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sábado, 30 de dezembro de 2017

Reajuste do salário mínimo é o menor em 24 anos!




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Conversa Afiada
O presidente da República, Michel Temer, assinou nesta sexta-feira (29) decreto que fixa em R$ 954 o valor do salário mínimo em 2018, aumento de R$ 17 em relação ao valor em vigor. Atualmente, o salário mínimo está em R$ 937.
A medida será publicada ainda nesta sexta em edição extra do "Diário Oficial da União". O reajuste valerá a partir de 1º de janeiro.
O reajuste do salário mínimo em 2018 é o menor em 24 anos. Também é menor do que a estimativa que havia sido aprovada pelo Congresso Nacional, de R$ 965. Com isso, o governo prevê economizar R$ 3,3 bilhões no ano que vem.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Jessé: o Golpe criminalizou a igualdade social



​Bolsonaro é resultado do conluio da Globo com a Lava Jato






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A sociedade brasileira foi vítima​,​ a partir de 2013​,​ de um dos ataques mais insidiosos e virulentos do capitalismo financeiro internacional. O ataque teve um sentido duplo: quebrar a nascente experiência do​s​ BRICS​,​ enquanto tentativa de inserção internacional autônoma do país​,​ e transformar o orçamento público via dívida pública – gigantesca fraude de socialização de prejuízos e privatização de lucros​.​ ​A​lém ​de ​​transformar ​as riquezas nacionais em um espaço livre para a rapina econômica de uma ínfima elite. Como as outras frações dos proprietários, como o agronegócio ou a indústria, retiram seu lucro maior, crescentemente, também da fraude financeira, a fração financeira do capital passa a ter o comando do processo econômico e do processo político.
O capitalismo financeiro não é apenas uma nova ordem econômica mundial. Ele não muda apenas a forma e a velocidade da acumulação do capital e a forma de​ controle do processo de trabalho. Ele também criminaliza e estigmatiza a esfera política para que esta perca qualquer autonomia​,​ e a agenda predatória financeira possa se impor sem qualquer restrição. E, acima de tudo, deseja evitar a mediação política como expressão de interesses das classes populares.
Daí a criminalização dos movimentos populares, o ataque aos sindicatos e a estigmatização dos partidos de esquerda. Na dimensão simbólica o ataque foi planejado há décadas pela disseminação de “think tanks” conservadores no mundo todo e pela compra e cooptação da indústria cultural e da imprensa a nível mundial. O núcleo duro da nova forma de poder é bifronte: o capital financeiro assalta a população e legaliza sua corrupção pela compra da ​P​olítica e do ​J​udiciário; e a grande imprensa frauda o público ​com a​ distorção sistemática da realidade.
Essa estratégia de manipular as mentes para assaltar o bolso dos imbecilizados já tinha sólida tradição no Brasil. Como mostro no meu livro mais recente (“A elite do atraso”, Leya, 2017) a elite paulistana constrói a criminalização seletiva da política, contra Getúlio Vargas e seu projeto nacional, ao cooptar a elite intelectual e fundar a imprensa elitista e venal que hoje possuímos. A ascensão de Vargas, com apoio da classe média “tenentista”, havia mostrado à elite a necessidade de​ control​ar​ a heterodoxia rebelde da classe média letrada. Se​,​ em relação ​à​ classe trabalhadora e ​à​ “ralé” de marginalizados​,​ a violência material e física era, e continua a ser, o tratamento “normal”, em relação à classe média a estratégia teria que ser outra.
