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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Janos Lengel

 

O húngaro Janos Lengel que falava um português quase sem sotaque e era versado em muitas outras línguas, dizia que a nossa era complicada. “É a única em que você quando quer dizer não, diz “pois sim” e quando quer dizer sim, diz “pois não"!” Encontrei com ele algumas vezes na redação do Correio da Manhã; ele e meu pai Hélio Ferreira Rocha, se davam bem. Principalmente porque entre outras editorias, Lengel tinha relações com os Esportes e volta e meia estava na Europa cobrindo clubes brasileiros que excursionavam por lá.

Eram outros os tempos. Terminado o campeonato carioca os times grandes, iam para a Europa atrás de jogos caça níqueis para pagar o salário dos jogadores.

Vai valer a pena?

 Os israelenses mortos ou capturados pelo Hamas valem o território que a direita encabeçada por Bibi Nethanyahu vai se apossar na Palestina? É claro que as notícias que chegam até nós, trazidas pelas agências internacionais, não revelam exatamente o que está acontecendo no local. Os mortos judeus são em número maior ou menor do que o noticiado? Nunca saberemos. Os israelenses por acaso descobriram que o território do qual vão se apossar é rico, por exemplo, em algum mineral estratégico no futuro? 


Estudantina Musical

Ficava na Praça Tiradentes e chamava-se Estudantina Musical. Era uma gafieira e como todas das gafieiras era um lugar de respeito. Se você se engraçasse lá dentro a segurança aparecia rápido e você tinha que descer, mais rápido ainda, as escadas que terminavam na calçada. Um amigo meu que não acreditou nos protocolos da casa foi irremediavelmente posto na rua. Eu só vi o que tinha acontecido quando, por acaso, cheguei na varanda, por trás do conjunto que animava o baile. Resultado: pegamos um ônibus e fomos gastar os trocados num bar de Copacabana.

A Estudantina fazia sucesso porque nós, a rapaziada que se considerava de esquerda, costumava passar por lá nas noites dos fins de semana. A direita nos chamava pejorativamente de “Esquerda Festiva”, mas nós levávamos a sério nossas posições. Tínhamos razoável conhecimento das obras de Marx – eu, por exemplo, tinha lido a versão simplificada de O Capital, livro da Editora Zahar que resumia o calhamaço escrito pelo revolucionário alemão. Gramci, Guevara, e até Trotsky eram leituras mais ou menos comuns na Universidade do Brasil. Ou até antes, quando ainda cursávamos o segundo grau.

Parte da esquerda universitária, classe média da zona Sul do Rio de Janeiro, achava importante frequentar os mesmos ambientes onde o proletariado urbano se divertia. Na Estudantina supunha-se haveria congraçamento. Outro motivo é que levados pelos mesmos desejos alguns artistas, atores, músicos também passavam por lá. E às vezes davam uma canja. Na verdade eu não me lembro de ter assistido nenhuma performance desses ícones da Bossa Nova, mas havia sempre a esperança de encontrar uma Nara Leão, um Carlinhos Lira, um Vinícius de Morais.

A bebida não era cara, bebia-se principalmente cerveja e a possibilidade de sair com algumas das mulheres que iam se divertir na gafieira era nenhuma. Na verdade as frequentadoras eram, em geral, um pouco mais velhas que nós estudantes ruins de grana – não havia dinheiro pra levar a namorada a um bar e muito menos a um dos hotéis vagabundos das cercanias. Ainda assim voltávamos pra casa felizes depois de termos estado nos locais “onde o povo está!"

Na mesma Praça Tiradentes ficava outra gafieira, mas sem o charme da Estudantina. Chama-se Elite e durante um baile de carnaval o chão do salão cedeu e os frequentadores caíram na sapataria que ficava no térreo. Houve apenas ferimentos leves, mas essa já outra história. 

sábado, 16 de dezembro de 2023

ERRO E ARREPENDIMENTO

 

Há erros passíveis de serem consertados. Outros não. Às vezes porque o tempo passou, outras porque as circunstâncias mudaram radicalmente. Algumas vezes você fica com raiva do erro que cometeu. E esse é o meu caso.

Fazia o curso primário – hoje com outra nomenclatura – na Escola Uruguai 8-6. Não sei o significado de 8-6, mas eu gostava da escola na Rua Ana Neri, pertinho de casa, em São Cristóvão.

Bom, todas as manhãs de um dia qualquer da semana, antes das aulas, minha turma e a do ano imediatamente acima eram liberadas para brincar no pátio. Naquele tempo os meninos eram todos loucos por futebol. Não existiam, é claro, jogos eletrônicos, etc, etc.

Então naqueles 40/45 minutos era disputada uma pelada de uma turma contra outra. Nós, teoricamente um ano mais novos, sempre perdíamos. Mas houve uma vez em que o tempo passava, as professoras já estavam a caminho de acabar com a aula recreativa e o jogo estava zero a zero.

Então aconteceu. Uma bola cruzada da esquerda passou pelo goleiro e eu fiquei de cara com o gol. Só quem já jogou futebol – e fez gol – sabe da sensação. A bola estava ali, só faltava dar um toque, um ligeiro toque com o lado do pé, por segurança, mas... resolvi dar o chamado bico na bola. 

E furei. Ou seja, a bola passou e eu chutei o vento, a jogada mais ridícula – até hoje – que pode acontecer numa pelada ou no Maracanã. Ou em Wembley. Todos os olhos dos garotos da minha turma se voltaram para mim. Mas ao contrário do esperado ninguém reclamou. No minuto seguinte a professora chamou e nós todos suados tomamos o caminho da sala de aula. Foi uma única chance. Outras manhãs, outras peladas e sempre perdemos.

Bem que eu poderia ter batido de chapa, como dizem os jogadores profissionais de 2023. Se resta um consolo a pelada daquele dia fatídico terminou zero a zero.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Pai contra mãe

 

Esse é o nome do conto de Machado de Assis que contraria inteiramente a sua temática. O autor, um gênio da literatura em língua portuguesa, geralmente escreve sobre a burguesia do Rio de Janeiro, seus amores, seus problemas, suas aspirações. Mas no conto Pai contra mãe, Machado desce às ruas pobres do Rio de Janeiro.

