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sábado, 18 de novembro de 2023

Oitenta Anos

 

Estou com 80 anos. A mesma idade (a variação pode ser de um, dois anos) de caras que admiro como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Marcos Valle.  Todos eles ainda em atividade e contrariando percepção de que o tempo, se não reduz a qualidade do que produzimos pelo menos afeta nossa criatividade. Todos continuam produzindo e com qualidade.

Mas críticos em diferentes áreas daquilo que costumamos chamar de Cultura Popular nem sempre concordam. (Tenho alguma resistência a palavra Cultura quando usada para definir apenas uma pequena parte de um todo muito mais complexo, mas vá lá) Então a tendência é acharmos que há uma espécie de “ápice” na carreira desses eleitos por Deuses sábios. E dedicados ao estudo do que humanos podem fazer de bom.

Um exemplo: nos últimos romances de Machado de Assis, Memorial de Aires, Esaú e Jacó, a ótima qualidade do texto se mantém, mas o “ápice” da obra machadiana são Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ninguém discute.

No entanto ouvindo Que Tal um Samba, samba recente de Chico Buarque que faz uma leitura brilhante dos tempos feios de Jair Bolsonaro no poder, tendo a colocar Memorial de Aires, livro que gosto muito, no mesmo nível de Quincas Borba, aliás, meu preferido. Que tal um samba é tão inventivo quanto Construção, por exemplo.

É discutível que o melhor de cada autor fique aprisionado entre um início inventivo, mas com menor qualidade do texto (ou da música, ou da gravura) e um final em que as pessoas dominam inteiramente a técnica, mas são menos criativas.

Tudo isso para uma reflexão pessoal: acho que não vale a pena, mesmo aos 80 anos, deixar pra trás, ainda, a capacidade de escrever. É claro dentro dos limites do repórter da editoria de polícia de O Globo e outras editorias em outros jornais. Filho e neto de outros repórteres de redações em algum lugar no passado.

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