O emprego elevado é um diferencial,
mas é preciso crer que os leilões da infraestrutura vão puxar os investimentos
Desde o início da presente década a economia brasileira mantém o mercado
de trabalho funcionando num nível bastante próximo do pleno emprego, o que
representa um diferencial importante em relação à grande maioria dos países
razoavelmente civilizados que apenas conseguiram recuperar ínfima parcela dos
50 milhões de empregos detonados a partir de 2008/2009 pela grande recessão,
equivalente a menos de 20% dos postos de trabalho que a crise financeira
suprimiu – de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho, OIT –
nos países da Comunidade Europeia, do Norte da África e nos Estados Unidos.
Sem ter de lidar com a tragédia do desemprego, nossa sociedade
aparentemente não se mostrou atenta nos últimos anos para a necessidade de se
alterar a ênfase de uma política de estímulos ao consumo e dar efetiva
prioridade às políticas que levariam ao aumento dos investimentos. Demoramos a
entender que, quando se está próximo do pleno emprego, não podemos crescer como
no passado simplesmente absorvendo mais mão de obra.
Aconteceu uma revolução demográfica que mudou o Brasil: as mulheres reduziram
a taxa de fertilidade pela educação, passaram a procurar o mercado de trabalho
e assumiram papel central na redução da pobreza: aceitaram a realidade segundo
a qual a única possibilidade de ascensão social de seus filhos é pela educação,
de tal forma que isso reduziu dramaticamente a taxa de crescimento da força de
trabalho.
Em 2010, tínhamos praticamente uma situação de pleno emprego. Hoje, para
retomar o desenvolvimento será preciso dar à mão de obra que já está empregada
mais capital, mais acesso à tecnologia e novos estímulos para trabalhar, de
forma que o crescimento da população condicione a natureza do desenvolvimento.
O crescimento econômico deve
ser feito com o aumento dos investimentos privados e públicos, principalmente
na melhora da infraestrutura, cujas dificuldades são em geral as maiores
inibidoras dos investimentos dos setores privados.
Evidentemente, estar perto do pleno
emprego é muito benéfico para o Brasil, algo fantástico que estamos deixando de
levar em consideração, já que é uma vantagem extraordinária: o mais importante
é dar emprego à nossa gente, mostrar que a economia está funcionando. Agora, é
preciso entender que, uma vez atingido esse nível, a única forma de crescer é
através do investimento. Não adianta manter a ênfase só no consumo,
porque isso pode levar a mais inflação e a aumentar o déficit em conta
corrente.
Desde 2012 a presidenta Dilma Rousseff havia entendido isso, quando procurou acelerar os programas de concessões.
Desde 2012 a presidenta Dilma Rousseff havia entendido isso, quando procurou acelerar os programas de concessões.
Lamentavelmente, houve erros grosseiros da burocracia estatal ao
insistir que era possível estabelecer ao mesmo tempo a qualidade da concessão e
a taxa de retorno do investimento. Afinal, o governo entendeu esses fatos, mas
demorou a superar as resistências tipicamente burocráticas no financiamento dos
investimentos.
É preciso que a sociedade – principalmente o setor produtivo – acredite
que o sucesso atual nos leilões da infraestrutura vai levar a uma ampliação dos
investimentos e, portanto, justificar as decisões de novos investimentos.
Recentemente, a presidenta e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega,
reuniram-se em Brasília com os empresários representando os setores que
investem nas obras do PAC, sinalizando uma melhora no relacionamento com o
governo, que efetivamente passou a existir desde o segundo semestre do ano
passado.
O grosso dos investimentos na infraestrutura já decididos deve começar a
maturar daqui a dois anos. De acordo com o mais recente levantamento da
Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, os recursos
injetados em concessões nas três áreas principais, Logística de Transportes
(rodovias, aeroportos, ferrovias e sistemas portuários), Energia (geração e
transmissão) e Telecomunicações, devem somar 300 bilhões de reais entre 2015 e
2017. Pelo fato de que boa parte desses recursos se refere a obras já
licitadas, com valores já contratados, a Seae considera que se trata de uma
estimativa conservadora do quanto será efetivamente investido nos próximos
quatro anos.
Publicado 01/07/2014
04:29
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