Um pai precisa desesperadamente de dinheiro para salvar a vida do filho pequeno. Em seu caminho encontra uma escreva fugida pela qual se paga uma recompensa. O homem entrega a escrava a seu senhor, não sem ouvir os apelos de que está grávida e apanha muito de seu proprietário. No momento da entrega a escrava sofre um aborto. O homem não se importa, pega o dinheiro da recompensa e volta para salvar a vida do filho.

 Li todos os romances de Machado de Assis e muitos dos contos escritos por ele. Não encontrei nada parecido na literatura machadiana.  

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Quarteto em Cy

Cyva, Cybele, Cynara, Cylene. Saber que mais uma das meninas morreu dias atrás me deixa bastante triste. Parece que três delas já nos deixaram.  É que em determinado momento minha vida e a do Quarteto em Cy tiveram um encontro. Que acabou não durando muito tempo, um ano ou dois, talvez.

Mas minha memória ainda registra de maneira clara esse tempo. Em 1962 meu pai, cansado de pagar colégios caros – O Santo Agostinho, no Leblon e o Colégio Rio de Janeiro em Ipanema e me ver ser inapelavelmente reprovado, fez minha matrícula no Colégio Estadual Souza Aguiar, no Centro do Rio, curso Clássico. Não fui pessoalmente fazer a matrícula porque estava servindo o Exército no Oitavo Grupo de Artilharia Motorizada, quartel no Leblon.

Curso Clássico foi como a entrada num novo mundo. Porque não precisava estudar Física, Química, Biologia, Matemática, matérias responsáveis pelos meus fracassos anteriores. De aluno relapso passei a brilhar nas aulas de português e literatura. Minha professora, catedrática de língua hispânica da Universidade do Brasil (Hoje URRJ) gostava dos meus testos.

Alguns contos que escrevi foram parar no Caderno Literário do Correio da Manhã, aumentando meu prestígio.  Na minha sala encontrei Cylene, a mais nova das irmãs e que, aliás, deixou o Quarteto quando começava a fase de sucesso. Gravação de discos, shows, acompanhando gente como Tom Jobim e Vinícius de Morais. 

Claro que eu tentei namorar Cylene. Afinal pelo menos nas aulas de literatura eu era o cara! Não deu, ela já namorava um futuro médico com quem, aliás, se casou. Isso no primeiro ano do curso. Acho que hoje se chama primeiro ano do Segundo Grau.

 Acho que fomos nos tornando amigos porque depois das aulas caminhávamos pela Avenida Chile para pegar ônibus em direção a Zona Sul. As meninas moravam num apartamento no Flamengo, bem perto da praia. Eu morava no Jardim Botânico. Quem fazia o mesmo percurso, às vezes junto com o grupo, era a futura estrela, Leila Diniz. Mas Leila morava em Santa Teresa e ficava no meio do caminho na Avenida.

Para que se tenha ideia da amizade, estive próximo de um acontecimento que marcou a vida das meninas do quarteto. Numa de suas loucuras, simpáticas loucuras, Vinícius de Morais, de repente resolveu tomar o rumo da Europa. E quis levar a Cynara com ele. Uma viagem às pressas, por motivo indecifrável. Apesar da proximidade, apesar da importância para o grupo ter o poetinha por perto, a recusa veio acompanhada de um tremendo stress.

Mas nada mudou. Recusado, Vinícius, levou consigo a noiva de um rapaz, filho de um grande empresário, que fazia parte do grupo que vicejava em torno dele. Cynara veio desabafar comigo, e eu realmente não sabia o que dizer.

Outra passagem que lembro bem foi quando eu e meu colega de turma Sebastião Chaves, estávamos no apartamento do Flamengo com as duas irmãs mais velhas, Cywa e Cybele. As duas irmãs mais novas tinham ido à Bahia visitar a mãe.

 Não tenho a menor ideia de como fomos parar lá, nem o motivo. Até porque entre nós – eram outros os tempos – nunca houve nada mais do que amizade. No meio da noite Cywa teve um momento de pânico, quando de repente uma espécie de visão das irmãs ensanguentadas, vítimas talvez de um acidente na estrada, fez com seus nervos fossem seriamente abalados. Eu e Sebastião tratamos de acalmar as coisas e a noite terminou.

Nessa época Cynara já devia ter concluído o curso e eu já estava namorando minha mulher. Minhas relações com meus amigos mais íntimos iam esfriando, incluída aí turma do colégio Souza Aguiar, que nunca mais encontrei.

      

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Arrasta pés

Funcionava assim. A mesa da sala era empurrada para um canto, ou retirada para outro cômodo do apartamento, as cadeiras eram colocadas junto às paredes. A vitrola (esse era o nome do aparelho produtor de som) era um móvel razoavelmente grande, estilo pé palito.  Além da vitrola também cabia ali um rádio AM, onde os pais podiam ouvir também notícias em high fidelity.  Ou alta fidelidade.

E havia os discos, os mais antigos, menores e mais grossos em 78 rotações por minuto, e apenas duas músicas. A cada dança era preciso trocar o disco; as vezes valia a pena ouvir o lado B. Depois vieram os LPs, seis músicas de cada lado, feitos de vinil.

Os convidados para o arrasta pé (era esse o nome do baile) não podiam ser muitos, claro, e às vezes quem ficava de fora acabava dando um jeito e entrava. Mães atentas serviam refrigerantes aos convidados E Salgadinhos quando se comemorava o aniversário do anfitrião.

Nesse tipo de dança o casal ficava abraçado. O rapaz com a mão nas costas da menina ela com a mão no pescoço dele (como na música Dois pra lá Dois pra da dupla Aldir Blanc/João Bosco). E dançar de rosto colado era o máximo, e um indício de que a menina podia topar um namoro.

Da vitrola saia o som de Frank Sinatra, Roy Hamilton, Sammy Davis Júnior, Aretha Franklin, Henry Mancini & Orquestra, Waldir Calmon. Muitas vezes trilhas sonoras de filmes de sucesso, como Pic Nic (não me lembro do título em português) faziam sucesso nos arrasta pés!

 Mas para dançar o chamado “puladinho” era preciso o som músicas dos organistas brasileiros Ed Lincoln e Walter Wanderley.

