentei.

Acuado por uma Oposição raivosa, Getúlio tinha sua popularidade muito abalada. O atentado contra um dos membros da guarda pessoal do jornalista Carlos Lacerda, principal líder da Oposição - um oficial da aeronáutica foi morto a tiros - disparou a campanha pela derrubada do presidente.

Meu pai tinha trabalhado com Lacerda no Correio da Manhã, admirava seus discursos emotivos e era por formação fechado com a Direita.

O suicídio de Vargas mudou radicalmente o quadro. O presidente, vaiado dias antes no Maracanã lotado, quando sua presença foi anunciada antes de um jogo, teve seu caixão seguido pela maior multidão já vista nas ruas do Rio.

Lacerda e outros proeminentes membros da Oposição, segundo murmúrios da época, embarcaram num navio da Marinha que ficou alguns dias fundeado ao longo da costa do Rio da Janeiro.

Ao longo de 55 anos de convivência não me lembro de ter visto de novo tanta perplexidade no rosto do meu pai como naquele 24 de agosto de 1954.

 

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Conhaque Presidente

Nos tempos de repórter na Editoria de Polícia do Globo, terminada a apuração da matéria num subúrbio distante, eu sempre recorria a um botequim próximo. Bebia conhaque Presidente, um ou dois, e meu desempenho nas teclas da Remington não era afetado. Nunca foi.

Depois de algum tempo alguns dos motoristas do carro de reportagem (uma Rural Willys) até indicavam os melhores botequins onde parar para um trago no caminho de volta para a redação. Essa rapaziada conhecia cada rua, cada viela, cada atalho na cidade do Rio de Janeiro, numa época em que não existia GPS, claro. Corria o ano de 1966.

Os fotógrafos que trabalhavam, no horário entre sete e meia noite, às vezes me faziam companhia no conhaque. Na verdade só raramente, talvez temerosos do denunciante cheiro de álcool.

O editor da página de Polícia, Adriano Barbosa, ficava meio que na bronca quando, eu e Alvarenga descíamos, furtivos, para um trago num botequim da Rua de Santana, ali pertinho.

Voltávamos rápido. Eu para continuar a busca pelo telefone de outras possíveis matérias policais no Rio e Baixada: homicídios, desastres, prisões; ele para continuar o trabalho de copy desk dos últimos textos que, àquela hora da noite, já estavam a caminho das páginas da edição do dia seguinte.   

Yuval


Li há coisa de três anos, dois livros do Doutor em História pela Universidade de Oxford Yuval Noah Harari. Primeiro o badaladíssimo Sapiens - quando comprei estava na trigésima oitava edição no Brasil – e mais tarde o menos conhecido Homo Deus, um livro transformador. Pelo menos na minha visão.

Acho muito bom quando consigo encontrar, aprofundadas e atualizadas, ideias que estão numa espécie de rascunho da mente. Da minha mente. E também quando encontro ferramentas para aferição da realidade histórica como “Ordens Imaginadas”, por exemplo. O capitalismo, segundo Harari, é uma “Ordem Imaginada”. O cristianismo também.

No caso de Sapiens pude rever, muito aprofundados, claro, conceitos de antropologia que um dia visitei em aulas na Universidade do Brasil, hoje UERJ.

Bom, deixei a Faculdade de Ciências Sociais em 68, depois do Ato Institucional número 5 e a cassação de todos os professores que a ditadura tinha como inimigos. Mas isso já é outra história.

Voltando ao antropólogo Harari, sua previsão de que a partir do século 21 não iam acontecer mais guerras pelo mundo, sofreu sérios abalos com os acontecimentos na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Segundo Harari não existiriam mais motivações para lutas por “Insumos Essenciais”, ou assemelhados, e nem se justificariam disputas por território.

Infelizmente estava errado. Talvez tenha subestimado o conceito de “expansão territorial necessária” ou coisa parecida, no caso de Israel, que mesmo sem o pretexto agora oferecido pelo Hamas, desde sempre avança sobre os territórios palestinos. Com o prestimoso apoio dos Estados Unidos.

No caso da Ucrânia, Harari talvez tenha minimizado o cerco da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, ao território russo, ainda pouco explorado em sua área siberiana. E podendo conter, quem sabe? Uma quantidade de Insumos Essenciais, (o conceito é meu, acho) cobiçados pelo Ocidente.

Harari acha que Insumos Essenciais não são tão importantes no mundo de hoje em que a tecnologia e o conhecimento é que definem o poder nas sociedades de humanos. Como não é possível sequestrar os talentos do Vale no Silício a guerra não seria uma possibilidade. Estava errado.

