sábado, 29 de janeiro de 2022
"Com açúcar e com afeto"
Então... Hoje a maioria das respostas, pelo menos em entrevistas menos formais pela TV, começam pela palavra ”Então”. Então vamos lá. Acho que vou arrumar encrenca, mas também acho que a celeuma em torno da música “Com Açúcar e com Afeto” é um belo desperdício de energia.
As controvérsias, que fizeram Chico Buarque de Holanda jurar que nunca mais vai cantar seus versos – nem tão brilhantes assim se pensarmos no chamado conjunto da obra – podem ser resultado do que hoje costumamos assumir como movimento pela igualdade da mulher. Sei que “igualdade da mulher” pode ser uma expressão superada, depois que palavras como “emponderamento” & assemelhadas passaram a trafegar com mais frequência pelas mídias e redes sociais. Mas vou usar assim mesmo; é do tempo em que eu trabalhava em jornal.
É politicamente incorreta a letra. É, mas quem conhece um pouco a música popular brasileira desde “Amélia que era a mulher de verdade...” passando pela canção, no repertório de Elis Regina nos anos 70/80, que praticamente passa um pano numa agressão física, o politicamente incorreto permeia as letras que fizeram sucesso no passado. Distante e recente. E, aliás, a cultura brasileira como um todo tem esse tipo de problema. Detesto constatar, mas Monteiro Lobato, meu autor preferido na infância, não era politicamente correto para os parâmetros de hoje.
É preciso compreender que, apesar de alguns tropeços, apesar de pequenos recuos, alguns sem a mínima importância, movimentos como os que hoje buscam o emponderamento de mulheres, negros, LGTBQI+ estão fazendo a história de nossos dias. E depois deles o mundo será outro. E esse outro mundo de novas relações interpessoais e de classe já está sendo inaugurado. Assim, (só pra me livrar do “então”) mudanças sociais importantes já contemplam o nosso dia a dia. Claro que a história vai seguir em frente. Temas como racismo e homofobia serão aprofundados e nossos filhos (no meu caso filhas e netos) já experimentam os primeiros dias de um mundo menos racista, menos homofóbico.
O problema é que “Com açúcar e com afeto” conta história, singela até, de duas pessoas que tem lá seu jeito de amar. É politicamente incorreto? É. Mas se formos subir o nível do sarrafo a essas alturas, acho que pelo menos 80% do álbum da música brasileira vai ser detonado pelos novos censores.
Então, (de novo e no melhor estilo entrevistas pra TV) acho que devemos deixar pra lá a personagem de “Com Açúcar e com Afeto” fazendo o doce predileto do companheiro e convergirmos para coisas mais urgentes como discriminação social, um tema que se confunde, às vezes, com o racismo e homofobia. Mas não é a mesma coisa!
Vocês costumam ver a rapaziada - brancos ou negros, não importa - que mora em comunidades frequentando, em grupos, os Shoppings de luxo no Rio? Não? Quando isso aconteceu, lá atrás, as lojas fecharam as portas e a polícia escoltou a rapaziada!
É preciso cuidado para não processarmos um macarthismo com sinais trocados.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
Retorno
Pois é.
Estou de volta. A longa paralisação nada tem a ver com Covid & assemelhados; apenas uma parada para reflexões e a publicação do livro BREVE ESTADA EM TERESÓPOLIS, uma história de ficção sobre alcoolismo e reportagem. (Mais alcolismo do que reportagem).
Durante esse período, longe do que chamo de atividade jornalística, no entanto, não abandonei, nem por um instante, o velho hábito de repórter e posso dizer que estou absolutamente em dia com a vida social do país.
Um fato interessante que, suponho, vem sendo subestimado pelos economistas e jornalistas de plantão é uma aparente, ainda que tênue, recuperação da economia. Breve e pouco consistente, acho. Acredito que alguns dados que devem aparecer por aí nas mídias (alguns já aparecendo) são resultado de uma poupança forçada durante o pico da Covid.
Ou seja, a partir do final de 2020/início de 2021 boa parte da classe média no Brasil ficou impedida de gastar.
Viagens proibidas, compras dificultadas (até porque a maioria das pessoas só conseguia enxergar um buraco negro`a sua frente) muito dinheiro ficou parado, talvez investido, mas não usado para consumo.
Com o fim do período mais letal, e apesar da omicron, essa grana parece estar voltando a atividade normal. Há problemas e muitos. O mais grave, a conduta da economia pelo ministro Paulo Guedes. Guedes não tem mais (se é que teve algum dia) o menor interesse nos rumos do governo Bolsonaro que, se levarmos em conta a enxurrada de pesquisas, vai terminar melancolicamente nos primeiros dias de 2023.
Guedes é hoje um corretor na venda de empresas estatais e ponto.
A economia, porém tem lá seus componentes cíclicos e é possível que no próximo ano e recuperação comece ainda que tímida.
Até agora o governo Bolsonaro tem feito o possivel para detonar um eventual ciclo virtuoso mais adiante. Como os portugueses ascentrais, a classe dominante, via governo Bolsonaro, faz o possível para esvaziar o consumo lutando, tenazmente, contra qualquer tipo de aumento de salário, ou ganhos assemelhados.
Sem salário as pessoas não consomem; sem consumo a economia fica como está.
Sobre as portugueses ancestrais: segundo observadores que passaram pelo Brasil colônia, o sonho dourado dos primeiros europeus era trabalhar para comprar um escravo. Um que fosse, e a partir daí viver de seu trabalho.
Mas isso já é uma outra história. História do Brasil.
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