A bomba de Romero Jucá repercute
mundialmente, expondo a conspiração que levou ao poder a gangue de Michel Temer
e Cunha — e o STF se junta ao PSDB e a Sergio Moro num silêncio
cúmplice e eloquente.
Nenhum pio dos onze ministros, nenhuma
nota dura ou mole para contar que eles nunca estiveram abertos a pacto para
barrar a Lava Jato, como afirmou Jucá. A conclusão, por enquanto, é de que,
sim, eles estavam fechados em torno de um acordo político.
Na gravação a que a Folha teve acesso,
Jucá diz a Sérgio Machado, ex-líder tucano no Senado, que conversou “com alguns
ministros do Supremo”.
“Os caras dizem ‘ó, só tem condições de
[inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras
querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu?”
Mais adiante, o diálogo é o seguinte:
MACHADO – É um acordo, botar o Michel,
num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
[…]
O golpe se escancara com os dois pesos
e duas medidas do Judiciário. Quando Lula chamou a corte de “acovardada” nos
famosos grampos — o que é um chamego perto do estupro constitucional em que
Jucá a envolveu —, Celso de Mello partiu para cima com virulência no mesmo dia.
“Foi uma reação torpe e indigna, típica
de mentes autocráticas e arrogantes”, acusou o decano, acrescentando que a
manifestação de Lula merecia “repulsa”.
“Ninguém, absolutamente
ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição
de nosso país, a significar que condutas criminosas perpetradas à
sombra do poder jamais serão toleradas”.
Ricardo Lewandowski se posicionou com
igual rapidez: “Os constituintes atribuíram a essa corte a elevada missão de
manter a supremacia da Constituição e a manutenção do Estado Democrático de
Direito. Tenho certeza de que os juízes desta casa não faltarão aos cidadãos
brasileiros no dever.
Há poucos dias, o falastrão Gilmar
Mendes fez questão de, como sempre, responder a Dilma depois que ela afirmou
“estranhar” a suspensão das diligências no inquérito que investiga o senador
Aécio Neves, que estão sob os cuidados do amigo.
“Posso fazer uma ironia sobre a
presidente Dilma? Só vou falar sobre a presidente Dilma nos autos”, ironizou,
horas depois.
Ainda que Jucá tenha blefado sobre sua
influência no Supremo, o fato é que o que ele prometeu a Machado se
concretizou. E o fato de que nenhum dos juízes tenha negado qualquer coisa
até agora é mais um sinal de que estava tudo combinado, inclusive com os
russos.
Texto: Kiko Nogueira*
*Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do
Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação
da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação
da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
Texto Kiko Nogueira, no Diário do
Centro do Mundo
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