Como a pequena elite precisa da classe média como aliada carnal no exercício diário da dominação econômica social e política, a classe média tem que ser seduzida e conquistada. Daí a estratégia de convencimento e,​ não​,​ de repressão. Para “convencer” s​ão necessárias​ ideias e uma imprensa elitista e venal para distribui-las.
Essa elite cria então a USP como ​um​ gigantesco “think tank” do liberalismo conservador brasileiro​.​ ​E faz dela a ​universidade de referência nacional, que forma os professores e estipula os critérios das outras universidades. Assim, temos a formação de todas as elites nacionais segundo uma referência comum. Essa referência nacional comum vão ser as ideias centrais de patrimonialismo e de populismo ambas criadas e difundidas na USP.
A primeira diz que a corrupção é só do Estado e da política para tornar invisível a corrupção do mercado​, que se torna​ possível pela captura do Estado enfraquecido e criminalizado. Depois, ainda diz que a elite do mal está no Estado​, enquanto o mercado​ é um espaço idealizado só de virtudes como ​o ​empreendedorismo, ​a ​honestidade, ​o ​trabalho duro e ​a ​iniciativa individual. Já o populismo serve para tornar as classes populares suspeitas de burrice inata e, portanto, presa fácil de líderes demagógicos e manipuladores.
Com isso, de uma penada, pode-se mitigar o princípio da soberania popular e tornar suspeita qualquer liderança popular. São essas ideias, distribuídas desde então pela mídia venal todos os dias, que envenenam a capacidade de reflexão da população e da classe média.
Como se não bastasse, criou-se também uma narrativa histórica de longa duração, baseada nessa visão distorcida​. Ela possibilita uma singularidade “vira lata”​,​ hoje patrimônio indissociável de todo brasileiro. É que a corrupção dos tolos, só do Estado e da política, passa a ser percebida como herança portuguesa e agora ensinada não só nas universidades, mas, também a toda criança brasileira na escola.
O ridículo dessa crença que supõe existir ​em​ no século XIV em Portugal noções que foram criadas no século XVIII, como a noção moderna de ​"​bem público​",​ que pressupõe a ideia de soberania popular, não parece ter incomodado ninguém. O ponto decisivo, ao arrepio da verdade e da inteligência, é inverter o sentido d​a​ apropriação do público: ​passa a ser ​um ​atributo do Estado e da política​,​ e​,​ nunca​,​ do mercado e da elite de proprietários.
Sem esclar​ecer ​essa pré-história​,​ a conjuntura atual é incompreensível. ​O​ golpe de 2016 é uma continuidade aprofundada e mais cruel dessa grande fraude brasileira que começa em 1930. Todos os golpes de Estado desde então tiveram exatamente o mesmo roteiro. No golpe recente não apenas se reverberou a mentira pronta de cem anos da corrupção dos tolos e do populismo. Sob o comando da ​R​ede ​G​lobo e da farsa da “​L​ava ​Jato"​ atacou-se também o próprio princípio da igualdade social como maior valor do ​C​ristianismo e da cultura ocidental.
O ataque seletivo ao PT, entre 2013 e 2016, como “organização criminosa”, narrativa criada pela ​R​ede ​G​lobo e depois assumida pela própria “lava a jato”, desnudando seu conluio midiático e elitista, é o principal elemento da conjuntura política atual.
