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segunda-feira, 25 de março de 2019

Bolsonaro já subiu no telhado?


  

Do Brasil 247, matéria de Florestan Fernandes:

“Na próxima semana, (esta semana) a Fiesp reunirá em torno do vice-presidente, general Hamilton Mourão, 500 empresários que querem soluções rápidas para a crise de governabilidade instalada no Planalto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirma em entrevista ao Estadão que o governo Bolsonaro é um deserto de ideias”.

Pois é. A possível queda do capitão pode já estar em andamento.

Talvez os desvarios do presidente eleito tenham produzido efeitos devastadores na expectativa da classe dominante. Banqueiros, agronegócio, rentistas, grandes industriais, executivos de multinacionais, que pretendiam colocar no Planalto alguém de sua inteira confiança, como Geraldo Alckmin, por exemplo, deram com os chamados burros n’água.

Não deu muito certo e quem sonhava com um político domesticado no poder, acabou tendo que se contentar com um projeto canhestro de um candidato que prometia simplesmente exterminar com qualquer coisa que cheirasse a comunismo, socialismo, direitos humanos, ecologia, defesa de terras indígenas e quilombos.

E só. Mas Bolsonaro talvez pudesse ainda ser usado para seus propósitos.

No primeiro momento deu certo. O capitão extinguiu os direitos dos trabalhadores, incluindo aí o próprio ministério do Trabalho. No embalo tenta, com algum sucesso, fazer o mesmo com os sindicatos.

A classe média, que é capaz de vender a alma para parecer que faz parte da classe dominante, aplaudiu entusiasticamente o que poderia ser uma opção pelos ricos.

Moradores de comunidades e afins, por sua vez, acreditaram que o candidato do PSL iria exterminar a bandidagem. Logo ele, vizinho e bem relacionado com um grupo poderoso de milicianos, apologista da posse de armas que, com certeza, vão ser usadas em brigas de vizinhos.

Bolsonaro se elegeu e a classe dominante teve, nos primeiros instantes a impressão que poderia conduzi-lo para seus interesses, mas o capitão mostrou que seus delírios só levam mesmo a riscos de sérios prejuízos.

Os homens do agronegócio, entusiastas da eleição do capitão reformado, já sentiram na pele o custo do engano.

É possível que outros segmentos da classe dominante já tenham compreendido que Bolsonaro não tem a menor noção do que é governar o Brasil.

Essa semana general Santos Cruz, secretário de Governo, bateu de frente com Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, ex-muçulmano agora católico, autodenominado filósofo, apesar de ter completado apenas o segundo grau. O guru chamou os militares de cagões.

Como a troca de Bolsonaro pelo general Hamilton Mourão não provoca o mínimo chilique nas roletas da Bolsa de Valores e o presidente parece ter muita dificuldade em aprovar a reforma da Previdência, é possível que o encontro do vice-presidente com a rapaziada da FIESP seja o pontapé inicial na derrubada do governo.

PS. Temer é solto por um desembargador que passou sete anos afastado do cargo por estelionato, segundo o Estadão. A Lava Jato vai reagir?



  




quinta-feira, 21 de março de 2019

Comemorações comedidas, por favor




É provável que uma parte da população brasileira aproveite a noite de hoje para comemorar a prisão de Michel Temer e Wellington Moreira Franco. Mas recomenda-se uma comemoração comedida. No momento, quando parte do território brasileiro está sendo doado para a instalação de uma base americana no Maranhão, a euforia não cabe.

Temer e Moreira são figuras menores no processo de desmonte da frágil democracia brasileira, embora o ex-presidente tenha sido o serviçal escolhido para abrir as portas do inferno.

Temer, até pelos ternos brancos de linho que gosta de usar, é o protótipo dos ditadores que vicejavam pela América Central nos anos 50, como Rafael Leônidas Trujjilo, Anastácio Somoza Garcia, entre outros, rapidamente esquecidos na poeira da história. Mas ao contrário dessa rapaziada, que governou com mão de ferro, Michel Temer é apenas um pequeno ladrão.

Moreira Franco, um ex-trotskista, que caminhou para a direita sob a égide da família Amaral Peixoto, foi prefeito de Niterói e posteriormente cometeu uma das mais desastrosas administrações já vivenciadas pelos habitantes do estado do Rio de Janeiro. Foi amigo, um tanto íntimo de seu personal trainer, que acabou morto pela polícia dias depois de ser pego com os pés sobre a mesa do governador.

Moreira, não nos esqueçamos, é sogro de Rodrigo Maia, presidente da Câmara de Deputados, o que acrescenta novos ingredientes ao turbulento caldeirão da política nacional.

