A reforma da
Previdência versão Jair Bolsonaro pode ser um pouco mais radical do que a de
Michel Temer, mas, apesar dos novos tempos, as dificuldades para sua aprovação são
iguais ou ainda maiores. Como sinalizado pelos congressistas.
Essa
rapaziada, que depende dos votos do respeitável público, já sentiu que o
ex-capitão não tem tanto poder quanto ele e seus filhotes arrotavam na campanha
e vai querer uma grana preta para dar aval a nova aventura da Direita no
Congresso.
Por outro
lado, parte da classe média, estudantes, sindicatos, operários, intelectuais,
artistas, carnavalescos bem humorados, já começam a se movimentar contra o
governo do capitão, nas chamadas redes sociais, blogs e sites. E até mais cedo
do que os especialistas (sociólogos e coisa e tal) esperavam.
Isso acontece
pela percepção dos estragos que a Reforma da Previdência vai causar nos já
combalidos bolsos? Ou porque a cada dia fica mais perceptível que o rei está
ficando nu? Ou ainda porque há uma alternativa militar menos idiota do que
Bolsonaro & Filhotes?
É fato que muita
gente boa sabe que há outras soluções para a Previdência Social fora do desejado
por empresários e banqueiros.
As solução
começa, atenção começa! pela cobrança
de dívidas ancestrais das grandes empresas brasileiras, bancos, multinacionais
aqui instaladas, executivos com muita grana em ilhas do Mediterrâneo e Caribe,
usuários contumazes do Refis e simples ladrões do erário publico, com dinheiro
amontoado em endereços de classe média.
Não resolve o
problema, é claro, mas dá o pontapé inicial na solução.
Prossegue com
repressão aos impostos sonegados - um aborto biliardário só existente graças ao
cipoal de leis permissivas que congressistas, submissos a seus patrocinadores,
vêm impondo aos contribuintes ao longo da história recente.
O próprio capitão/presidente
já afirmava, antes de se candidatar, em suas memoráveis aparições na internet (veja
no Google “As 17 vezes em que Bolsonaro foi Bolsonaro”) que “sonegava
tudo o que podia”. Nos Estados Unidos quem sonega vai em cana.
O processo deve
abranger ainda uma reforma fiscal que inclua um sistema de impostos
proporcional ao ganho de cada contribuinte, priorizando uma cobrança - pode ser
tipo CPMF - em que seja mais complicado sonegar.
Na ausência
de outras soluções, que podem até ser mais criativas, o que se tem é o exposto
em epígrafe. Aliás, essas soluções, disseminadas com pequenas variações, pelo
imaginário da população esclarecida, são mais idosas do que andar pra frente.
A Reforma de
Previdência por si só, não vai implodir de vez o anêmico poder de compra dos
brasileiros. Mas vai contribuir.
Deve-se levar
em conta que o país firma posição entre os quatro ou cinco piores do mundo no
capítulo desigualdade. Os outros - é só clicar no Google! - estão na África e
na Ásia subdesenvolvida.
Mesmo assim a
classe dominante não sabe como lidar com o problema, em que ela mesma às vezes
é vítima, com acionistas tendo que vender seus ativos para ingressar no
pantanal do mercado de títulos.
Existem
soluções à vista. Claro, e até foram implementadas um pouco timidamente pelo
governo Lula. Lembra da frase “o dia em que o salário mínimo chegar a 100
dólares a classe operária vai estar no paraíso”. Ou mais ou menos isso. Chegou a 300.
Pois é, naquele
momento cinquenta milhões de brasileiros deixaram alegremente a pobreza, o PIB
saiu da 15ª posição para a 7ª, empresários, banqueiros, rentistas &
assemelhados lucraram como nunca.
Mesmo assim
aturar na Presidência da República um torneiro mecânico pobre, com diploma de
curso médio, oriundo de movimentos grevistas era um pouco demais.
Inadmissível
para uma elite primitiva e arrogante que deu o troco assim que pode derrubando
Dilma Roussef.
É preciso não
esquecer o que a História nos conta: essa elite descende – pelo menos quanto a métodos,
comportamentos e atitudes - dos portugueses aventureiros (que passaram a ocupar
a Terra de Santa Cruz a partir do século 16. Alguns deles arrebanhados à força,
pobres desempregados das cercanias pontos de partida das rotas comerciais.
O problema é
que o DNA dos primeiros ocupantes ainda persiste, 518 anos depois, nos corações
e mentes dos empresários brasileiros.
Num contexto
em que até a exportação de grãos e minerais pelotizados está sob ameaça, só a formação
de um mercado interno vigoroso sinaliza como saída natural para um país que tem
uma das maiores populações do mundo.
Mas mercado
vigoroso só é viável com a superação das desigualdades.
Não tem mais
essa de fazer o bolo crescer para depois dividir, como queria nos anos 60 o ministro
da Fazenda e mais tarde do Planejamento Antônio Delfim Neto.
E nem deu
certo na época. Delfim e os militares que acreditavam nas fórmulas de um
liberalismo, digamos um pouco menos refinado, foram defenestrados pelas greves
no ABC, pelas multidões nas ruas pedindo democracia e pela percepção da classe dominante,
naquele momento, de que a queda da ditadura era uma espécie de antídoto contra uma
mudança social mais drástica que podia estar a caminho.
È claro que o
poder não vai mudar de mãos, apenas
porque Jair Bolsonaro está demonstrando, já nos seus primeiros dias, que é
mesmo incapacitado para o cargo. (Ele mesmo admitiu na TV que foi colocado ali
pelo deus dos evangélicos) A alternativa militar – com uma passagem sem maiores
traumas da faixa presidencial para o vice – está muito mais próxima do que a
vitória das oposições numa hipotética eleição futura.
Quem viver...
etc, etc.