Assim, além da criminalização da política e das lideranças populares, procurou-se criminalizar, também, a própria noção de “igualdade” como valor em si.
É que o PT, com todos os seus defeitos, foi a única verdadeira novidade da política brasileira nesses últimos cem anos. Um partido que nasceu, em grande medida, de baixo para cima, uma espécie de confederação de movimentos sociais e associações de trabalhadores do campo e da cidade, e que procurou assegurar uma pequena parte da riqueza social e do orçamento público também para a maioria mais carente. Ao criminalizar apenas o PT – enquanto nos outros partidos se “fulaniza” a corrupção – a mídia e a farsa da “lava jato” conseguiram rebaixar a própria demanda por igualdade, que o PT simbolizava para as classes populares​.​
​P​ara onde v​ão​ o ressentimento e a raiva que os excluídos sentem pela exclusão injusta? Sem expressão racional e política possível, a raiva e o ressentimento popular se transformam em massa informe de anseios, medos e desejos irracionais ​à​ procura de expressão. Esse é o verdadeiro pano de fundo para as eleições de 2018.
Jair Bolsonaro como ameaça real só é compreensível pela ação conjunta do conluio grande mídia/​R​ede ​G​lobo e ​L​ava ​J​ato. Por sua vez, a imunidade parcial de Lula é reflexo da inteligência prática das classes populares​,​ que percebem a política como jogo dos ricos e corruptos, e querem saber unicamente o que sobra para eles no final. E foi Lula quem entregou algo a quem nunca teve nada.
Apesar do sucesso pragmático inicial​,​ o golpe perde legitimação a cada dia. Seu planejamento míope e de curto prazo cobra agora alto preço dos que sujaram a mão pela elite do saque: a imprensa venal que arriscou seu capital de confiança; a casta jurídica que acobertou a ​L​ava ​J​ato e destruiu a segurança jurídica; e a política tradicional​,​ que perdeu qualquer legitimidade. Articuladores tão medíocres fizeram com que, pela primeira vez nestes cem anos de domínio material e simbólico da elite do saque, as entranhas do país real estejam ​à​ mostra como nunca dantes.
Tudo que era sólido se desfez no ar. Todas as ideias que colonizavam a ​D​ireita e a ​E​squerda também. As oportunidades abertas pelo fracasso na legitimação do golpe são revolucionárias. Elas podem, efetivamente, permitir expor a crueldade do domínio de uma elite mesquinha e de seus prepostos hipócritas na mídia e no aparelho de Estado. Abre-se a possibilidade objetiva de um processo de aprendizado histórico inédito no Brasil.
O problema real da oposição de “​E​squerda” é que ela foi criada neste mesmo jogo e, ainda pior, nas mesmas ideias. A ​E​squerda é tão miopemente moralista quanto a ​D​ireita. Também não possui ideias próprias acerca do funcionamento da sociedade nem do Estado. Daí ter perdido a narrativa da ascensão social, que ela mesma produziu, para as igrejas evangélicas. Daí ter aparelhado e dado força ​à​s instituições de Estado que​,​ depois​,​ a perseguiram com sanha assassina.
Como em toda crise radical temos agora em 2018 tanto a possibilidade do caos quanto a oportunidade do novo.
O discurso da E​squerda não pode ser o da volta ao passado, mas o do aprendizado de um novo futuro. O desafio é difícil mas incontornável.
​Jessé Souza​
​Sociólogo, foi presidente do IPEA e hoje dirige a Escola do Tribunal de Cintas do Município de São Paulo​

