Senhor Capitão Jair Messias Bolsonaro
Presidente do Brasil
Senhor:
Sabedor das atribulações pelas
quais seu governo está passando, mesmo depois das reformas que vão fazer sumir com
as aposentadorias do povão;
Sabedor também das decepções
produzidas pela eminente volta de Cristina Kirchner ao Poder na Argentina;
E das aborrecidas intervenções perpetradas
todo dia por fundamentalistas do verde, tentando impedir que se reproduza o
agradável som das motosserras nas florestas;
E, nesse mesmo capítulo, sabedor
dos entraves colocados à extirpação de áreas destinadas aos incultos e perniciosos
índios;
E sabedor, ainda, da injusta
imputação de que o senhor é o seca pimenteira do glorioso Palestra Itália,
apenas e tão somente por ter recebido das mãos do técnico Felipão (nosso bravo
comandante no 7 X 1) a taça de campeão paulista;
Sabedor, finalmente, de que o
Planalto monitora, aflito, os movimentos populares que estão irrompendo mundo
afora (Chile, Bolívia, Hong Kong etc., etc) e, com isso, provocando danos
razoáveis às funções intestinais no comando do Planalto, com maior incidência
entre militares, é claro.
Sabedor de tudo isso, venho
apresentar uma sugestão que, segundo creio, poderá colocar o país nos
conservadores trilhos que V. Exa. planeja com seus auxiliares.
As vantagens da contribuição é
que nela não se verão configurados óbices políticos e burocráticos, pressões do
Legislativo, intempestivas chiações da esquerda irresponsável e protestos conservacionistas
nas portas da Abadia de Westminster.
Devo avisá-lo de que se trata de
uma solução restrita a países (na realidade temo que estejamos sós nessa
posição privilegiada) que possuem interlocutores diretos com o poder celestial.
Estou me referindo, claro, a Sra.
Ministra da Mulher Damares Alves que, sabemos todos, há algum tempo teve um
encontro com Nosso Senhor Jesus Cristo nas proximidades de uma goiabeira.
Segundo soubemos pela própria Sra.
Alves, sua participação nesse encontro foi de suma importância para evitar um
pequeno acidente, que poderia causar consternação a toda humanidade, já que o
Senhor Jesus estava prestes a cair do galho da goiabeira em epígrafe.
Sinceramente, senhor presidente,
não sei o que o filho do bom Deus dos católicos estaria fazendo num perigoso
galho de goiabeira e tenho muitas dúvidas de que uma personagem capaz de
caminhar sobre as águas, segundo textos da bíblia católica, corresse qualquer
risco de cair da goiabeira.
Mas respeitemos os temores da Sra.
Damares.
Tendo a presidência da República,
nesse momento sob sua tutela, minha sugestão é usar o canal da Sra. Damares
para um novo encontro com Jesus.
Pode também o governo, à guisa de
reconhecimento, prometer à ministra que vai solicitar aos fabricantes de roupas
infantis o uso exclusivo, a partir de agora, das cores azul, para meninos e
rosa para as meninas. Talvez surjam problemas com algumas grifes, mas tudo
contornável, creio.
Sugiro, portanto, que o senhor
peça a Sra. Damares um segundo encontro com Jesus Cristo, desta vez com a sua
participação e de pessoas de sua confiança.
Nessa conferência poderão ser
solicitadas da autoridade celestial, infalíveis soluções para o país.
O senhor poderá então,
solicitando regime de urgência celeste, pedir que o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva seja prontamente remetido para as brancas pradarias siberianas
onde, confortavelmente, esperamos, poderá papear agradavelmente e pelo resto de
seus dias sobre o socialismo real, na companhia de renitentes comunistas também
enviados para aquela aprazível estação de inverno depois da queda do muro de
Berlim.
Sei ainda de suas preocupações
com os desabotinados* do STF que, de repente, soltaram o Lula e ameaçam prender
o Moro e o Dallagnol.
*preferi não usar a palavra
“aloprados” que, como sabemos todos, faz parte do glossário petista.
Bem, presidente, embora ninguém
no mundo saiba como deverá ser uma recepção ao Todo Poderoso, creio que a informalidade
deve dominar o encontro.
