Estou com 80
anos. A mesma idade (a variação pode ser de um, dois anos) de caras que admiro como
Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Marcos
Valle. Todos eles ainda em atividade e
contrariando percepção de que o tempo, se não reduz a qualidade do que produzimos
pelo menos afeta nossa criatividade. Todos continuam produzindo e com qualidade.
Mas críticos
em diferentes áreas daquilo que costumamos chamar de Cultura Popular nem sempre
concordam. (Tenho alguma resistência a palavra Cultura quando usada para
definir apenas uma pequena parte de um todo muito mais complexo, mas vá lá)
Então a tendência é acharmos que há uma espécie de “ápice” na carreira desses
eleitos por Deuses sábios. E dedicados ao estudo do que humanos podem fazer de
bom.
Um exemplo:
nos últimos romances de Machado de Assis, Memorial de Aires, Esaú e Jacó, a ótima
qualidade do texto se mantém, mas o “ápice” da obra machadiana são Dom Casmurro,
Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ninguém discute.
No entanto
ouvindo Que Tal um Samba, samba recente de Chico Buarque que faz uma
leitura brilhante dos tempos feios de Jair Bolsonaro no poder, tendo a colocar
Memorial de Aires, livro que gosto muito, no mesmo nível de Quincas Borba, aliás,
meu preferido. Que tal um samba é tão inventivo quanto Construção, por exemplo.
É discutível
que o melhor de cada autor fique aprisionado entre um início inventivo, mas com
menor qualidade do texto (ou da música, ou da gravura) e um final em que as
pessoas dominam inteiramente a técnica, mas são menos criativas.
Tudo isso
para uma reflexão pessoal: acho que não vale a pena, mesmo aos 80 anos, deixar
pra trás, ainda, a capacidade de escrever. É claro dentro dos limites do
repórter da editoria de polícia de O Globo e outras editorias em outros
jornais. Filho e neto de outros repórteres de redações em algum lugar no
passado.
Vou ao lugar comum: Estão todos como vinho, quanto mais velho melhor.
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