Cyva, Cybele, Cynara, Cylene. Saber que mais uma das meninas
morreu dias atrás me deixa bastante triste. Parece que três delas já nos
deixaram. É que em determinado momento
minha vida e a do Quarteto em Cy tiveram um encontro. Que acabou não durando
muito tempo, um ano ou dois, talvez.
Mas minha memória ainda registra de maneira clara esse tempo.
Em 1962 meu pai, cansado de pagar colégios caros – O Santo Agostinho, no Leblon
e o Colégio Rio de Janeiro em Ipanema e me ver ser inapelavelmente reprovado,
fez minha matrícula no Colégio Estadual Souza Aguiar, no Centro do Rio, curso
Clássico. Não fui pessoalmente fazer a matrícula porque estava servindo o
Exército no Oitavo Grupo de Artilharia Motorizada, quartel no Leblon.
Curso Clássico foi como a entrada num novo mundo. Porque não
precisava estudar Física, Química, Biologia, Matemática, matérias responsáveis
pelos meus fracassos anteriores. De aluno relapso passei a brilhar nas aulas de
português e literatura. Minha professora, catedrática de língua hispânica da
Universidade do Brasil (Hoje URRJ) gostava dos meus testos.
Alguns contos que escrevi foram parar no Caderno Literário
do Correio da Manhã, aumentando meu prestígio. Na minha sala encontrei Cylene, a mais nova
das irmãs e que, aliás, deixou o Quarteto quando começava a fase de sucesso. Gravação
de discos, shows, acompanhando gente como Tom Jobim e Vinícius de Morais.
Claro que eu tentei namorar Cylene. Afinal pelo menos nas
aulas de literatura eu era o cara! Não deu, ela já namorava um futuro médico
com quem, aliás, se casou. Isso no primeiro ano do curso. Acho que hoje se
chama primeiro ano do Segundo Grau.
Acho que fomos nos
tornando amigos porque depois das aulas caminhávamos pela Avenida Chile para
pegar ônibus em direção a Zona Sul. As meninas moravam num apartamento no
Flamengo, bem perto da praia. Eu morava no Jardim Botânico. Quem fazia o mesmo
percurso, às vezes junto com o grupo, era a futura estrela, Leila Diniz. Mas
Leila morava em Santa Teresa e ficava no meio do caminho na Avenida.
Para que se tenha ideia da amizade, estive próximo de um
acontecimento que marcou a vida das meninas do quarteto. Numa de suas loucuras,
simpáticas loucuras, Vinícius de Morais, de repente resolveu tomar o rumo da
Europa. E quis levar a Cynara com ele. Uma viagem às pressas, por motivo
indecifrável. Apesar da proximidade, apesar da importância para o grupo ter o
poetinha por perto, a recusa veio acompanhada de um tremendo stress.
Mas nada mudou. Recusado, Vinícius, levou consigo a noiva de
um rapaz, filho de um grande empresário, que fazia parte do grupo que vicejava em
torno dele. Cynara veio desabafar comigo, e eu realmente não sabia o que dizer.
Outra passagem que lembro bem foi quando eu e meu colega de
turma Sebastião Chaves, estávamos no apartamento do Flamengo com as duas irmãs
mais velhas, Cywa e Cybele. As duas irmãs mais novas tinham ido à Bahia visitar
a mãe.
Não tenho a menor
ideia de como fomos parar lá, nem o motivo. Até porque entre nós – eram outros
os tempos – nunca houve nada mais do que amizade. No meio da noite Cywa teve um
momento de pânico, quando de repente uma espécie de visão das irmãs
ensanguentadas, vítimas talvez de um acidente na estrada, fez com seus nervos
fossem seriamente abalados. Eu e Sebastião tratamos de acalmar as coisas e a
noite terminou.
Nessa época Cynara já devia ter concluído o curso e eu já
estava namorando minha mulher. Minhas relações com meus amigos mais íntimos iam
esfriando, incluída aí turma do colégio Souza Aguiar, que nunca mais encontrei.