sábado, 16 de dezembro de 2017

CUT-Vox confirma: ninguém ganha do Lula




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(Crédito: Edson Rimonatto)

O empenho de parte do Judiciário e da mídia em perseguir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não mudou a percepção da maioria dos brasileiros sobre quem é o candidato certo para corrigir os rumos do país e promover desenvolvimento econômico e social, com justiça e distribuição de renda.
Se a eleição presidencial fosse hoje, Lula venceria todos os candidatos no primeiro e no segundo turnos, aponta pesquisa CUT-Vox Populi, realizada entre os dias 9 e 12 de dezembro. Tanto na simulação espontânea quanto na estimulada, em que os nomes dos candidatos são apresentados aos eleitores, o ex-presidente tem mais votos do que a soma dos demais candidatos.
Na simulação do voto espontâneo para presidente, que indica uma intenção mais sólida dos entrevistados votarem em determinados candidatos, Lula teria 38% dos votos.
Juntos, os demais candidatos, considerando, inclusive, quem citou “outros”, têm 22% das intenções espontâneas de voto. O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem 11%; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), e Marina Silva (Rede-AC), 2%, cada; o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), 1%, cada. Um percentual de 5% dos entrevistados pela CUT-VOX disse que votaria em “outros” candidatos; ninguém/brancos e nulos, 17%; e, não sabem ou não responderam, 24%.
Nesse cenário, Lula continua imbatível no Nordeste, com 63% das intenções de voto. No Centro-Oeste/Norte ele tem 33%; no Sudeste, 30%; e, no Sul, 17%.
Pesquisa estimulada
Na pesquisa estimulada com cinco candidatos na disputa, Lula teria 45% das intenções de votos contra 31% da soma dos demais candidatos. Bolsonaro teria 15%; Marina, 7%; Alckmin, 6%; Ciro, 3%. Ninguém, brancos e nulos, 14%; e não sabem ou não responderam, 11%.
Também nesse cenário, Lula é o preferido pelo povo do Nordeste, com 68% das intenções de votos; do Centro-Oeste/Norte, com 48%; e do Sudeste, 36%. No Sul, ele tem 21% das intenções de voto.
Lula é também líder absoluto entre as mulheres, 46% (homens, 43%); os maduros 50% (entre os jovens tem 44% e entre os adultos, 43%); os mais pobres, que ganham até 2 salários mínimos, 58% (42% entre os que ganham mais de 2 SM e até 5 SM; e 24% entre os que ganham mais de 5 SM); e os que estudaram até o ensino fundamental, com 55% das intenções de votos (39% entre os que estudaram até o ensino médio; e 28% do ensino superior).
Segundo turno
Na simulação com Marina e Alckmin, Lula venceria ambos com 50% dos votos. A candidata da Rede teria 13% e o governador de São Paulo, 14%.
Na simulação com Bolsonaro, Lula teria 49% e o deputado carioca, 18%. 
Estimulada com dez candidatos
Na estimulada com dez candidatos, Lula teria 43% das intenções de voto contra 33% da soma dos demais candidatos.
Bolsonaro teria 13% das intenções na estimulada; o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, 7%; Marina, 5%; Alckmin, 4%; Ciro, 2%; o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) e o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD-GO), 1% cada. Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) e João Amoêdo (Partido Novo-RJ) não pontuaram. O percentual de ninguém/branco ou nulo foi de 13%; e o de não sabem/não responderam, 11%.
Neste cenário, Lula também é o primeiro colocado nos recortes por região, gênero e classe social. Ele tem mais votos que todos os outros no Nordeste, 67% (Centro-Oeste/Norte, 46%; Sudeste, 35%; e, Sul, 18%). É o escolhido também pela maioria das mulheres (45%) e dos homens (41%); pelos maduros, 47%; jovens, 43%; e, adultos, 42%. E, novamente, é o preferido pelos mais pobres, que ganham até 2 salários mínimos (56%) e que estudaram até o ensino fundamental (53%).
Lula, o melhor e mais admirado presidente do Brasil
Para 47% dos entrevistados pela pesquisa CUT-Vox Populi, Lula é o melhor presidente que o Brasil já teve.
É o mais trabalhador e líder político para 59% dos entrevistados; o  mais capaz de enfrentar uma crise para 55%; é humilde e se preocupa com as pessoas, para 54%; é bom administrador/competente, 53%; é sincero/tem credibilidade, 42%; e é honesto para 32%.
E mais: Lula tem mais qualidades (50%) que defeitos (41%); fez mais coisas certas (56%) que erradas (37%) e, nos 13 anos de governos do PT, com Lula e Dilma, a vida melhorou para 54% dos entrevistados. Outros 30% responderam que não melhorou nem piorou e 14% que piorou.
A CUT-Vox Populi entrevistou 2.000 pessoas, em 118 municípios de todos os estados e do Distrito Federal, em capitais, regiões metropolitanas e no interior, e abrangeu todos os estratos socioeconômicos. A margem de erro é de 2,2%, estimada em um intervalo de confiança de 95%.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Como 'comportamento de manada' permite manipulação da opinião pública por fakes




Empresa brasileira teria empregado exército de fakes para favorecer políticos nas redes sociais; Facebook diz "esperar" tomar medidas contra perfis.