A chegada da Bossa Nova, com suas músicas intimistas, contribuiu para apressar o fim dos arrasta pés. O Rock ‘n Roll foi tomando o lugar das melodias mais serenas dos anos 50. Dançar abraçado caiu de moda. A geração arrasta pé cresceu, ficou adulta, vieram outros interesses como ingressar numa faculdade ou fazer um concurso para o Banco da Brasil, na época um emprego seguro e bem remunerado. 

Os últimos acordes desse tempo, no meu caso pelo menos, foram na Associação Atlética Banco do Brasil, no Leblon, numa tarde/noite de domingo. Música ao vivo tocada por um conjunto do irmão do cantor Cauby Peixoto.

Foi nesse embalo que ouvi pela primeira vez “O Barquinho” de Roberto Menescal, a música ícone que marcaria o início da Bossa Nova.

  

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Dida!

 Não vi Zizinho jogar! Ou talvez tenha visto ainda muito pequeno. Mas depois de Zico o alagoano Edvaldo Alves de Santa Rosa, o Dida, foi o melhor jogador que já usou a camisa 10 do Flamengo. Para se mensurar a importância desse meia ponta de lança, basta a constatação de que na Copa do Mundo vencida pelo Brasil na Suécia, em 1958,  Dida saiu daqui titular. O técnico Vicente Feola escalou Dida no primeiro jogo, deixando Pelé no banco. No segundo jogo, aconselhado por jogadores mais experientes, o técnico trocou Dida por Pelé e Joel por Garrincha.

Muitos anos depois tive oportunidade de fazer uma entrevista com o craque dos anos 50. A matéria nunca foi publicada, mas ainda me lembro de alguns detalhes.

Naquele momento o que ouvi pareceu um desabafo. Dida contou que pouco antes da viagem para Estocolmo, sofreu uma lesão grave (acho que no joelho). O Brasil ia fazer seu jogo de despedida no Maracanã e ele foi avisado de que se não entrasse em campo seria cortado da seleção. Entrou. Segundo escrevi na época, não tinha a menor condição e sua atuação no jogo contra o Paraguai foi pífia.

Depois da partida de estreia, Dida permaneceu na reserva o resto da Copa. É bom lembrar que naquele tempo não havia substituição. Se alguém se machucasse o time ficava com dez e bola pra frente.. “Eu fui reserva do Pelé, o maior de todos os tempos”, lembrou na entrevista. Ele não voltou mais à Seleção Brasileira. Sua carreira entrou em declínio e ele e seu parceiro, o centroavante Henrique Frade foram jogar na Portuguesa de São Paulo.

Há outras histórias que não me lembro se estiveram na entrevista ou eu li em jornais do passado. Uma delas me leva a antiga concentração do Flamengo num casarão em São Conrado. Na época, me lembro bem, ficava numa área deserta; as ruas eram de saibro e a vizinhança distante. Dida às vezes ficava sozinho no casarão e até pensou em voltar fugido para Maceió.

Não fugiu. Seu companheiro e admirador, o zagueiro Jadir teve pena do garoto nordestino e passou a levar, nos fins de emana em que não havia jogo, o camisa 10 para sua casa na Mangueira. A mulher do jogador apontado como o mais violento do futebol do Rio naqueles anos (Dida confirmou) cozinhava para o camisa 10 do Flamengo e o craque acabou desistindo de voltar para Alagoas.

Sobre Jadir Dida contou o sufoco que era treinar contra o zagueiro. “Quando um de nós voltava de alguma contusão começava o treino no time reserva. E Jadir avisava: “não tem essa de gracinha na minha frente”. Mas o técnico Fleitas Solich, paraguaio vencedor de três campeonatos seguidos no Rio, não queria saber de jogador medroso. “Se eu não fosse pra cima o homem me tirava do time”, lembrou.

Depois da Copa de 58, segundo pessoas que viviam o futebol do Flamengo, a carreira do número 10 começou a declinar também por causa da bebida. Dida perdeu a posição de titular e acabou transferido para a Poruguesa de São Paulo. Mais tarde, no Júnior Barranquilha da Colômbia pode experimentar, de novo um pouco da glória passada.



Chove não molha e coisa e tal!!!

Com certeza só os idosos ouviram falar na expressão chove não molha. Pois é, a referência era a alguém indeciso.  Ou a alguma indecisão. Fulano fica nesse chove não molha e a gente aí esperando e coisa e tal !!! E coisa e tal era uma espécie de complemento ao que estávamos dizendo. Tipo: eu fui lá falei, expliquei tudo e coisa e tal.

Essas lembranças deixam claro como as línguas modernas têm que ser dinâmicas. Isso acontece na medida em que a tecnologia vai criando uma realidade a qual temos que nos adaptar cada vez mais rápido.  E não temos tempo nem disposição para criarmos, em português, uma palavra que signifique a dizer a mesma coisa. Apesar disso os portugueses trocaram site por sítio.

Há uma invasão de novos objetos do dia a dia, novas posturas diante das também novas ideias. Há muito tempo conversando com Arturo, um italiano comunista, que foi guerrilheiro na II Guerra Mundial, falei da minha desolação com a entrada cada vez maior de palavras da língua inglesa no idioma português. Sua resposta foi singela. Como isso está acontecendo em vários lugares é possível que, no futuro, iremos nos entender com mais facilidade.

Esse encontro foi num botequim em Itaipu, Niterói, RJ. Nos últimos anos do século 20, ninguém imaginaria um telefone celular equipado com tradutor simultâneo!!! 

domingo, 10 de dezembro de 2023

Nicolás 2

Eu recomendo ao Sr. Nicolás Maduro que dê uma olhada na Wikipédia. Lá estão relacionadas todas as intervenções dos marines estadunidenses pelo mundo, com seus devidos pretextos. De São Domingos à Turquia, da Alemanha ao Panamá, do envio de uma força Naval ao Brasil, em 1964, ao Camboja. E vai por aí que dá um livro. Um dos primeiros posts do blog é a copia de matéria da enciclopédia sobre o assunto. Deu um trabalhão porque resolvi deixar, em parágrafos isolados, cada uma das invasões ou ameaças de. Inicialmente o texto era em um só bloco, o que na minha experiência cansa o leitor. 

