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sábado, 14 de dezembro de 2019

Sobre Messias e Jesus




Senhor Capitão Jair Messias Bolsonaro

Presidente do Brasil

Senhor:

Sabedor das atribulações pelas quais seu governo está passando, mesmo depois das reformas que vão fazer sumir com as aposentadorias do povão;

Sabedor também das decepções produzidas pela eminente volta de Cristina Kirchner ao Poder na Argentina;

E das aborrecidas intervenções perpetradas todo dia por fundamentalistas do verde, tentando impedir que se reproduza o agradável som das motosserras nas florestas;

E, nesse mesmo capítulo, sabedor dos entraves colocados à extirpação de áreas destinadas aos incultos e perniciosos índios;

E sabedor, ainda, da injusta imputação de que o senhor é o seca pimenteira do glorioso Palestra Itália, apenas e tão somente por ter recebido das mãos do técnico Felipão (nosso bravo comandante no 7 X 1) a taça de campeão paulista;  

Sabedor, finalmente, de que o Planalto monitora, aflito, os movimentos populares que estão irrompendo mundo afora (Chile, Bolívia, Hong Kong etc., etc) e, com isso, provocando danos razoáveis às funções intestinais no comando do Planalto, com maior incidência entre militares, é claro.

Sabedor de tudo isso, venho apresentar uma sugestão que, segundo creio, poderá colocar o país nos conservadores trilhos que V. Exa. planeja com seus auxiliares.

As vantagens da contribuição é que nela não se verão configurados óbices políticos e burocráticos, pressões do Legislativo, intempestivas chiações da esquerda irresponsável e protestos conservacionistas nas portas da Abadia de Westminster. 

Devo avisá-lo de que se trata de uma solução restrita a países (na realidade temo que estejamos sós nessa posição privilegiada) que possuem interlocutores diretos com o poder celestial.

Estou me referindo, claro, a Sra. Ministra da Mulher Damares Alves que, sabemos todos, há algum tempo teve um encontro com Nosso Senhor Jesus Cristo nas proximidades de uma goiabeira.

Segundo soubemos pela própria Sra. Alves, sua participação nesse encontro foi de suma importância para evitar um pequeno acidente, que poderia causar consternação a toda humanidade, já que o Senhor Jesus estava prestes a cair do galho da goiabeira em epígrafe.

Sinceramente, senhor presidente, não sei o que o filho do bom Deus dos católicos estaria fazendo num perigoso galho de goiabeira e tenho muitas dúvidas de que uma personagem capaz de caminhar sobre as águas, segundo textos da bíblia católica, corresse qualquer risco de cair da goiabeira.

Mas respeitemos os temores da Sra. Damares.

Tendo a presidência da República, nesse momento sob sua tutela, minha sugestão é usar o canal da Sra. Damares para um novo encontro com Jesus.

Pode também o governo, à guisa de reconhecimento, prometer à ministra que vai solicitar aos fabricantes de roupas infantis o uso exclusivo, a partir de agora, das cores azul, para meninos e rosa para as meninas. Talvez surjam problemas com algumas grifes, mas tudo contornável, creio.

Sugiro, portanto, que o senhor peça a Sra. Damares um segundo encontro com Jesus Cristo, desta vez com a sua participação e de pessoas de sua confiança.

Nessa conferência poderão ser solicitadas da autoridade celestial, infalíveis soluções para o país.

O senhor poderá então, solicitando regime de urgência celeste, pedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja prontamente remetido para as brancas pradarias siberianas onde, confortavelmente, esperamos, poderá papear agradavelmente e pelo resto de seus dias sobre o socialismo real, na companhia de renitentes comunistas também enviados para aquela aprazível estação de inverno depois da queda do muro de Berlim.

Sei ainda de suas preocupações com os desabotinados* do STF que, de repente, soltaram o Lula e ameaçam prender o Moro e o Dallagnol.

*preferi não usar a palavra “aloprados” que, como sabemos todos, faz parte do glossário petista.

Bem, presidente, embora ninguém no mundo saiba como deverá ser uma recepção ao Todo Poderoso, creio que a informalidade deve dominar o encontro.