 
Usuários reais estão sujeitos à manipulação de perfis falsos nas redes sociais (Foto: Kako Abraham/BBC)
A estratégia que vem sendo usada por perfis falsos no Brasil e no mundo para influenciar a opinião pública nas redes sociais se aproveita de uma característica psicológica conhecida como "comportamento de manada".
O conceito faz referência ao comportamento de animais que se juntam para se proteger ou fugir de um predador. Aplicado aos seres humanos, refere-se à tendência das pessoas de seguirem um grande influenciador ou mesmo um determinado grupo, sem que a decisão passe, necessariamente, por uma reflexão individual.
"Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso", diz Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre a atuação de usuários nas redes sociais.
Ele estuda desinformação nas redes e testou sua teoria com um experimento: controlou quais comentários apareciam em um vídeo do YouTube e monitorou a reação de diferentes pessoas.
Quanto mais elas eram expostas só a comentários negativos, mais tendiam a ter uma reação negativa em relação àquele vídeo, e vice-versa.
"Um vai com a opinião do outro", conclui Benevenuto. Em seu experimento, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a influência estava também ligada a níveis de escolaridade: quanto menor o nível, mais fácil era ser influenciado.

Exército de fakes Usuária identificada como falsa, com foto de perfil de banco de dados, tem 2.426 amigos (Foto: Reprodução/Facebook)

Usuária identificada como falsa, com foto de perfil de banco de dados, tem 2.426 amigos (Foto: Reprodução/Facebook)
Usuária identificada como falsa, com foto de perfil de banco de dados, tem 2.426 amigos (Foto: Reprodução/Facebook) 
Evidências reunidas por uma investigação da BBC Brasil ao longo de três meses, que deram origem à série Democracia Ciborgue, da qual esta reportagem faz parte, sugerem que uma espécie de exército virtual de fakes foi usado por uma empresa com base no Rio de Janeiro para manipular a opinião pública, principalmente, no pleito de 2014. E há indícios de que os mais de 100 perfis detectados no Twitter e no Facebook sejam apenas a ponta do iceberg de uma problema muito mais amplo no Brasil.
A estratégia de influenciar usuários nas redes incluía ação conjunta para tentar "bombar" uma hashtag (símbolo que agrupa um assunto que está sendo falado nas redes sociais), retuítes de políticos, curtidas em suas postagens, comentários elogiosos, ataques coordenados a adversários e até mesmo falsos "debates" entre os fakes.
Alguns dos usuários identificados como fakes tinham mais de 2 mil amigos no Facebook. Os perfis publicavam constantemente mensagens a favor de políticos como Aécio Neves (PSDB) e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), além de outros 11 políticos brasileiros.
Eles negam ter contratado qualquer serviço de divulgação nas redes sociais por meio de perfis falsos. A investigação da BBC Brasil não descobriu evidências de que os políticos soubessem do expediente supostamente usado.
Eduardo Trevisan, dono da Facemedia, empresa que seria especializada em criar e gerir perfis falsos, nega ter produzido fakes. "A gente nunca criou perfil falso. Não é esse nosso trabalho. Nós fazemos monitoramento e rastreamento de redes sociais", disse à BBC Brasil.

Personas

As pessoas que afirmam ser ex-funcionárias da Facemedia entrevistadas pela BBC Brasil disseram que, ao começar na empresa, recebiam uma espécie de "pacote" com diferentes perfis falsos, que chamavam de "personas". Esses perfis simulavam pessoas comuns em detalhes: profissão, história familiar, hobbies. As mensagens que elas publicavam refletiam as características criadas. 
"As pessoas estão mais abertas a confiar numa opinião de um igual do que na opinião de uma marca, de um político", disse um dos entrevistados.
"Ou vencíamos pelo volume, já que a nossa quantidade de posts era muito maior do que o público em geral conseguia contra-argumentar, ou conseguíamos estimular pessoas reais, militâncias, a comprarem nossa briga. Criávamos uma noção de maioria", diz um ex-funcionário.
Para Yasodara Córdova, pesquisadora da Digital Kennedy School, da Universidade Harvard, nos EUA, e mentora do projeto Serenata de Amor, que busca identificar indícios de práticas de gestão fraudulentas envolvendo recursos públicos no Brasil, "a internet só replica a importância que se dá à opinião das pessoas ao redor na vida real".
"Se três amigos seus falam que um carro de uma determinada marca não é bom, aquilo entra na sua cabeça como um conhecimento", diz ela.