Bom, talvez Maduro não precise da leitura que recomendo. Talvez esteja só esperando a próxima reunião com Irfaan Ali presidente da Guiana – talvez Lula participe – para recuar de suas ameaças ao país vizinho. Nesse caso terá sido apenas tentativa de angariar adeptos a sua candidatura em eleições próximas.

Tomara!!! 

sábado, 9 de dezembro de 2023

Gaza

 

Nos anos setenta a charge numa revista americana simulava um comercial: Visite Israel e conheça as pirâmides. É bom lembrar que estávamos bem próximos do fim da Guerra dos Seis Dias. O conflito, me lembra o Google, aconteceu entre os dias 5 e 10 de junho de 1967. As tropas e a Força Aérea israelenses, nesses seis dias, esmagaram rapidamente exércitos do Egito, Líbano, Síria e Jordânia,

Israel incorporou a seu território a Faixa de Gaza, as colinas de Golan, a Cisjordânia e a parte Oriental de Jerusalém.

Tenho a impressão de que depois de Israel vencer a guerra em curso, não haverá mais espaço para palestinos na região.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Memória traidora

Esquecer onde deixei, minutos antes, a chave do carro, os óculos, ou mesmo o livro que estava lendo é uma das consequências de chegar aos 80 anos! Será? Minhas filhas passam pelos mesmos perrengues. Então prefiro acreditar que as falhas no funcionamento da memória imediata são, pelo menos em parte, resultado do acúmulo de informações que recebemos todos os dias. Nosso cérebro estará preparado? Acho que não. No meu caso há uma agravante.

Trabalhei como jornalista a maior parte da vida; então buscar informação é mais do que um hábito, é quase uma necessidade, um modo de vida. O jornalista não pode ficar sem informações, pelo menos sobre a área em que trabalha. Se trabalha na editoria de Polícia, homicídios, desastres, prisões fazem parte de sua vida diária. É preciso estar em dia com os trâmites da prisão do traficante da hora.

O mesmo acontece na editoria de Esportes. Você tem que estar sabendo os nomes de quem está se transferindo para a Europa e quem pode estar de volta, já a caminho do Flamengo, por exemplo. Quando o Brasileirão esquenta é bom saber que técnicos podem estar a caminho da demissão.

Em outras editorias a relação é a mesma. E é claro que esses dados todos, que você procura e recebe, sobrecarregam neurônios que, com certeza são estimulados para um pouco menos.

Ou essa é apenas uma desculpa idiota pra quem se recusa a aceitar que mudou com o passar dos anos.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Figurinhas

 

E não me lembro, nem remotamente, do gosto das Balas Ruth. Ou se alguma vez senti o gosto, porque a bala era o que menos importava.  Mas lembro de tirar rápido o papel para encontrar a figurinha. Alegria ou decepção? Figurinha nova ou repetida? Na medida em que o álbum era preenchido, ficava cada vez mais difícil aparecer uma novidade.

Foi um tempo em que quase todos os meninos da classe média do Rio de Janeiro, juntavam as figurinhas da Bala Ruth. Muitos adultos também contribuíram para que juntar figurinhas virasse uma febre. O ano, o Google me diz, era 1951.

Uma intensa atividade de troca acontecia na hora do recreio nos pátios das escolas. Mas em alguns locais do centro da cidade as trocas e até venda de figurinhas virou uma atividade intensa. Com o passar do tempo a troca ia ficando mais complicada. Praticamente todo mundo tinha as mesmas figurinhas pra trocar.

 Havia as difíceis de encontrar (acho que daí foi gerada a expressão “figurinha difícil”, hoje já em desuso). Figurinha difícil mesmo era a “Casa de Madeira”. Como sua existência foi questionada a figurinha acabou sendo exposta na vitrine de uma loja no Centro da cidade. E as pessoas paravam pra dar uma olhada. O “Acrópole,” aquele mesmo nas ruínas de Atenas, também era figurinha complicada de conseguir.

O anunciado prêmio pelo preenchimento do álbum devia ser muito bom. Mas logo depois, premiar preenchimento de álbum de figurinhas foi proibido. E nunca se soube se realmente alguém foi premiado. 

Meu envolvimento com álbuns de figurinhas não ficou por aí. Em 1971 fui trabalhar na Editorial Bruguera, empresa com sede em Barcelona e um sócio no Brasil.

Acontece que antes de me tornar funcionário do Departamento Editorial a Bruguera havia lançado um álbum de figurinhas chamado de História Natural. O álbum, sem que ninguém soubesse por que, acabou sendo adotado por professores de escolas públicas das redes estadual e municipal do Rio. Talvez como um instrumento auxiliar das aulas de Ciências.

O sucesso foi tão grande que a empresa com área construída equivalente a dois contêineres e meio, pôde, com recursos próprios, construir um prédio de três andares: um galpão no térreo, área administrativa no primeiro andar, editorial no segundo. A Bruguera passou de pequena a empresa de porte médio.

Depois de História Natural a empresa, claro, tentou lançar outros álbuns, alguns com temas diferentes. Um deles que reproduzia cédulas de dinheiro de todo o mundo acabou barrado pela Receita Federal, apesar das notas serem reduzidas, com impressão em apenas uma face.

Uma segunda tentativa, um álbum quase igual ao História Natural, mal pagou os custos de produção. 

Mesmo uma nova tentativa feita em parceria com a Rede Globo de televisão – que entrou com os fotolitos das figurinhas e a difusão na TV - não chegou nem perto ao sucesso do História Natural.

Hoje os lançamentos se fazem com ajuda de publicidade na TV. Os mais comuns reúnem fotos de jogadores de futebol quando se aproximam os jogos da Copa do Mundo.

Não há mais “figurinhas difíceis.

Em breve faremos fronteira com os EUA

 

Finalizei ontem a postagem “Nicolás” com os dois parágrafos abaixo

Para o Brasil a presença americana na fronteira seria indício de problemas. A Amazônia brasileira estará a minutos de voo a partir de futuras bases dos Estados Unidos em Essequibo.

A posição de Nicolás Maduro pode fazer com que ele mantenha o poder, mas, se a coisa não der certo, a Venezuela corre o risco de ser um novo Iraque. Ou uma nova Líbia, como queiram.