Na Ucrânia estão descartadas as surradas teses tipo "segurança europeia” ou “existência de armas de destruição em massa” pretextos então usados para tornar propriedade de empresas norte-americanas o petróleo do Iraque e da Líbia, por exemplo.

Mesmo assim países que antes faziam parte do Pacto de Varsóvia vão sendo convertidos ao cerco do território russo que Estados Unidos e Europa promovem

Harari talvez tenha antecipado um salto no tempo que, parece, não virá tão cedo.  

  

Javier Milei

 Javier Milei está eleito presidente da Argentina. À primeira vista parece menos raivoso do que Jair Bolsonaro, embora também pretenda distribuir armas para que os argentinos possam matar a tiros cunhados indesejáveis, vizinhos mal educados ou desafetos em brigas de trânsito. Mas dá pinta (gostaram da expressão?) de que não protelaria a compra de vacina contra a Covid 19, por exemplo.

É sempre bom levar em conta que, se não fosse o então governador de São Paulo, João Dória, as mortes provocadas pela “gripezinha” de Bolsonaro, poderiam ter chegado a milhões. Doria peitou Bolsonaro dizendo que o estado de São Paulo ia abastecer o país de vacinas, o que acabou por provocar o recuo do então presidente.

Milei, no entanto, segundo murmúrios ouvidos nas calles de Buenos Aires, dirigirá o país seguindo preciosos conselhos de um cachorro de sua propriedade. Um pequeno detalhe: o cachorro já morreu e fala do Além.

Bom, nesse Além é possível que cachorros também consigam dar conselhos sobre como gerir uma economia com inflação absolutamente fora de controle.

 É interessante lembrar também que, em pleno desespero, a ditadura militar argentina do general Galtieri invadiu as Ilhas Malvinas.  Na esperança de distrair o dilacerado povo argentino que estava às portas de tomar o poder pela força.

Galtieri conseguiu mobilizar os argentinos por pouco tempo, mas não impediu a queda dos militares e a prisão de alguns deles.

Vamos esperar que Javier Milei, fascista de carteirinha, não pretenda, por exemplo, invadir o Brasil para tentar de novo distrair  a atenção do respeitável público do Rio da Prata, diante do já previsível fracasso de políticas ultraliberais mais ou menos sem pé nem cabeça.

Copy desk

Profissão (ou cargo?) o copy desk era alguém encarregado de rever erros e omissões e melhorar o texto nas redações do passado. Mas, ao que parece, esses profissionais desapareceram.

 Um sumiço sob o pretexto de corte nos custos, claro. (E por isso a qualidade dos textos caiu tanto ultimamente). No entanto é bom lembrar que escrever, transformar fatos em palavras a serem impressas, é um tipo de atividade mental, enquanto trabalhar sobre material escrito é outro processo.

A copy desk das minhas matérias no blog não tem comparecido ao trabalho porque está visitando filhas e netos no sul do país.

Então eventuais erros ou sentenças sem pé nem cabeça devem ser creditados a essa falta do profissional adequado.

domingo, 19 de novembro de 2023

Alcoolismo

 

Uma das mais duras consequências do alcoolismo é a percepção de que as pessoas ao redor, parentes, amigos, por mais compreensíveis que tentem ser, quase sempre acreditam que não é doença e ligam o fato de beber demais a uma incessante busca de prazer.

Um segundo item, também muito doloroso, é a depressão que se segue à ressaca, quando você pára de beber porque seu organismo não aguenta mais.

A terceira é a sensação, não tão verdadeira assim, de que sua memória está se deteriorando por causa da bebida. É possível, mas a idade e a massa de informações que recebemos todo dia também contribuem para os pequenos e detestáveis “esquecimentos” diários.

Na Praia

 

E havia a praia, a praia dos anos 50, agora só uma lembrança boa. Boa e suave para quem viveu aqueles dias, quase inocentes quando vistos sob lentes do século 21. Na adolescência pisar as areias do Leblon era acessar um mundo novo em que com certeza eu tinha lugar. E um lugar especial para quem deixara São Cristóvão, bairro industrial da Zona Norte do Rio, feio, deserto depois das seis da tarde, por um apartamento na Avenida Ataulfo de Paiva, com vista total para o mar e na “fronteira” com Ipanema: as ilhas Cagarras bem ali na frente da janela da sala.

