BRASÍLIA - O ministro do Planejamento,
Romero Jucá, rebateu as gravações divulgadas pelo jornal "Folha de
S.Paulo" em que articula com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado,
um pacto para barrar a Lava-Jato. Ele reforçou que defende a operação e disse
que a gravação foi divulgada fora de contexto e com “frases soltas”. Além
disso, sinalizou que a permanência dele no cargo depende do presidente interino
Michel Temer.
- Há muita coisa para fazer e eu vou
fazê-lo até o dia que o presidente Michel Temer entender que eu tenho condição
de atender esse papel. Minha função não é de ministro do Planejamento, eu estou
ministro. Minha função é de senador da República, eleito três vezes. Devo
satisfação a todos os setores do Brasil - disse.
Nos áudios gravados, Jucá diz a Machado
que devem “estancar a sangria” causada pelas investigações do juiz Sérgio Moro
e comenta que as próximas delações não deixariam “pedra sobre pedra”. Ele ataca
ainda o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, e do PSDB, Aécio Neves.
Na gravação divulgada pela Folha, Jucá diz que a ficha do PSDB teria caído e
que Aécio seria “o primeiro a ser comido”. Eles sugeriram que a eleição que
alçou o tucano à presidência da Câmara dos Deputados, em 2001, teria tido
ilegalidades.
Jucá definiu o ex-senador Sérgio
Machado como um amigo pessoal e disse que ele teria ido a sua casa na ocasião
da conversa.
- É uma pessoa com quem convivi durante
muitos anos. Ele conversou sobre outros assuntos da política e da economia, das
saídas que poderiam ocorrer e mencionou a situação dele. O diálogo foi feito de
uma forma extensa. O que nós vemos no jornal Folha de São Paulo são frases
soltas dentro de um diálogo que ocorreu. Portanto, é importante registrar o
contexto. Quero reafirmar que a análise e os comentários que fiz na conversa
são de domínio público. Tenho dito o que disse permanentemente a jornalistas e
entrevistas.
No meio da entrevista coletiva, cerca
de 20 manifestantes se posicionaram em frente ao Ministério do Planejamento
pedindo “Fora Temer” e “Fora Jucá”. O ministro do Planejamento reiterou
repetidas vezes que não pretende pedir o afastamento mas que a permanência no
cargo depende do presidente Temer.
- O cargo é do presidente, o presidente
tem o condão de colocar e tirar. Eu não nasci ministro do Planejamento e não
vou morrer ministro do Planejamento. Não vejo razões para pedir afastamento, me
sinto muito tranquilo. Não me sinto atrapalhando o governo, me sinto ajudando.
Ele disse ainda que tem cobrado que o
Ministério Público se pronuncie sobre as investigações em relação a ele, porque
a situação é “um incômodo”.
- Não fui mais procurado (pelo
Ministério Público) e tenho cobrado que o Ministério Público se pronuncie,
porque para mim é um incômodo toda a matéria, toda a discussão. Em todo lugar
as pessoas dizem: você está sendo investigado. Ninguém mais do que eu quer que
essa investigação seja concluída.
Segundo Jucá, o governo Dilma Rousseff
estava paralisado pela Operação Lava-Jato e disse que Michel Temer tem agora o
papel de fazer um governo de “salvação nacional”.
- O governo Michel Temer não tem nenhum
indicador de corrupção. É um governo de mudança e está sendo e será sentida
pela sociedade.
'NÃO HÁ DEMÉRITO EM SER
INVESTIGADO'
Jucá reafirmou o que disse em outras
entrevistas de que “não há demérito em ser investigado, há demérito em ser
culpado”. Ele disse também que sempre apoiou a Lava-Jato, inclusive sendo
favorável à recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao
cargo.
- Da minha parte, sempre defendi,
explicitei e apoiei com atos a Operação Lava-Jato. O Brasil terá uma outra
história após a operação Lava-Jato. Nunca tratei com ninguém, nem no Supremo,
nem no Ministério Público para tentar interferir em qualquer investigação ou
resultado dela.
Ele ainda explicou que, ao falar que é
preciso “estancar a sangria”, ele se referia à paralisia da economia. Ele
criticou a “generalização” de que todos os políticos estão envolvidos em
corrupção e que “paira uma nuvem negra” sobre todos os políticos que citam a
Lava-Jato.
- É muito importante estancar a
paralisia do Brasil, estancar a sangria da economia e do desemprego e também
delimitar quem tem culpa e quem não tem culpa. Hoje há uma generalização que
não é boa para a política brasileira.
Questionado ainda sobre a parte da
gravação em que ele diz que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha,
está “morto”, Jucá explicou o contexto:
- O Renan Calheiros não concordava com
a solução Michel e entende que fortalece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está
numa situação difícil, está com os problemas dele. O Eduardo está morto,
coitado, está cuidado da vida dele, não vai interferir para atrapalhar o Renan.
AGENDA ECONÔMICA
Jucá, afirmou que a agenda econômica do
governo Michel Temer não fica prejudicada pelo vazamento das conversas. Segundo
o ministro, a repercussão em torno do áudio “cria uma onda”, mas não atrapalha
a pauta.
Ao ser perguntado sobre o fato de o
mercado financeiro ter começado o dia turbulento e se isso estaria relacionado
a sua permanência no comando do Planejamento, Jucá rebateu:
- Na vida, tudo tem duas leituras. A
Bolsa pode ter entendido que, se eu sair, será ruim para a economia. Eu faço
uma leitura diferente do respaldo que eu tenho junto aos agentes econômicos.
E acrescentou depois:
- A Bolsa pode ter caído com a
possibilidade de eu cair. Vamos ajudar a economia, vamos levantar a Bolsa.
O ministro lembrou que o presidente
interino Michel Temer
vai nesta segunda ao Congresso entregar o projeto que altera a meta fiscal de
2016, cuja votação deve ocorrer amanhã. Segundo ele, esse é seu foco
de trabalho.
- A divulgação desses áudios faz uma
onda, mas não tem consequência prática em nenhuma votação de interesse do
governo. Hoje, às 16 horas, levaremos a proposta (de alteração da meta) ao
presidente do Senado, Renan Calheiros, e há previsão de se votar amanhã. Essa é
uma prioridade do Brasil. Esse é o meu foco. Eu me submeterei à operação
Lava-Jato, mas ela não é o meu foco.
O Globo on
line/Foto - Andre Coelho
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