O filme de horror protagonizado pela dupla, com participação especial de empresários, ou seja, com a participação especial da elite do poder, teve o roteiro mudado quando Bolsonaro ganhou as eleições de 2018.

Atores principais, coadjuvantes e figurantes com mais de alguns segundos na tela ficaram, de repente, com um sério problema nas mãos. O ocupante do Palácio do Planalto quer muito, é bom que se diga, agradar banqueiros, financistas, executivos de multinacionais, industriais e demais membros da classe dominante, mas sua inteligência não é das mais brilhantes e seu desconhecimento da realidade brasileira é total.

E assim, o final do filme se encaminha para o que normalmente chamamos de tragédia. E não raro grandes tragédias na tela levam de roldão até mesmo personagens que aparecem com destaque nos créditos.

Serviçais da Elite do poder como Temer e Moreira Franco, às vezes, são presos porque se tornam vítimas de desajustes do tipo Lava Jato - programa idealizado inicialmente para afastar Luis Inácio Lula da Silva de um terceiro mandato presidencial - mas que fugiu do controle. Pela simples razão de estar sendo manejada por interesses contraditórios.

A comemoração deve ser comedida porque os custos dos desatinos cometidos por Bolsonaro & asseclas podem conduzir o país para o interior das portas abertas por Michel Temer.

Bolsonaro e a cessão do Cerrado aos EUA




Jair Bolsonaro disse, ainda nos Estados Unidos, que vai ceder uma parte do território maranhense ao governo americano.

Depois de instalada a base militar em Alcântara, nenhum cidadão brasileiro poderá colocar os pés na área. Os americanos já deixaram claro que ninguém, fora seus soldados e cientistas, poderá chegar perto da tecnologia utilizada para o lançamento de foguetes, mísseis e congêneres.

Nada de compartilhamento.

Os brasileiros também não vão ficar sabendo se, a pretexto de usar a base para fins, digamos, pacíficos, os americanos vão fazer de Alcântara um ponto estratégico para facilitar a invasão de qualquer país da região. A bola da vez é a Venezuela com suas imensas jazidas de petróleo.

Os americanos pretendem fazer na Venezuela o que fizeram no Iraque, onde a pretexto de “eliminar armas de destruição em massa”, tomaram posse das imensas reservas de petróleo do país. Na Líbia aconteceu a mesma coisa.

Na Venezuela a derrubada de Nicolás Maduro e sua substituição por alguém da confiança de Washington está na pauta de Donald Trump.

Aliás, é possível que a Venezuela já tivesse o mesmo destino, não fosse a descoberta relativamente recente de imensas jazidas de xisto que minimizaram o problema da redução das reservas locais de Petróleo.

(A maior reserva americana é a formação de Green River que se estende por três estados: Colorado, Wyoming, e Utah ).

Doando uma parte do território brasileiro, Bolsonaro auxilia os planos do presidente dos EUA e ainda sinaliza para incautos tupiniquins que o não alinhamento com “nossos irmãos do norte”, pode ser dissuadido com uma rápida chegada ao Cerrado de tropas capazes de colocar de joelhos, em poucos minutos, todo o aparato dos generais que cercam Bolsonaro.

A cessão de parte do território brasileiro, segundo entendem alguns especialistas, terá que passar pelo Congresso, mas esse é um detalhe.

A força da caneta do capitão-presidente, a cultura da propina e do toma lá dá cá são uma séria ameaça à soberania do Brasil. E é bom lembrar também que capital não tem pátria.

É provável que em breve tenhamos que conviver com uma Guantánamo em pleno cerrado maranhense.

PS: Na conclusão do texto fui avisado pelo computador de que Michel Temer acabou de ser preso. Assunto para hoje à tarde.


sábado, 16 de março de 2019

O serviçal inesperado




Para quem está acostumado a analisar fatos da política, a partir do que acontece na economia, é difícil imaginar que alguns frenéticos movimentos no tabuleiro de xadrez da política nacional, nos últimos dias, sugiram que a trajetória de Jair Bolsonaro na presidência da República esteja se aproximando do fim. Pode até acontecer, mas será surpreendente.

Não é assim que a banda toca. A possibilidade de promover o desmonte da Previdência Social interessa à classe dominante, para quem Jair Bolsonaro é um serviçal inesperado. Um serviçal que, se necessário, poderá ser defenestrado mais adiante. Inesperado porque a classe apostava na eleição de liberais domesticados como Alckmin & assemelhados.

