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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Estudantina Musical

Ficava na Praça Tiradentes e chamava-se Estudantina Musical. Era uma gafieira e como todas das gafieiras era um lugar de respeito. Se você se engraçasse lá dentro a segurança aparecia rápido e você tinha que descer, mais rápido ainda, as escadas que terminavam na calçada. Um amigo meu que não acreditou nos protocolos da casa foi irremediavelmente posto na rua. Eu só vi o que tinha acontecido quando, por acaso, cheguei na varanda, por trás do conjunto que animava o baile. Resultado: pegamos um ônibus e fomos gastar os trocados num bar de Copacabana.

A Estudantina fazia sucesso porque nós, a rapaziada que se considerava de esquerda, costumava passar por lá nas noites dos fins de semana. A direita nos chamava pejorativamente de “Esquerda Festiva”, mas nós levávamos a sério nossas posições. Tínhamos razoável conhecimento das obras de Marx – eu, por exemplo, tinha lido a versão simplificada de O Capital, livro da Editora Zahar que resumia o calhamaço escrito pelo revolucionário alemão. Gramci, Guevara, e até Trotsky eram leituras mais ou menos comuns na Universidade do Brasil. Ou até antes, quando ainda cursávamos o segundo grau.

Parte da esquerda universitária, classe média da zona Sul do Rio de Janeiro, achava importante frequentar os mesmos ambientes onde o proletariado urbano se divertia. Na Estudantina supunha-se haveria congraçamento. Outro motivo é que levados pelos mesmos desejos alguns artistas, atores, músicos também passavam por lá. E às vezes davam uma canja. Na verdade eu não me lembro de ter assistido nenhuma performance desses ícones da Bossa Nova, mas havia sempre a esperança de encontrar uma Nara Leão, um Carlinhos Lira, um Vinícius de Morais.

A bebida não era cara, bebia-se principalmente cerveja e a possibilidade de sair com algumas das mulheres que iam se divertir na gafieira era nenhuma. Na verdade as frequentadoras eram, em geral, um pouco mais velhas que nós estudantes ruins de grana – não havia dinheiro pra levar a namorada a um bar e muito menos a um dos hotéis vagabundos das cercanias. Ainda assim voltávamos pra casa felizes depois de termos estado nos locais “onde o povo está!"

Na mesma Praça Tiradentes ficava outra gafieira, mas sem o charme da Estudantina. Chama-se Elite e durante um baile de carnaval o chão do salão cedeu e os frequentadores caíram na sapataria que ficava no térreo. Houve apenas ferimentos leves, mas essa já outra história. 

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