Confiança abalada

Para Lee Foster, da FireEye, empresa americana de segurança cibernética que identificou alguns perfis fakes criados por russos nas eleições americanas, essa tentativa de manipulação pode não fazer as pessoas mudarem seus votos. "Mas podem passar a ver o processo eleitoral todo como mais corrupto, diminuindo sua confiança na democracia", afirma.
"As redes sociais estão permitindo cada vez mais coisas avançadas em termos de manipulação nas eleições", diz Benevenuto, citando as propagandas direcionadas do Facebook. "Estamos entrando em um caminho capaz de aniquilar democracias."
A solução proposta por pesquisadores para o problema dos perfis falsos e robôs em redes sociais vai da transparência das plataformas ao esforço político de "despolarizar" a sociedade.
Córdova diz que não se deve pensar em "derrubar todos os robôs" - que não são necessariamente maliciosos, são mecanismos que automatizam determinadas tarefas e podem ser usadas para o bem e para o mal nas redes sociais.
"É impossível proibi-los. A saída democrática é ter transparência para outros eleitores", afirma. Se "robôs políticos" existem e estão voluntariamente cedendo seus perfis para reproduzir conteúdo de um político, eles devem estar marcados como tal, como, por exemplo, "pertencente ao 'exército' do candidato X".

Transparência

Defensora do direito à privacidade e da liberdade de expressão, a pesquisadora Joana Varon, fundadora do projeto Coding Rights ("direitos de programação"), também defende a transparência como melhor via. "Anonimato e privacidade existem para proteger humanos. Bots (robôs de internet) feitos para campanha eleitoral precisam ser identificáveis e registrados, para não enganar o eleitor", afirma.
Mas como aplicar essa lógica para os perfis falsos controlados por pessoas que prestariam serviço secretamente para políticos, como os identificados pela BBC Brasil?
Para Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), deve haver maior transparência e regulação em plataformas como o Facebook, que deve começar a agir "como se fosse um Estado, já que virou a nova esfera pública", onde acontecem discussões e interações. Ou seja, a plataforma deve começar a se autorregular, se não quiser ser regulada pelos Estados.
Uma de suas tarefas, diz ele, deve ser excluir esses perfis falsos da rede - algo que a própria empresa diz, sem dar detalhes, que pretende fazer no Brasil antes das eleições de 2018.
"Mas o grande desafio mesmo é desarmar a sociedade, que está muito polarizada e sendo estimulada nos dois campos. Sem essa polarização, cai a efetividade dos perfis falsos", diz Ortellado.
Córdova defende que os usuários sejam educados sobre o que são robôs e que mais pessoas os estudem. "O remédio contra esses exércitos de robôs é um exército de pessoas que entendam a natureza dessas entidades na internet."
Além disso, diz, a tendência é que as plataformas deixem as pessoas controlarem seus próprios feeds e que existam cada vez mais empresas de checagem de notícias, já que outra preocupação em 2018 são as "fake news" (notícias falsas). "Não tem solução mágica. É um ecossistema que está sendo criado."
À BBC Brasil, o Twitter informou que "a falsa identidade é uma violação" de suas regras e que contas que representem "outra pessoa de maneira confusa ou enganosa poderão ser permanentemente suspensas".
O Facebook diz que suas políticas não permitem perfis falsos e que está aperfeiçoando seus sistemas para "detectar e remover essas contas e todo o conteúdo relacionado a elas". "Estamos eliminando contas falsas em todo o mundo e cooperando com autoridades eleitorais sobre temas relacionados à segurança online, e esperamos tomar medidas também no Brasil antes das eleições de 2018."