Mas Bolsonaro venceu a eleição e a partir daí banqueiros, industriais, grandes proprietários de terra, executivos das multinacionais, passaram a ter que conviver com o despreparo para o cargo que o capitão reformado expõe todo dia nas redes sociais. Conviver e aguardar seus canhestros movimentos no xadrez da política. Se Bolsonaro não adquirir os votos necessários para suprimir o direito à aposentadoria, aí sim, está fora.

Voltando aos movimentos no tabuleiro de xadrez. O presidente tem peças adversárias bem próximas de suas defesas. O general Hamilton Mourão, vice-presidente, continua em sua cruzada para se tornar alternativa segura a assumir o Planalto. Suas declarações divergindo ou até antagonizando as diatribes do capitão-presidente agradam a setores liberais e até a uma parcela da esquerda e de movimentos sociais que se vêem seriamente ameaçados pela retórica ultradireitista, homofóbica e racista do presidente.

É também bastante sintomático que, em um movimento pouco discreto, as Organizações Globo tenham escalado a colunista Miriam Leitão para desancar as posições de Bolsonaro, na área da economia. Pode ser um sintoma de que a classe dominante já começa a ter problemas com o serviçal inesperado. Fica também muito claro que o capitão-presidente não tem a força que pretendia quando eleito.

(Nesse capítulo é bom lembrar que um de seus filhos chegou a ameaçar o fechamento do Supremo Tribunal Federal, bastando para isso “a presença de um cabo e um soldado”).  

O episódio do vídeo pornô que deixou boa parte da classe média conservadora em estado de choque, pode não ter importância política, mas parte de seus apoiadores incontestes ficou inesperadamente órfã.

É bem provável que, a partir de agora o capitão não possa mais exibir a desenvoltura dos pequenos ditadores sul-americanos quando em atividade e tenha que se contentar em só tomar decisões depois de consultar os generais que o cercam. Aliás, é possível que os militares do entorno passem a “aconselhar” mais de perto o Chefe do Executivo. Tuítes aloucados estão, desde já, proibidos.

O capitão-presidente não deve cair porque a instabilidade não interessa à classe dominante.  Banqueiros, capitães de indústria e homens do agronegócio, embora temerosos dos próximos movimentos de Jair Bolsonaro – por exemplo, a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém em detrimento de nossas relações comerciais com o mundo árabe – já receberam do capitão uma importante bonificação: o ministério do Trabalho desapareceu e os sindicatos estão a caminho da extinção.

É um ganho significativo para ser desperdiçado por episódios protagonizados por um presidente, que esses mesmos empresários reputam como um idiota perfeitamente controlável.

quinta-feira, 7 de março de 2019

O vídeo do presidente


Escrevo no momento em que crescem nas redes sociais e na mídia, em geral, as reações ao tuíte pornô publicado pelo presidente Jair Bolsonaro. Para alguém acostumado a analisar os fatos da política a partir do que acontece na economia, ou seja, na infraestrutura, é difícil imaginar que Bolsonaro vá ser deposto nos próximos dias.

Mas a partir de agora e até o final de seu mandato o capitão terá sobre a cabeça a espada de Dâmocles. Não poderá mais dar um passo sem consultar os generais que o cercam. Aliás, os generais é que dirão se Bolsonaro vai poder dar algum passo e o que fará nas próximas semanas. Tuítes estão desde já proibidos.

O capitão/presidente não deve cair porque a instabilidade não interessa à classe dominante. Insegurança sobre quem manda faz despencar a bolsa e deixa de orelha em pé eventuais investidores, agora mais preocupados ainda com os rumos que vai tomar o governo Bolsonaro.

Isso, num cenário em que 20 milhões de brasileiros estão desempregados e sem a mínima perspectiva de voltar ao mercado formal, em que os direitos trabalhistas e o próprio ministério do Trabalho foram extintos e os sindicatos seguem rota semelhante.

Em algum momento haverá reação.

O vídeo escatológico pode dar à classe dominante a possibilidade de assumir o comando – através dos generais da entourage do presidente - manter os ganhos da política econômica e evitar episódios como a ida da embaixada brasileira para Jerusalém ou ataques à China, o maior parceiro comercial do Brasil, entre outras imbecilidades cometidas nas últimas semanas.

Mas imaginar para breve a queda do capitão/presidente é um exercício que não deve ser totalmente descartado. O que pensam agora os neopentecostais que tinham Jair Bolsonaro como uma espécie de Cruzado da moral e bons costumes!? Ou a recatada esposa do general que tem por hábito seguir o presidente nas redes sociais!? E a rapaziada homofóbica? Acha que o vídeo da massagem anal explicitada pelo presidente nas redes sociais é uma surpreendente abertura tipo “em sexo vale tudo”!?