Assim, sugiro que o senhor mande
colocar cadeiras confortáveis no Jardim do Palácio. (Qualquer evidência de
goiabeiras por perto deve ser imediatamente eliminada!!!)
Jesus, pelo que aprendi nos
catecismos, prefere os ambientes abertos a coisas que lembrem repartições
romanas na Palestina.
Também soube, outro dia, que o
Filho de Deus tem meios próprios de locomoção e por isso não haverá necessidade
do senhor mandar buscá-lo num jato da FAB.
Quanto ao protocolo propriamente
dito, minha percepção indica que deverá ser o mais simples possível, mas não
podemos esquecer que Jesus bebe vinho. Por favor, pergunte a assessores mais graduados
que escolham o ano da safra. E come pão. Escolha, por favor, uma padaria
decente aí em Brasília. Peixes também poderiam, talvez sob a forma de pastinhas
para passar no pão, ser incluídos no repasto.
Quem sabe depois dos cumprimentos
formais – o senhor não precisará identificar-se, pois é certo que Jesus conhece
seu rebanho – os dois possam dedicar alguns segundos a um trivial papo sobre
futebol? Taça Libertadores e coisa e tal... Não, melhor deixar pra lá,
presidente, Jesus, dizem, é sócio torcedor do Flamengo, com participação mais
ou menos ativa nas festas na favela.
Nesse capítulo introdutório aos
pedidos de intervenção celeste, seria de bom alvitre evitar a sua preferida
escolha de piadas sobre pênis japoneses. Afinal, foi o pai do homem, que estará
a sua frente, o criador do gênero humano e, como seu filho, com certeza conhece
sobejamente a métrica dos instrumentos de procriação asiáticos.
Sugiro também, que o senhor não
exiba aquele vídeo que postou durante o último carnaval, mostrando esguichos de
urina prodigalizados por gays festeiros durante a festa pagã. Sei que o senhor
só o fez pelo interesse que tem em mostrar à autoridade celestial os males e as
exorbitâncias que acontecem durante o período, mas é bom lembrar que Cristo
ainda não se bandeou para as hostes neopentecostais que reivindicam o fim do
chamado Trio Momesco.
Depois de sua exposição, que não
deve ultrapassar dez minutos, já que alongado o período Jesus corre o sério risco
de ouvir o senhor dissertar sobre os infames radares nas estradas, a indústria
de multas ou ainda sobre a ridícula lei que obriga o uso de cadeirinhas para
crianças nos automóveis.
Como não creio que Cristo
compartilhe de suas convicções, sugiro uma eficaz intervenção de Dona Damares providenciando
alguns docinhos para que Nosso Senhor possa ter uma ideia dos sabores de Brasília.
(Atenção, Dona Damares, é preferível a senhora
perguntar se o repasto servido deve ser kasher!!!) É bom lembrar que, antes de
ter provocado Caifás e ser crucificado pelos romanos amigos dele, Jesus era
judeu.
É mais provável que, premido pelas
circunstâncias de ter se transformado em ícone dos cristãos, Jesus tenha
abolido a comida judaica.
Então, presidente, passados os
primeiros momentos e feitas as reivindicações de seu governo, é hora de
assomarem ao encontro o hábil astrólogo Olavo de Carvalho e o bravo ministro
das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo.
Eles estão, já se sabe, ansiosos
para revelar ao bom Jesus que, ao contrário do que se pensa, a terra é plana, Galileu
Galilei, Nicolau Copérnico e os Fernãos de Magalhães da vida, segundo os dois
sábios, não passam de idiotas.
E quanto aos astronautas que
dizem que a Terra é Azul são apenas atores de segunda linha, trabalhando em
montagens cenográficas do Canal Discovery, produzidos nas cercanias de Piccadilly
Circus, mais exatamente nos estúdios da BBC de Londres e exibidas na TV por
assinatura.
Jesus é paciente, todos nós
sabemos, mas a essa altura do campeonato poderá estar pensando que seu pai, o
criador, pode ter cometido um engano quando calibrou errado a Inteligência de cabeças
coroadas do Planalto.
Ou talvez, num momento de
desatenção, quem sabe, o cérebro das mulas de Nazaré tenha sido transplantado,
por engano, para titulares dos ministérios em Brasília.
Eis, senhor presidente, minha (me
recuso a achar modesta) contribuição para seu governo.