Hoje pela manhã, abrindo o G1 no celular vejo que os americanos vão fazer manobras militares no território da Guiana. Para as almas simplórias os voos de aviões militares sobre o território guianense serão apenas uma forma de dissuadir o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de tentar anexar o rico território de Essequibo, hoje parte da Guiana.

Na verdade as ameaças, com fins eleitoreiros de Maduro deram aos americanos o pretexto para anexação de Essequibo.

Isso porque, “para defender a autonomia do país”, os Estados Unidos” além de incentivar naquele ponto da América do Sul a presença de empresas petrolíferas - a Exxon já está lá -com sede no país, trarão também bases militares para impedir uma possível aventura venezuelana no território. Que nunca aconteceria, lógico.

Maduro deveria levar em conta os precedentes: quando o petróleo em território americano começou a escassear – ainda não haviam sido descobertas as reservas de xisto e não se falava em explorar as jazidas do Alasca - os americanos invadiram o Iraque, onde haveriam armas de destruição em massa (nunca encontradas) e a Líbia (para apear do poder um ditador sanguinário  (que foi deposto e depois linchado).

Hoje Halliburton, Exxon, Chevron são proprietárias do petróleo explorado nesses países. Essequibo além de petróleo tem reservas – a afirmação é de órgãos da mídia – de minerais hoje considerados estratégicos. Em breve faremos fronteira com os Estados Unidos.

Brasileirão

Terminou o Campeonato Brasileiro. A disputa foi braba até a penúltima rodada. Na última o Palmeiras já entrou campeão. Matematicamente não, mas era necessário que os adversários mais próximos ganhassem de goleada e o Porco perdesse também de goleada. Impossível.

“Tem coisas que só acontecem ao Botafogo.” A sentença, forjada lá nos anos 50, teve comprovada sua veracidade, mais uma vez. Depois de ficar até 13 pontos na frente dos adversários, durante o primeiro turno, o Botafogo amargou um quinto lugar, que não dá nem direito a participação direta na Libertadores.

 Mas o melhor do Brasileirão é que, quando se aproximava do final, pelo menos quatro clubes, os quatro que vão a Liberta, podiam ser campeões. Um jogo perdido, como no caso do Flamengo liquidou com o sonho do time. O mesmo aconteceu com o Grêmio e o Palmeiras, que levou um passeio do Flamengo (3X0) poucas rodadas, atrás acabou ganhando o restante dos jogos e levou a Taça.

Bom, na parte de baixo o Vasco escapou por um gol, marcado no final do jogo, de amargar um ano na Segundona. O Santos não teve essa sorte.

Agora haverá uma longa espera até que, aqui no Rio, possamos rever os já quase esquecidos, e porque não saudosos, Madureira, Volta Redonda, Portuguesa. Alguns outros, como Bonsucesso, São Cristovão, Olaria,talvez nunca retornem aos jogos no Maraca.

Confesso que sinto um bocado de falta do futebol à noite na TV.

Encurralado

 Tempos atrás, talvez anos atrás, comer ovos era, como já postei, uma espécie de sentença de morte. A visão dos médicos era taxativa: ovos contém o chamado colesterol ruim e sua ingestão provoca infartos e AVCs. Muita gente acreditou.

Antes disso as frituras já haviam sido responsabilizadas por uma penca de doenças. Frituras saíram do meu cardápio. Acho que há pelo menos trinta anos não se frita nada aqui em casa. Não se frita é um exagero. Uma vez na vida outra na morte, como se dizia no passado, sai um peixe frito. Mas é uma raridade, principalmente depois que a Air Frey entrou nas nossas vidas. Mas mesmo com a Air Frey carnes bovinas já tinham sido banidas do nosso dia a dia. Comer frango vai se tornando uma raridade.

Agora a bola da vez parecem ser as farinhas. Li outro dia, nas Redes Sociais o post de um médico avisando que farinhas podem causar infecções no aparelho digestivo. Como devo evitar o açúcar, estou próximo do nível do Diabetes, já reduzi seu uso faz tempo. É duro, porque os adoçantes são cancerígenos, dizem os doutores. Então como peixe, legumes, batata barôa e aipim, mas com parcimônia.

Quase abandonei as massas. Pizza e ravióli que estiveram nas listas de pratos que eu comia com prazer foram deixados de lado. Agora evito: uma vez a cada dois meses? Talvez.

Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas realmente... Realmente a cada semana que passa vou me sentindo mais encurralado. Se viver mais cinco anos vou comer o quê? Torço para que, como aconteceu com os ovos, pelo menos a farinha de trigo seja reabilitada!!!  

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Fim da tortura

“Vocês se alimentam do sofrimento”. A frase é de um conhecido meu, vegano radical, ativista da causa. É verdade absoluta. Os animais, que compramos mortos nos supermercados, nasceram e viveram sob tortura. Frangos nunca dormiram porque precisam ficar acordados para comer sem parar até atingirem, o mais rápido possível, o peso de corte. Porcas de reprodução não conseguem nem ficar sobre as quatro patas entre a sucessão de ninhadas. Vacas de alta reprodução de leite passam a vida presas nos estábulos olhando de longe o verde dos capinzais ao redor.

È claro que há exceções. Honrosas exceções: gado criado solto no Pantanal, galinhas poedeiras e frangos chamados de caipiras, criados por pequenos produtores.

O antropólogo Yuval Noah Harari, autor do best seller Sapiens e de Homo Deus acha que, no futuro, a humanidade deve repensar o tratamento dado aos animais que nos alimentam.

Eu fico feliz porque cada vez mais as gôndolas do supermercado aqui perto de casa vão sendo preenchidos pela chamada carne vegetal: hambúrgueres, linguiças e outros produtos. O preço ainda é meio inconveniente, mas textura e gosto são basicamente os mesmos dos produzidos pelo sofrimento.

Nicolás

Tenho certa dificuldade para entender o que o presidente venezuelano Nicolás Maduro pretende quando ameaça tomar da Guiana a região de Essequibo. Numa primeira abordagem parece que o objetivo é eleitoral. Maduro estará repetindo o que fez no passado o ditador argentino Leopoldo Galtieri.

