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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Arrasta pés

Funcionava assim. A mesa da sala era empurrada para um canto, ou retirada para outro cômodo do apartamento, as cadeiras eram colocadas junto às paredes. A vitrola (esse era o nome do aparelho produtor de som) era um móvel razoavelmente grande, estilo pé palito.  Além da vitrola também cabia ali um rádio AM, onde os pais podiam ouvir também notícias em high fidelity.  Ou alta fidelidade.

E havia os discos, os mais antigos, menores e mais grossos em 78 rotações por minuto, e apenas duas músicas. A cada dança era preciso trocar o disco; as vezes valia a pena ouvir o lado B. Depois vieram os LPs, seis músicas de cada lado, feitos de vinil.

Os convidados para o arrasta pé (era esse o nome do baile) não podiam ser muitos, claro, e às vezes quem ficava de fora acabava dando um jeito e entrava. Mães atentas serviam refrigerantes aos convidados E Salgadinhos quando se comemorava o aniversário do anfitrião.

Nesse tipo de dança o casal ficava abraçado. O rapaz com a mão nas costas da menina ela com a mão no pescoço dele (como na música Dois pra lá Dois pra da dupla Aldir Blanc/João Bosco). E dançar de rosto colado era o máximo, e um indício de que a menina podia topar um namoro.

Da vitrola saia o som de Frank Sinatra, Roy Hamilton, Sammy Davis Júnior, Aretha Franklin, Henry Mancini & Orquestra, Waldir Calmon. Muitas vezes trilhas sonoras de filmes de sucesso, como Pic Nic (não me lembro do título em português) faziam sucesso nos arrasta pés!

 Mas para dançar o chamado “puladinho” era preciso o som músicas dos organistas brasileiros Ed Lincoln e Walter Wanderley.

A chegada da Bossa Nova, com suas músicas intimistas, contribuiu para apressar o fim dos arrasta pés. O Rock ‘n Roll foi tomando o lugar das melodias mais serenas dos anos 50. Dançar abraçado caiu de moda. A geração arrasta pé cresceu, ficou adulta, vieram outros interesses como ingressar numa faculdade ou fazer um concurso para o Banco da Brasil, na época um emprego seguro e bem remunerado. 

Os últimos acordes desse tempo, no meu caso pelo menos, foram na Associação Atlética Banco do Brasil, no Leblon, numa tarde/noite de domingo. Música ao vivo tocada por um conjunto do irmão do cantor Cauby Peixoto.

Foi nesse embalo que ouvi pela primeira vez “O Barquinho” de Roberto Menescal, a música ícone que marcaria o início da Bossa Nova.

  

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