Estar na praia nos fins de semana e durante as férias escolares, fincar na areia o guarda sol (nós chamávamos de barraca) junto aos guarda sois dos amigos, das meninas do prédio e vizinhança era um ritual de prazer. Era como tomar conta de boa parte da felicidade que andava solta por lá.

Nessa época o chegar das ondas, a espuma branca no topo, o encontro final do Oceano Atlântico com as areia da “nossa” praia dava certeza absoluta, de que o tempo estava virtualmente parado e aqueles anos, de rostos dourados pelo sol, iam durar pra sempre.

E, claro, nós nunca íamos precisar viver no desagradável universo de nossos pais.

Nos dias de semana das férias não havia praias desertas, e era razoável a distancia entre conjuntos de guarda sóis, que abrigavam outros grupos de adolescentes. Vizinhos, conhecidos dali mesmo da praia, colegas de colégio. A nossa turma, a turma da próxima rua. Eram momentos mágicos, mas então não percebidos. Final dos anos 50/início da segunda metade do século 20.

Eu frequentava as areias do Leblon, mas às vezes, não consigo muito justificar por quê, esticava até o Arpoador. Caminhando pela areia, meio que solitário, pisando a água fria naquele espaço até onde as ondas se esticam.

Quando voltava, entrava pela Montenegro (chamada hoje Vinícius de Morais) até o cruzamento com a Prudente de Morais. Só pra passar em frente ao Veloso, na esperança de encontrar ao lado de um chope gelado, algum gênio da Bossa Nova. Há muitos anos o Veloso se chama Garota de Ipanema.

Nunca encontrei Tom Jobim, Vinícius, Carlos Lira, Newton Mendonça nas cadeiras e mesas espalhadas na calçada.   Mais tarde no Pasquim, alguém escreveu queintelectual não vai à praia; intelectual bebe”.

Achei que os autores da Bossa Nova deveriam estar catalogados na pasta “intelectuais” e decidi que não valia a pena passar no Veloso quando voltava do Arpoador. Intelectual geralmente bebe à noite.

Reduzi um pouco o percurso entre Ipanema e meu lugar na praia do Leblon próximo ao Canal do Jardim de Alá.

 

 

 

sábado, 18 de novembro de 2023

Oitenta Anos

 

Estou com 80 anos. A mesma idade (a variação pode ser de um, dois anos) de caras que admiro como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Marcos Valle.  Todos eles ainda em atividade e contrariando percepção de que o tempo, se não reduz a qualidade do que produzimos pelo menos afeta nossa criatividade. Todos continuam produzindo e com qualidade.

Mas críticos em diferentes áreas daquilo que costumamos chamar de Cultura Popular nem sempre concordam. (Tenho alguma resistência a palavra Cultura quando usada para definir apenas uma pequena parte de um todo muito mais complexo, mas vá lá) Então a tendência é acharmos que há uma espécie de “ápice” na carreira desses eleitos por Deuses sábios. E dedicados ao estudo do que humanos podem fazer de bom.

Um exemplo: nos últimos romances de Machado de Assis, Memorial de Aires, Esaú e Jacó, a ótima qualidade do texto se mantém, mas o “ápice” da obra machadiana são Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ninguém discute.

No entanto ouvindo Que Tal um Samba, samba recente de Chico Buarque que faz uma leitura brilhante dos tempos feios de Jair Bolsonaro no poder, tendo a colocar Memorial de Aires, livro que gosto muito, no mesmo nível de Quincas Borba, aliás, meu preferido. Que tal um samba é tão inventivo quanto Construção, por exemplo.

É discutível que o melhor de cada autor fique aprisionado entre um início inventivo, mas com menor qualidade do texto (ou da música, ou da gravura) e um final em que as pessoas dominam inteiramente a técnica, mas são menos criativas.

Tudo isso para uma reflexão pessoal: acho que não vale a pena, mesmo aos 80 anos, deixar pra trás, ainda, a capacidade de escrever. É claro dentro dos limites do repórter da editoria de polícia de O Globo e outras editorias em outros jornais. Filho e neto de outros repórteres de redações em algum lugar no passado.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Hezbollah

Depois que Lula marcou posição, inclusive na mídia internacional, contra o massacre de palestinos, começaram a aparecer denúncias de que o Hezbollah pretendia fazer ataques terroristas no Brasil. Quem denuncia são os serviços de inteligência de Israel que não conseguiram prever o ataque do Hamas em seu território. Vocês ainda se lembram das “armas de destruição em massa” no Iraque? Nunca existiram. Em compensação Saddan Hussein foi enforcado e o petróleo iraquiano pertence hoje a empresas americanas.