Quando a ditadura já estava por um fio o general presidente invadiu as Ilhas Malvinas, uma possessão inglesa ao largo da costa de seu país. Tropas inglesas rapidamente retomaram o território e também rapidamente a ditadura caiu, com a prisão de seus principais protagonistas.

Maduro, que está no poder pelo voto, pode estar se encaminhando para um fim meio parecido.

O presidente venezuelano talvez não consiga dimensionar os riscos a que se expõe. A Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do planeta e uma incursão dos marines em seu território, pode fazer com que a Haliburton, a Exxon, a Chevron e outras petrolíferas passem a ser as proprietárias de todo o petróleo do pais. A PDVSA desapareceria.

 Os precedentes existem. Antes da descoberta de reservas de Xisto, mineral que pode ser transformado em combustível, no Texas e Novo México, os Estados Unidos perceberam que o petróleo produzido em seu território começava a dar os primeiros sinais de esgotamento.

Em duas manobras, uma para depor o “sanguinário” ditador líbio Muamar Kadhafi, e outra para desbaratar armas de destruição em massa (nunca encontradas) no Iraque, os americanos Unidos tornaram propriedade de suas empresas todo o petróleo de ambos os países. Kadhafi foi linchado nas ruas quando tentava fugir e Saddan Houssein foi rapidamente enforcado pelas tropas americanas.

Segundo alguns sites, as reservas de xisto podem já ter seu pico de exploração ultrapassado, mas é possível que os Estados Unidos, embora relutantes, também comecem o processo de transição para as energias renováveis. Bom para a Venezuela. 

Além disso, uma guerra, mesmo contra um país chamado de “em desenvolvimento,” e que pode ser vencida em questão de semanas, vai gerar gastos elevados e, assim, talvez iniba um pouco o apetite das petrolíferas. Talvez seja uma questão a ser resolvida pesando-se custo/benefício. Em contraponto há o interesse permanente da indústria bélica americana em conflitos pelo mundo.

Claro que os americanos não ficariam só com a posse do petróleo venezuelano. Essequibo, uma imensa área onde além do petróleo existem outros minerais em minas que passariam às mãos de empresas americanas.

Para o Brasil a presença americana na fronteira seria indícios de problemas. A Amazônia brasileira estará a minutos de voo a partir de futuras bases dos Estados Unidos em Essequibo.

A posição de Nicolás Maduro pode fazer com que ele mantenha o poder, mas, se a coisa não der certo, a Venezuela corre o risco de ser um novo Iraque. Ou uma nova Líbia, como queiram.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Ovo

Há algum tempo, uns poucos anos talvez, comer um ovo era decretar sua própria sentença de morte. A quantidade de colesterol ruim contida num simples ovo cozido (e colorido nos botequins da vida) segundo especialistas de plantão, conduziria o incauto direto para o infarto fulminante.

Para atenuar as coisas e, suspeito eu, adiar o fim dos criadores desses simpáticos animais, fomos informados de que ovos com Ômega 3 podiam nos salvar do inexorável destino. Nunca soubemos o que as galinhas ingeriam para depositar nas gaiolas ovos ômega 3. E creio, jamais saberemos.

Hoje somos informados de que o ovo é um alimento indispensável à nossa dieta de cada dia. Podemos comer ovos sem qualquer culpa e já ninguém se lembra do terrível risco representado pela ingestão de um omelete.

Agora já podemos nos alarmar com o perigo das farinhas que contém glutem.  

Cave Canem

Soube que significava “Cuidado com o Cão”, quando comecei frequentar aulas de Latim, já no primeiro ano do curso ginasial. O ginasial seguia-se ao curso primário, cinco anos na escola, uma só professora em sala de aula. No ginásio, claro, cada matéria tinha um professor e começamos a estudar em separado coisas como Geografia, História do Brasil, História Geral, Latim, Inglês, Francês. No meu segundo ano ginasial no Colégio Santo Agostinho eram 13 matérias se incluídas aí Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais.

No Google fui informado de que a inscrição foi achada da cidade de Pompéia, na Itália, hoje um monumento ao passado romano. A cidade foi arrasada no ano 79 da era cristã, por uma erupção do Vesúvio, vulcão que desde sempre ameaça populações próximas. No presente os moradores de Nápoles.

O Vesúvio derramou lavas e cinzas sobre Pompéia sem dar tempo a que boa parte da população conseguisse fugir para o mar. Muitas pessoas ficaram nas ruas como estátuas de pedra, na posição em que foram alcançadas.

Pompéia, além de porto bastante importante, era uma cidade onde os romanos ricos iam passar férias. Há indícios também de que pessoas da idade do bronze tenham ocupado a região entre 3.000 e 1200 anos antes da era cristã. Hoje é um importante ponto turístico da Itália.

A cidade é um testemunho de parte da história do Império Romano. As escavações feitas a partir do século dezoito nos aproximaram do modo de vida dos homens e mulheres de então, seus hábitos, crenças, gostos, inclusive na arte. As casas tinham paredes cobertas por pinturas e afrescos, alguns eróticos outros que os mais sensíveis poderiam chamar de pornográficos.

O Cave Canem, que provocou meu interesse estava numa das casas escavadas e era um atestado da condição social do dono.

Diálogos de domingo a tarde na AABB do Leblon

- E aquela menina?

- É a mais bonita. Aliás, é linda, lindíssima!  

  -Vai tirar pra dançar?-

- Vou não. Ela já me recusou uma vez.

- Então acho que eu vou.

Ida, pedido, recusa.

- Não te falei. Ela deve estar esperando o namorado.

- Namorado como? Como se fica sentada na beira da pista, esperando? Já fraguei ela dançando com um cara que estudou comigo no Santo Agostinho, um ruivo, o nome de é Derek.

- Um cara chamado Derek já sai levando vantagem!

- É isso. Acho que o pai dele é americano.

- Fodam-se os americanos

- É, mas tem menina que gosta.

- Ou então ela tá esperando um cara mais alto, mais velho, encaminhado na vida.

- É... Pode ser...

- Então vou chamar a Marcinha. É magrinha, mais dança muito.

- Aí não preciso nem te desejar boa sorte. Mas vai rápido que o baile tá acabando.

- É mesmo; daí vamos pra onde?

- Pro Garden, como sempre. Dois chopes, um prato de batata fritas.

