Quanto mais durar a sangria de Jair Bolsonaro, maiores serão
as chances do próximo governo adotar posturas tão ou ainda mais progressistas
do que as administrações de Lula e Dilma. É uma afirmação que parece destoante,
mas talvez se aproxime mais da realidade dos dias de hoje do que pensam alguns colunistas
de plantão nas redações.
Isso porque a classe dominante, empresários, grandes
acionistas, executivos de multinacionais, banqueiros, rentistas &
assemelhados não está nada satisfeita com o desempenho do ex-capitão e seu
grupo.
Bolsonaro foi, logo de cara, olhado com certa relutância por
essa rapaziada, depois que seu candidato, Geraldo Alckmin, revelou-se um fiasco
nas eleições de 2018. A classe acabou tendo que engolir o sapo.
As coisas pareceram melhorar quando Bolsonaro acenou com uma
reforma da Previdência que joga sobre os ombros da população mais pobre a
solução para o gigantesco déficit orçamentário do governo. A classe dominante
adorou.
Mas Bolsonaro não vai poder cumprir o que prometeu. E a elite
do poder já sabe disso.
A alternativa Mourão está posta e o presidente e seus filhos
começam a ver que seus amigos da primeira hora já estão pulando do barco.
Para o povão, que acreditou na promessa de extinção da
bandidagem através de uma política de western spaghetti “atiro primeiro, pergunto depois”, a constatação é ainda mais
dolorosa.
Os criminosos que transformam suas vidas em inferno diário não
reduziram sua atividade, apesar da presença do exército nas ruas, e a polícia
passou a bater recordes de homicídios em favelas e bairros pobres da periferia
das grandes cidades. Os números foram divulgados essa semana pela Rede Globo.
Assaltos a caixas eletrônicos e a caminhões de carga seguem
crescentes nas estatísticas apesar de pantomimas como a do governador do estado
do Rio de Janeiro Wilson Witzel mostrado na TV a bordo de um helicóptero da
polícia durante um tiroteio com mortes na favela da Maré.
A corrupção, mote usado desde os anos 40 para justificar
golpes de estado na América Latina, e a chamada Operação Lava Jato começam a se
voltar contra seus propagandistas. As ligações perigosas do clã dos filhos do
presidente com as milícias do Rio estão na ordem do dia.
Resta saber quem está apoiando os policiais e procuradores
que investigam Flávio Bolsonaro, Queiroz & assemelhados.
Enquanto o povão assiste um pouco atordoado ao
desmoronamento do governo, movimentos estudantis, operários, artistas,
intelectuais, funcionalismo público e outras categorias, iniciam o processo de
recuperação, após um longo período de dormência, e se preparam para confrontar
o poder, num cenário em que o presidente da república vai ficando a cada dia
mais isolado.
Isso porque, a constatação é clara: Bolsonaro com suas
extremas limitações acreditou que governar era extinguir todo e qualquer
movimento que confrontasse sua índole fascitoide, fazendo dele uma espécie de
paladino de uma estranha “democracia”, em que escolas são militarizadas, desaparece
o ensino de Ciências Humanas, muda radicalmente a postura da defesa do meio
ambiente, gays são exorcizados, negros e mulatos são posicionados “em seus
lugares” e vai por aí que a lista é longa.
Sobre o racismo ver na Internet o vídeo “as 17 vezes em que
Bolsonaro foi Bolsonaro”.
Nesse capítulo, é interessante constatar como o ex-capitão
fica próximo em propostas e atitudes do norte coreano Kim Jung Un, comunista
que para o ideário bolsonariano é a suprema expressão do mal.
Se Bolsonaro for trocado por Mourão na próxima semana ou
daqui a um mês, a agenda conservadora será retomada. Mourão vai substituir os idiotas
de Bolsonaro por nomes do PSDB com alguma credibilidade na praça e a bola será
tocada pra frente sem maiores problemas.