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domingo, 19 de novembro de 2023

Na Praia

 

E havia a praia, a praia dos anos 50, agora só uma lembrança boa. Boa e suave para quem viveu aqueles dias, quase inocentes quando vistos sob lentes do século 21. Na adolescência pisar as areias do Leblon era acessar um mundo novo em que com certeza eu tinha lugar. E um lugar especial para quem deixara São Cristóvão, bairro industrial da Zona Norte do Rio, feio, deserto depois das seis da tarde, por um apartamento na Avenida Ataulfo de Paiva, com vista total para o mar e na “fronteira” com Ipanema: as ilhas Cagarras bem ali na frente da janela da sala.

Estar na praia nos fins de semana e durante as férias escolares, fincar na areia o guarda sol (nós chamávamos de barraca) junto aos guarda sois dos amigos, das meninas do prédio e vizinhança era um ritual de prazer. Era como tomar conta de boa parte da felicidade que andava solta por lá.

Nessa época o chegar das ondas, a espuma branca no topo, o encontro final do Oceano Atlântico com as areia da “nossa” praia dava certeza absoluta, de que o tempo estava virtualmente parado e aqueles anos, de rostos dourados pelo sol, iam durar pra sempre.

E, claro, nós nunca íamos precisar viver no desagradável universo de nossos pais.

Nos dias de semana das férias não havia praias desertas, e era razoável a distancia entre conjuntos de guarda sóis, que abrigavam outros grupos de adolescentes. Vizinhos, conhecidos dali mesmo da praia, colegas de colégio. A nossa turma, a turma da próxima rua. Eram momentos mágicos, mas então não percebidos. Final dos anos 50/início da segunda metade do século 20.

Eu frequentava as areias do Leblon, mas às vezes, não consigo muito justificar por quê, esticava até o Arpoador. Caminhando pela areia, meio que solitário, pisando a água fria naquele espaço até onde as ondas se esticam.

Quando voltava, entrava pela Montenegro (chamada hoje Vinícius de Morais) até o cruzamento com a Prudente de Morais. Só pra passar em frente ao Veloso, na esperança de encontrar ao lado de um chope gelado, algum gênio da Bossa Nova. Há muitos anos o Veloso se chama Garota de Ipanema.

Nunca encontrei Tom Jobim, Vinícius, Carlos Lira, Newton Mendonça nas cadeiras e mesas espalhadas na calçada.   Mais tarde no Pasquim, alguém escreveu queintelectual não vai à praia; intelectual bebe”.

Achei que os autores da Bossa Nova deveriam estar catalogados na pasta “intelectuais” e decidi que não valia a pena passar no Veloso quando voltava do Arpoador. Intelectual geralmente bebe à noite.

Reduzi um pouco o percurso entre Ipanema e meu lugar na praia do Leblon próximo ao Canal do Jardim de Alá.

 

 

 

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