- Antes a estratégica passada no Bar dos Bandidos. Duas cachaças pra esticar o chope.

- Uma cachaça, amanhã tem aula. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Sem Fórmulas para Deixar a Bebida

Uma pessoa que conheço faz tempo, e que parece estar a par da minha vida mais do que eu gostaria, pede que eu diga como consegui controlar a bebida. Um seu irmão acaba de perder o emprego porque, com frequência, chegava tarde e com claros sinais de que havia passado antes no botequim. O cara tem dois filhos pequenos e a mulher não trabalha.

Explico que na verdade não consigo controlar totalmente a bebida. Quando muito passo três ou quatro meses de completa abstinência. Há alguns anos consegui me manter longe da vodca por oito meses. Uma só vez.

Gostaria de ter uma fórmula, mas não tenho. No meu caso, quando era um trabalho diário, só bebia nas sextas-feiras depois do expediente. Às vezes esticava até sábado pela manhã, mas ficava careta no domingo. Mas regras têm exceções.

Duas exceções foram minhas passagens pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Teresópolis e pela direção do jornal A Gazeta. No primeiro caso o prefeito foi benevolente o tempo todo, mas foram poucas faltas, três ou quatro, durante os dois anos em que fiquei por lá. Saí quando a administração mudou.

No jornal, a mudança radical que implantei, usando os conhecimentos de minha passagem pelo O Globo, e depois por um jornal em Nova Friburgo, me credenciaram junto ao proprietário. E depois, algumas ausências, às vezes dois dias sem aparecer, não chegavam a fazer cair o nível. O dono do jornal nunca falou sobre essas faltas e a pessoa que me substituía mantinha o padrão e a bola era tocada pra frente sem maiores problemas.

Troquei o jornal pela TV Serramar, que na época pertencia ao grupo Globo, e esse foi um dos maiores erros que cometi na vida. Fiquei menos de dois meses em Friburgo, a sede da emissora, num ambiente tóxico. Na volta nem tentei reassumir A Gazeta. Voltei a TV Serramar no ano seguinte, mas saí sem completar dois anos, novamente brigado com a chefia imediata.

Bom, o que pude dizer a quem me pediu uma fórmula para deixar de beber, ou pelo menos não beber todo dia, é que não há fórmula.  Mas quando você precisa mesmo do emprego, as chances de diminuir o uso do álcool são maiores. Eu disse isso a meu interlocutor. O ócio, ou a possibilidade do ócio, é ruim para quem bebe.

Como não consigo controlar totalmente a necessidade de beber, tento uma vida saudável - caminho dois quilômetros todos os dias pela manhã - e estou sempre ocupado lendo alguma coisa. Recentemente li todos os romances de Machado de Assis e Eça de Queiroz para comparar os dois autores. Depois li toda ou quase toda a obra do uruguaio Eduardo Galeano. Agora estou levando meu Blog a sério.

Ainda assim passei uma semana de outubro dedicada à cerveja. E junto consumi uma garrafa de Velho Barreiro. Fiquei mal. A recuperação é cada vez mais lenta e difícil. Agora, aos 80 anos, preciso de pelo menos uma semana para voltar ao que chamo normal.

Meu amigo não ficou nem um pouco satisfeito com o que eu disse.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Maceió Urgente!

 Você tem alguma ideia do que vai acontecer com moradores dos bairros de Maceió que têm casas sendo engolidas por minas desativadas de salgema? Salgema é um mineral usado na produção de soda cáustica, PVC e cloro.

Eu acho que nada. Ao fim e ao cabo, como se dizia no meu tempo de criança, alguns poucos ganharão casas em locais seguros, para que a Braskan, que abriu os buracos para alcançar a salgema, possa mostrar na mídia – serão lindos comerciais, imagino - sua responsabilidade social.

 Algumas pessoas vão justificar a prática, lembrando que a empresa não pode gastar mais do que o necessário para enganar o respeitável público, porque se assim fizesse deixaria de ser  competitiva no mercado.

E empresas não competitivas, sabemos todos, fecham rapidamente as portas.

E aí quantos perderão seus empregos?

 

sábado, 2 de dezembro de 2023

Sinatra contra John Wayne

 

A história foi contada por alguém da minha idade, alguém da classe média, morador no Leblon, nos anos 50, frequentador da área de lazer do prédio em que morávamos, nº 50 da Avenida Ataulfo de Paiva.

Segundo a versão, numa daquelas festas Hollywoodianas que gostávamos de imaginar, o cantor e ator Frank Sinatra disse alguma coisa que desagradou o também ator John Wayne.

Wayne, especialista em papeis de cowboy, era um gigante, Sinatra um cara franzino.

John Wayne era também um expoente da direita americana, fascista de carteirinha: Sinatra andava com um grupo de atores entre os quais o também cantor e dançarino Samy Davis Júnior. Davis Junior era preto. O grupo se relacionava de perto com o presidente John Kennedy, tido com a face agradável do capitalismo americano.

O que Sinatra disse que irritou John Wayne não chegou até o Leblon, mas a versão que ouvi é que quando o grandalhão partiu pra cima, os guarda-costas de Sinatra surgiram do nada.

 Era gente da máfia e John Wayne bateu em estratégica retirada.

Seria verdade?

As estranhas mortes na ponte

Quando se passa pela editoria de Polícia de um grande jornal, que precisa cobrir a maior parte dos fatos relacionados a homicídios, desastres, prisões, depois de um tempo a gente acha que já viu tudo. De crianças maltratadas até a morte, gente pedindo um socorro que nem os bombeiros conseguem dar, até a maneira como operam quadrilhas internacionais de estelionatários e traficantes, passando por assassinatos que não entram nos noticiários policiais, por que cometidos nas subidas e vielas dos morros que se espalham pelo Rio de Janeiro.

Você aprende também que o jornal não dá suicídio; único fato policial que iguala ricaços a favelados. Suicídio não sai na mídia.  Quando muito a matéria deixa dúvidas.

Aprendi que não tinha visto tudo quando do início da construção da ponte Rio-Niteroi e já havia deixado a Repol e o Globo.