Quem viver, etc, etc...

domingo, 3 de março de 2019

O Capitão e os Sindicatos




A decisão do capitão Bolsonaro acabando, na sexta-feira à noite por Medida Provisória, com a possibilidade da contribuição sindical ser descontada em folha – a partir de agora o pagamento tem que ser feito através de boleto - abre espaço para reflexões.

Em primeiro lugar, usar de picuinha para agredir o movimento sindical – a MP é tão irrelevante que pode até ser rejeitada pelos deputados ali adiante – só mostra a fragilidade que começa a acossar o atual governo.

O momento para um regime de características pré-fascistas podia até parecer favorável. Os movimentos sindicais, sociais, populares, navegam nesse instante entre a surpresa, a estupefação e a decepção e apenas agora começam a buscar novos caminhos.

A decisão anterior, que extinguiu a contribuição sindical obrigatória, pode até dar impressão de ter alcançado os objetivos, mas, pelo contrário, foi um erro cometido pelo capitão e seu conluio neopentecostal. Erro que pode custar caro daqui por diante.

Naquele capítulo, realmente extintos foram os sindicatos, federações e confederações dominados pela rapaziada que mereceu, sempre, a antiga (da década de 30) alcunha de pelegos. Como Paulinho da Força & assemelhados.

Pelegos sempre tiveram, para os patrões, uma função crucial no cenário da luta de classes, que a inteligência do núcleo em torno de Bolsonaro não tem capacidade de avaliar. Suas reivindicações – às vezes previamente acertadas com os donos das fábricas - até podiam melhorar um pouco o cenário para categorias menos aguerridas e com menores condições de ir à luta. E só.

Mas, por outro lado, essa rapaziada teve até agora a importante função de despolitizar a luta sindical, aceitando recuos, contramarchas, imposições descabidas, mudanças bruscas de direção, desde que o reivindicado pelo Trabalho não extrapolasse o âmbito dos pátios da fábrica.

Sob condições especiais de crise – como acontece agora na Ford de São Bernardo - a redução da jornada de trabalho ou aceitação de posturas mais flexíveis era mais fácil de ser negociada pela massa de sindicatos do que por duas ou três entidades mais duras no trato com o Capital.

Os movimentos dirigidos por pelegos, que serviam de anteparo nos embates Capital/Trabalho, não resistiram ao fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, mas os filiados da CUT e sindicatos mais aguerridos e com maior tradição de luta, vão permanecer na defesa dos interesses da classe.

Agora, os patrões terão que bater de frente com trabalhadores com mais consciência de seus direitos, mais treinados na luta do dia-a-dia e mais politizados, sabendo que aumento de salários e melhoria de condições de trabalho são apenas duas das pautas que devem estar na mesa.

O episódio da picuinha, por sua vez, deixa claro para o respeitável público que o Poder, ao contrário do que vinha sendo arrotado desde a vitória nas urnas, vem sendo desgastado com velocidade surpreendente.

É bom lembrar que quando as nuvens começaram a se formar no céu dos militares golpistas de 64, com o surgimento das greves reivindicatórias do ABC sendo cada vez mais politizadas e com milhões de pessoas indo para as ruas pedindo Diretas Já, os generais começaram a recuar, advertidos de que uma ruptura no poder poderia levar a consequências funestas.

A anistia proposta na época sob a batuta do deputado Petrônio Portela incluía tanto guerrilheiros e líderes condenados, quanto os militares envolvidos em assassinatos, tortura, roubo, corrupção e outros crimes.

Os generais saíram de fininho, advertidos pelo bruxo Golbery do Couto e Silva, principal mentor do regime, de que os riscos podiam ser incontroláveis.

Em consequência, o coronel Brilhante Ulstra, torturador conhecido, ficou fora de eventuais processos que pudessem ser abertos contra ele porque a lei de anistia de Petrônio Portela, digamos, perdoava os dois lados.

Bolsonaro e seu grupo não têm inteligência para repetir a saída dos militares do poder. Talvez nem saibam o que aconteceu com o italiano Benito Mussolini, possível modelo do atual regime. 

Segundo o Google: ao final de abril de 1945, com a derrota total aparente,(Mussolini) tentou fugir para a Suíça, porém, foi rapidamente capturado e sumariamente executado próximo ao lago de Como por guerrilheiros italianos. Seu corpo foi então trazido para Milão onde foi pendurado de cabeça para baixo em uma estação petrolífera (posto de gasolina) para exibição pública e a confirmação de sua morte.