Em vídeo que acompanha sua delação premiada, o
ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que o filho do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique Cardoso, foi usado como
"instrumento de pressão" para uma empresa fechar parceria com a
Petrobras.
Segundo Cerveró, Paulo era
diretor de uma empresa que se associou à Petrobras para construção de uma
termoelétrica, entre 1999 e 2000, quando o delator era subordinado ao
ex-senador Delcídio do Amaral na diretoria de Gás e Energia da estatal.
A associação da firma ligada ao
filho de FHC à Petrobras, afirmou Cerveró,veio de uma ordem direta do então
presidente da estatal, Philippe Reichstul.
"Paulo Henrique Cardoso era
um dos diretores. Ele era como elemento de pressão. Não sabia nem o que era uma
termoelétrica", disse Cerveró, no vídeo de seu depoimento. O ex-diretor
afirma que a empresa se chamava PRS Participações.
No vídeo, ele conta detalhes da
reunião na qual o lobista Fernando Baiano levou empresários da espanhola Unión
Fenosa para conversar com o ex-diretor sobre o contrato da termoelétrica, a
pedido de Delcídio. Na ocasião, porém, o contrato já estava prometido para a
empresa do filho de FHC.
Cerveró classificou a reunião de
"constrangedora" porque os empresários foram lhe encontrar na
expectativa de fechar o negócio. "E o cara [da empresa espanhola] já 'Onde
assino? Dónde firmo?'. E eu, naquela situação de cheiro desagradável",
contou.
"Eu falei, não espera aí.
'Creo que hay un equívoco'. Rapaz, quando eu falei que 'hay un equívoco', não é
bem assim não, o Fernando ficou branco. O Fernando não conhecia este
detalhe", afirmou Cerveró.
"Por que não estava aberta?
Por que o filho, o primeiro filho, fazia parte da sociedade que fez a térmica
da Reduc. O primeiro filho do FHC, Paulo Henrique Cardoso. Ele fazia parte da
empresa que era sócia, que já tinha fechado o acordo pra fazer a térmica",
disse.
Cerveró foi questionado então
pelos investigadores se o acordo fechado era formal ou informal. "Formal
já, por instrução do Philippe Reichstul, direto", respondeu o ex-diretor.
OUTRO LADO
Em nota divulgada na semana
passada, a assessoria de FHC informou que as acusações de Cerveró "não têm qualquer
fundamento". "Notícias veiculadas pela mídia a propósito
de delação do senhor Nestor Cerveró sobre o governo FHC não têm qualquer
fundamento", afirma nota publicada na página de FHC no Facebook.
"Fernando Henrique Cardoso
jamais interferiu ou orientou aquisições pela Petrobras durante os dois
mandatos que exerceu como presidente da República. Esclarecimentos mais
detalhados podem ser prestados pelos técnicos que dirigiram a empresa no
período mencionado", diz o comunicado.
A assessoria de Paulo Henrique
Cardoso informou que ele desconhece a empresa PRS e nunca teve qualquer relação
com ela.
Em carta enviada à Folha na semana
passada, Reichstul disse que nunca ouviu "qualquer
menção" sobre o envolvimento de Paulo Henrique Cardoso em negócios com a
estatal.
MÁRCIO FALCÃO/AGUIRRE TALENTO na
Folha
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