Nasci numa família de classe média... média. Morávamos
num casa de dois andares na Rua São Luiz Gonzaga em São Cristovão. O bairro num
passado distante fora enobrecido pela presença do Imperador Dom Pedro Segundo.
Dom Pedro morava num casarão doado, ao império por um
traficante de escravos, na Quinta da Boa Vista. Mas São Cristovão quando eu
nasci há muito perdera o status de “bairro onde mora o Imperador”.
Era agora uma zona de comércio, e fábricas de porte
médio (para a época) e principal passagem para subúrbios como Bonsucesso, Ramos
e a Penha, Quando garoto eu achava que a cidade terminava ali, na Penha. Isso
porque a Penha era o ponto final do bonde.
Nasci com o bonde passando na porta de casa, andei de
bonde na Avenida Nossa Senhora de Copacabana incrivelmente na contramão em
relação a todos os outros veículos.
Isso porque corria 1956 e o fluxo de carros,
caminhões, ônibus no sentido Posto Seis, onde Copacabana terminava, já estava desviado
para a Rua Barata Ribeiro. O prefeito de plantão não teve pique para acabar com
os bondes; preferiu manter os trilhos onde estavam há décadas.
(Muitos anos depois assisti, já morando no Jardim
Botânico, o fim dos bondes, o meio de transporte mais popular, simpático e
barato que havia no Rio de Janeiro de então).
Meu pai tinha sido vendedor de aparelhos de TV, geladeiras,
aspiradores de pó, numa loja da GE, marca antiga que de repente abandonou suas
atividades no varejo. Fez então um concurso público e virou funcionário do
IAPC, Instituto de Aposentadoria dos Comerciários.
Depois deu um jeito e foi trabalhar, à noite, como
revisor no jornal Correio da Manhã, suponho que movido pelo desejo de seguir o
status da profissão do pai dele, um jornalista que assinava as matérias. Nas
redações da vida isso significa estar um degrau acima de repórteres, copy
desks, redatores e vai por aí.
Dois tios meus eram bancários, um terceiro militava nas
hostes da Polícia de choque da Ditadura Vargas. O mais velho, um coronel do
Exército esteve no front italiano. Uma tia foi secretária do presidente da
Caixa Econômica Federal e outra vivia de cobrar aluguel dos barracos de uma
favela crescendo com o tempo no final do terreno do casarão.
Minha mãe casou e sempre foi “dona de casa”. No
casarão também moravam uma irmã da minha avó, o marido – e primo dela - e a
filha. A outra irmã da minha avó, solteira, povoou a minha infância com
histórias que ela mesma inventava. No meu livro Breve Estada em Teresópolis
escrevi que tia Teresa me ensinou a imaginar.
Meu avô, João Manoel Lebrão, morto aos 43 anos, tinha
sido sócio do irmão, Manoel José Lebrão, na Confeitaria Colombo. Brigaram, meu
avô saiu e montou a Casa Jardim (ou seria Casa & Jardim), também no Centro
do Rio. Sua morte precoce fez com que a família passasse a depender do dinheiro
do aluguel de duas ou três casas que ele tinha comprado anos antes.
Nasci na
Maternidade Escola, em Laranjeiras, mas vivi no casarão de São Cristovão até os
12 anos. Então eu, meus pais e irmãos mudamos para o Leblon. Mas essa é uma
história que até já contei. Pelo menos em parte.
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