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terça-feira, 28 de novembro de 2023

Bill Gates e o ócio nosso de cada dia

 

Saiu na mídia:

Bill Gates vê possibilidade de semana de três dias com avanço da Inteligência Artificial.

“Se você diminuir o zoom, você sabe que o propósito da vida não é apenas trabalhar. Então, se você eventualmente conseguir uma sociedade onde você só tem que trabalhar três dias por semana ou algo assim, provavelmente está tudo bem se as máquinas puderem fazer toda a comida e não tenhamos que trabalhar tanto”, disse Gates.

É mesmo?! Sei não. Acontece que humanos tem tatuado no DNA o estigma da luta diária, da batalha por comida por espaço, por direito a ter mais do que o próximo. Vivemos de trabalhar duro desde que éramos caçadores/coletores. Passamos pelos arados da agricultura primitiva, e chegamos aos teares da Revolução Industrial na Inglaterra no século 18: homens, mulheres e crianças de até cinco anos manipulavam, 12 horas por dia, maquinas que frequentemente amputavam suas mãos e braços.

Os regimes de trabalho melhoraram um pouco ao longo de século 20, com a entrada no jogo das novas tecnologias e das legislações trabalhistas, que reduziram um pouco o esforço físico e os riscos, mas em compensação roubaram o emprego de muita gente. E parece que dentro em breve alguns de nós vão ingressar em ambientes onde a única tarefa será programar a Inteligência Artificial. O resultado é a inevitável redução do tempo dedicado ao trabalho como previsto por Gates.

Mas saberemos lidar com a nova realidade do aumento do ócio? Isso porque em duas ou três gerações o trabalho vai representar, com certeza, um número bem menor de horas no dia a dia dos humanos. Máquinas inteligentes estarão pegando no pesado (ou não tão pesado assim) em nossas casas e locais de trabalho. Em alguns casos os humanos mais brilhantes serão chamados apenas para pequenas intervenções ou correções de curso. Mais tarde até mesmo essas intervenções ficarão por conta exclusiva da IA.

Vai ser bastante difícil conciliar o caçador de Mamutes, o conquistador dos povos mais frágeis, os guerreiros das Termópilas, com um novo homem. Cujo único exercício físico será numa esteira na academia localizada dois andares abaixo do apartamento em que mora.

E aí? Haverá um aumento exponencial na taxa de suicídios? É bom lembrar que a mídia evita noticiar suicídios e o número é maior do que imaginamos nos dias de hoje. Nos tempos em era repórter da Editoria de Polícia de O Globo, o jornal não queria saber quem se suicidou, onde, quando ou por que. O carro de reportagem não saía do pátio ao menor indício do que o corpo encontrado fosse o de um suicida. Era o único item que igualava ricaços, classes médias e pobres.

É claro que, desde espetáculos como o futebol, fórmula 1, Olimpíadas, shows cada vez mais tecnológicos e grandiosos, viagens de turismo ao alcance de quase todo mundo, eventos culturais, vão tentar substituir um cada vez maior espaço para o ócio. Dará certo?

O que acontece quando ambulâncias com robôs paramédicos puderem atender quem passa mal em casa, ou quando os táxis dispensarem motoristas e pudermos pedir que máquinas especializadas (talvez drones mais espertinhos) deixem na nossa porta tudo o que pedimos para o jantar. O que faremos quando não houver trabalho no mundo? Passaremos o tempo todos vendo robôs disputando partidas de futebol? Artistas virtuais levarão para nossas telas shows de músicas compostas pela Inteligência Artificial.

Para humanos o ócio pode ser mortal.

Ou como preveem alguns futurólogos Rivotril e Canabidiol vão fazer inexoravelmente parte da nossa cesta básica.

 

 

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