Assim, sugiro que o senhor mande colocar cadeiras confortáveis no Jardim do Palácio. (Qualquer evidência de goiabeiras por perto deve ser imediatamente eliminada!!!)

Jesus, pelo que aprendi nos catecismos, prefere os ambientes abertos a coisas que lembrem repartições romanas na Palestina.

Também soube, outro dia, que o Filho de Deus tem meios próprios de locomoção e por isso não haverá necessidade do senhor mandar buscá-lo num jato da FAB.

Quanto ao protocolo propriamente dito, minha percepção indica que deverá ser o mais simples possível, mas não podemos esquecer que Jesus bebe vinho. Por favor, pergunte a assessores mais graduados que escolham o ano da safra. E come pão. Escolha, por favor, uma padaria decente aí em Brasília. Peixes também poderiam, talvez sob a forma de pastinhas para passar no pão, ser incluídos no repasto.

Quem sabe depois dos cumprimentos formais – o senhor não precisará identificar-se, pois é certo que Jesus conhece seu rebanho – os dois possam dedicar alguns segundos a um trivial papo sobre futebol? Taça Libertadores e coisa e tal... Não, melhor deixar pra lá, presidente, Jesus, dizem, é sócio torcedor do Flamengo, com participação mais ou menos ativa nas festas na favela.

Nesse capítulo introdutório aos pedidos de intervenção celeste, seria de bom alvitre evitar a sua preferida escolha de piadas sobre pênis japoneses. Afinal, foi o pai do homem, que estará a sua frente, o criador do gênero humano e, como seu filho, com certeza conhece sobejamente a métrica dos instrumentos de procriação asiáticos.

Sugiro também, que o senhor não exiba aquele vídeo que postou durante o último carnaval, mostrando esguichos de urina prodigalizados por gays festeiros durante a festa pagã. Sei que o senhor só o fez pelo interesse que tem em mostrar à autoridade celestial os males e as exorbitâncias que acontecem durante o período, mas é bom lembrar que Cristo ainda não se bandeou para as hostes neopentecostais que reivindicam o fim do chamado Trio Momesco.

Depois de sua exposição, que não deve ultrapassar dez minutos, já que alongado o período Jesus corre o sério risco de ouvir o senhor dissertar sobre os infames radares nas estradas, a indústria de multas ou ainda sobre a ridícula lei que obriga o uso de cadeirinhas para crianças nos automóveis.

Como não creio que Cristo compartilhe de suas convicções, sugiro uma eficaz intervenção de Dona Damares providenciando alguns docinhos para que Nosso Senhor possa ter uma ideia dos sabores de Brasília.

 (Atenção, Dona Damares, é preferível a senhora perguntar se o repasto servido deve ser kasher!!!) É bom lembrar que, antes de ter provocado Caifás e ser crucificado pelos romanos amigos dele, Jesus era judeu.

É mais provável que, premido pelas circunstâncias de ter se transformado em ícone dos cristãos, Jesus tenha abolido a comida judaica.

Então, presidente, passados os primeiros momentos e feitas as reivindicações de seu governo, é hora de assomarem ao encontro o hábil astrólogo Olavo de Carvalho e o bravo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo.

Eles estão, já se sabe, ansiosos para revelar ao bom Jesus que, ao contrário do que se pensa, a terra é plana, Galileu Galilei, Nicolau Copérnico e os Fernãos de Magalhães da vida, segundo os dois sábios, não passam de idiotas.

E quanto aos astronautas que dizem que a Terra é Azul são apenas atores de segunda linha, trabalhando em montagens cenográficas do Canal Discovery, produzidos nas cercanias de Piccadilly Circus, mais exatamente nos estúdios da BBC de Londres e exibidas na TV por assinatura.

Jesus é paciente, todos nós sabemos, mas a essa altura do campeonato poderá estar pensando que seu pai, o criador, pode ter cometido um engano quando calibrou errado a Inteligência de cabeças coroadas do Planalto.

Ou talvez, num momento de desatenção, quem sabe, o cérebro das mulas de Nazaré tenha sido transplantado, por engano, para titulares dos ministérios em Brasília.

Eis, senhor presidente, minha (me recuso a achar modesta) contribuição para seu governo.