A ponte Rio-Niterói foi construída entre os anos entre 1968 e 1974, em plena ditadura militar, portanto. E para surpresa de quem acompanhava pelos jornais, o consórcio vencedor não incluía nenhuma das grandes empreiteiras tipo Odebrech, Carioca, Mendes Júnior.

As empresas vencedoras eram de menor porte e segundo especialistas no assunto não tinham a menor condição de concluir a obra dentro do orçamento apresentado.

Só que esse era um assunto restrito à ditadura; mídia e sociedade civil não participavam. Opiniões contrárias não apareciam nos jornais nem na TV ou no rádio. Ficavam nos murmúrios do boca-a-boca, porque prisões, torturas e mortes eram comuns a quem se opusesse aos militares no poder.

O recurso do consórcio vencedor, para cumprir com o previsto no orçamento apresentado, era entrar com pedidos de aditamentos. E para que isso fosse possível começaram a aparecer problemas na obra, com seguidas explosões que provocavam a morte de operários e engenheiros.

Conversando com um engenheiro, veterano de obras públicas do qual felizmente esqueci o nome, estranhei a morte de engenheiros, já que grandes empreiteiras em geral não estão nem aí para acidentes com operários em seus canteiros de obras. Mas no caso de funcionários mais graduados, gente oriunda das classes médias, eu particularmente esperava alguma repercussão.

Não houve, os jornais TVs e rádios tiveram que se contentar com o registro das mortes.

O engenheiro, do qual eu não gostava por motivos que algum dia vou colocar em pauta, talvez surpreso com a minha inocência, lembrou, tranquilo, que o custo da obra e o que as empresas vencedoras iriam faturar, se tudo desse certo e o governo concordasse com os aditamentos, estava muito acima da morte de um ou dois engenheiros. Se me lembro foram dois os mortos.

Mortos por nada, porque o governo da ditadura não aceitou os argumentos do consórcio, não fez mais nenhum aditamento e diante do impasse, as obras da ponte passaram a ser feitas pelas grandes empreiteiras inicialmente derrotadas quando foi aberta a concorrência para a construção da Rio-Niteroi. 

Cony, Louzeiro e o Caderno Literário

Fiz o Curso Clássico, o equivalente ao que hoje é chamado de Ensino Médio. Em meados dos anos 60 era possível escolher entres os cursos Científico – Física, Química, Matemática – e Clássico – Línguas, Literatura, História do Brasil, História Geral, Geografia.

Fui devidamente reprovado, já na primeira série do Científico, pela minha total incapacidade de lidar com a maior parte das matérias do currículo. Aconteceu quando eu já estava com 17 anos. Meu pai, cansado de pagar colégios caros: Santo Agostinho no Leblon, Rio de Janeiro em Ipanema, acabou por fazer minha matrícula no Colégio Souza Aguiar, público, curso noturno, Centro do Rio.

Essa troca mudou minha vida. De péssimo aluno, passei a aluno brilhante, principalmente nas aulas da professora Bela Josef, catedrática de Literatura Latino America na UFRJ e professora, também de Literatura, no Souza Aguiar. Dona Bela gostava dos meus textos e meu prestígio ia além, porque nessa época alguns contos escritos por mim foram parar nas páginas do Caderno Literário do jornal Correio da Manhã. (Isso existia naqueles tempos!)

Calos Heitor Cony e José Louzeiro, escritores e colegas de redação do meu pai no Correio, não só incentivaram minhas incursões pela Literatura, como corrigiram meus textos e fizeram com que fossem publicados. Nesse mesmo Caderno Literário eram publicadas matérias dos maiores nomes da literatura brasileira, como Guimarães Rosa, um exemplo de que me lembro bem e outros.

Otto Maria Carpeaux, José Lino Grunewald, Paulo Francis, outros jornalistas e críticos de arte também estavam no Caderno. De vez em quando algum nome do passado aparecia, de repente - um texto inédito de Lima Barreto!? – nas páginas do Correio da Manhã.

Ainda me lembro de uma frase do Cony no apartamento dele no Posto Seis, Copacabana, terminado o copy desk do meu conto O Bêbado, o primeiro a ser publicado no Caderno Literário: “Você é um escritor, tem que seguir na profissão senão vai ser um frustrado”. Por motivos diversos não segui na profissão. Fui para a Faculdade, Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, e virei repórter do O Globo. Primeiro na editoria de cidade; depois na de polícia, à noite.

Ah, escrevi um livro: Breve Estada em Teresópolis, que pode ser lido, na versão eletrônica, na Amazon.  É uma novela (era assim que se chamavam textos maiores que contos, menores que romances) que mistura jornalismo e bebida, muita, muita bebida!!!

  

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Comerciais de outros tempos

 

Veja ilustra passageiro que belo tipo faceiro

o senhor tem a seu lado!

Mas acredite, quase morreu de bronquite,

salvou-o Rhum Creosotado!

Foi dos primeiros comerciais, (no passado eram chamados de anúncios) muito comuns nos bondes dos anos 50.

A publicidade engatinhava. Nas portas das farmácias um pescador de papelão grosso, em tamanho próximo do natural, carregava nas costas um bacalhau, quase da mesma altura dele.

Era o anúncio do óleo de fígado de bacalhau, um gosto horrível, empurrado pela goela abaixo de crianças que na avaliação dos pediatras estavam abaixo do peso (talvez da altura também). Ou não apresentavam aquela cor rosada que revelava saúde.

Não me lembro de ter sido obrigado a tomar óleo de fígado de bacalhau, mas só a possibilidade me apavorava. Por quê? A fama tinha se espalhado, talvez por todo o planeta. E muitos pais usavam o elixir para castigar filhos mal educados, que diziam palavrões, batiam nos amiguinhos ou faziam malcriações para os mais velhos.

Muitos anos depois, já trabalhando numa editora de livros de bolso, vi nas páginas da revista Graphis, o anúncio impresso premiado aquele ano. 

Mens Sana

In Campari Soda

 

O fundo da página era em tom pastel, as letras num rosa suave.

Furiosas

Será que já passou o tempo em que velhinhas mal humoradas perseguiam (de guarda-chuva em punho!) atrizes e atores que faziam papéis de vilões e vilãs nas novelas das oito? Ou a percepção de que entre a realidade da tela e a vida real ainda é tênue o suficiente para provocar esse tipo de reação?