E havia a praia, a praia dos anos 50, agora só uma lembrança boa. Boa e suave para quem viveu aqueles dias, quase inocentes quando vistos sob lentes do século 21. Na adolescência pisar as areias do Leblon era acessar um mundo novo em que com certeza eu tinha lugar. E um lugar especial para quem deixara São Cristóvão, bairro industrial da Zona Norte do Rio, feio, deserto depois das seis da tarde, por um apartamento na Avenida Ataulfo de Paiva, com vista total para o mar e na “fronteira” com Ipanema: as ilhas Cagarras bem ali na frente da janela da sala.
Estar na praia
nos fins de semana e durante as férias escolares, fincar na areia o guarda sol
(nós chamávamos de barraca) junto aos guarda sois dos amigos, das meninas do
prédio e vizinhança era um ritual de prazer. Era como tomar conta de boa parte
da felicidade que andava solta por lá.
Nessa época o
chegar das ondas, a espuma branca no topo, o encontro final do Oceano Atlântico
com as areia da “nossa” praia dava certeza absoluta, de que o tempo estava virtualmente
parado e aqueles anos, de rostos dourados pelo sol, iam durar pra sempre.
E, claro,
nós nunca íamos precisar viver no desagradável universo de nossos pais.
Nos dias de
semana das férias não havia praias desertas, e era razoável a distancia entre conjuntos
de guarda sóis, que abrigavam outros grupos de adolescentes. Vizinhos,
conhecidos dali mesmo da praia, colegas de colégio. A nossa turma, a turma da próxima
rua. Eram momentos mágicos, mas então não percebidos. Final dos anos 50/início
da segunda metade do século 20.
Eu frequentava
as areias do Leblon, mas às vezes, não consigo muito justificar por quê,
esticava até o Arpoador. Caminhando pela areia, meio que solitário, pisando a água
fria naquele espaço até onde as ondas se esticam.
Quando
voltava, entrava pela Montenegro (chamada hoje Vinícius de Morais) até o
cruzamento com a Prudente de Morais. Só pra passar em frente ao Veloso, na esperança
de encontrar ao lado de um chope gelado, algum gênio da Bossa Nova. Há muitos
anos o Veloso se chama Garota de Ipanema.
Nunca
encontrei Tom Jobim, Vinícius, Carlos Lira, Newton Mendonça nas cadeiras e
mesas espalhadas na calçada. Mais tarde
no Pasquim, alguém escreveu que “intelectual
não vai à praia; intelectual bebe”.
Achei que os
autores da Bossa Nova deveriam estar catalogados na pasta “intelectuais” e decidi
que não valia a pena passar no Veloso quando voltava do Arpoador. Intelectual
geralmente bebe à noite.
Reduzi um
pouco o percurso entre Ipanema e meu lugar na praia do Leblon próximo ao Canal
do Jardim de Alá.
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