Abalroado pelas
revelações de Sérgio Machado, o presidente interino Michel Temer não consegue
se desvencilhar da Operação Lava Jato e fazer seu governo decolar
No segundo semestre de 2012, quando se chateava menos com o caráter
“decorativo” de sua figura no governo de Dilma Rousseff, o então
vice-presidente Michel Temer foi uma ausência notada em
Brasília.
Apesar de dar expediente às terças, quartas e quintas-feiras no
gabinete da Vice-Presidência da República, envolvia-se pouco nos assuntos que
preocupavam o Palácio do Planalto.
Quando Dilma convocava sua tropa de choque
para almoços no Alvorada com o objetivo de discutir as pautas da vez – como o
Código Florestal, a CPI de Carlinhos Cachoeira e a crise financeira –, Michel
Temer não comparecia. Em alguns casos, nem era convidado; em outros, estava
mais ocupado resolvendo pendências do partido que presidia, o PMDB.
Tamanho era o descompasso entre a Presidência e a Vice, entre o PT e o PMDB,
que os dois partidos marcharam com candidatos diferentes à prefeitura de São
Paulo naquele ano. O PT estava firme em Fernando Haddad, apoiado por Lula, e
Michel Temer apostava suas fichas em Gabriel Chalita.
O apoio de Temer a Chalita não se restringia a uma simples chancela
partidária. Em parceria com Eduardo Cunha, à época um deputado evangélico
bem relacionado, em ascensão hiperbólica no partido, Temer batalhou o apoio
evangélico.
Prometeu a Chalita que estaria em São Paulo todas as
segundas-feiras para participar das reuniões do conselho político que
assessorava sua candidatura. Na semana passada, uma delação premiada sugeriu
que a dedicação de Temer pode ter sido realmente grande.
Em seus depoimentos
após o acordo de colaboração com a força-tarefa da Procuradoria-Geral da
República encarregada da Operação Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado, um conviva antigo da cúpula do PMDB, afirmou que Michel Temer
pediu a ele que conseguisse doações oficiais para a campanha de Chalita em São
Paulo.
O encontro, segundo Machado, se deu em uma sala reservada da Base Aérea
em Brasília, em setembro de 2012. Machado afirma que todos do PMDB que faziam
tais pedidos sabiam que o dinheiro viria das propinas pagas por empresas que
mantinham contratos com a Transpetro.
Machado afirma ter atendido ao pedido de
Temer com uma doação oficial de R$ 1,5 milhão da empreiteira Queiroz Galvão ao
Diretório Nacional do PMDB, a ser repassada à campanha de Chalita.
Ao tomar
consciência da delação, Temer reagiu com indignação. Em nota emitida na
quarta-feira, dia 15, Temer disse que, a ser verdadeira a delação de Machado,
ele, Temer, não mereceria estar na Presidência da República. Cabe agora a
Machado provar o que denunciou – em relação a Temer e a vários outros
políticos.
Em seus relatos, aceitos pelo Supremo Tribunal Federal, Machado acusa mais de 20 políticos de se beneficiar das propinas que arrecadou durante quase 12 anos no comando absoluto da Transpetro, o braço da Petrobras encarregado de contratos bilionários de transporte e armazenamento de combustíveis.
Em seus relatos, aceitos pelo Supremo Tribunal Federal, Machado acusa mais de 20 políticos de se beneficiar das propinas que arrecadou durante quase 12 anos no comando absoluto da Transpetro, o braço da Petrobras encarregado de contratos bilionários de transporte e armazenamento de combustíveis.
Além de
Temer, Machado contou ter entregado dinheiro, muito dinheiro, ao presidente do
Senado, Renan Calheiros, ao ex-presidente José Sarney, aos senadores Romero Jucá, Edison Lobão e Aécio Neves
(PSDB), ao deputado Henrique Eduardo Alves, entre muitos outros.
Machado afirma
que, só para o PMDB, arrecadou cerca de R$ 100 milhões, pagos em espécie ou na
forma de doações legais a campanhas. Alguns, como Renan, Jucá, Sarney e Lobão, recebiam, segundo
Machado, uma espécie de mesada, ou um mensalão, como definiria o ex-deputado
Roberto Jefferson – pelos valores, trata-se da acusação mais grave feita por
Machado, apesar do impacto provocado pela acusação ao presidente interino
Michel Temer.
ANA CLARA
COSTA na Época
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