FHC conta que em 23 de março de 1996 recusou
indicação do então deputado Francisco Dornelles em nome da bancada do Rio:
tratava-se de nomear Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras
Recentemente, a revista Piauí antecipou
trechos dos livros de memórias de Fernando Henrique Cardoso em seus anos na
presidência, chamados "Diários da Presidência", onde o ex-presidente
praticamente fez uma "delação" atingindo o atual vice-governador do
Rio de Janeiro, Francisco Dornelles (PP), primo do senador Aécio Neves
(PSBD-MG).
Os "Diários da Presidência"
são quatro volumes da transcrição de 44 fitas cassetes gravadas entre 1995 e
2002 por FHC registrando o dia a dia dos bastidores do poder, como em um
diário.
FHC conta que no dia 23 de março de
1996 recusou uma indicação feita pelo então deputado Francisco Dornelles em
nome da bancada do Rio de Janeiro. Tratava-se de nomear o atual presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), diretor comercial da Petrobras.
“Na verdade, o que eles (deputados do Rio)
querem é nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O
Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar
(Franco, ex-presidente da República) porque ele tinha trapalhadas, ele veio da
época do Collor.
Eu fiz sentir que conhecia a pessoa e
que sabia que havia resistência, que eles estavam atribuindo ao Eduardo Jorge;
eu disse que não era ele e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não
cedemos à nomeação", escreveu o ex-presidente.
Apesar da precisão da data citada por
FHC, os envolvidos negam. Cunha disse que se houve a indicação foi sem seu
conhecimento. Ele também já negou ter contas na Suíça.
Dornelles também negou: “Tenho certeza
que nunca fiz essa indicação. Não por Eduardo Cunha, gosto muito dele e o
considero muito competente. Mas nunca fiz qualquer indicação para a Petrobras.
Minha relação com a Petrobras era a mesma relação entre a Inglaterra e a
Argentina na época da guerra das Malvinas. Eu não tinha nenhuma relação com a
Petrobras, nem nesta época, nem antes, nem depois, nem nunca. Eu poderia até
fazer indicação para Furnas, por exemplo, mas, para a Petrobras, nunca”.
A citação a Furnas parece até recado
cifrado para FHC não arranjar-lhe complicações no caso da Operação Lava Jato.
Dornelles, já octogenário, é testemunha
de diversos episódios políticos nos últimos anos: na ditadura foi secretário da
Receita Federal. No governo Sarney foi ministro da Fazenda e nomeou o jovem
primo de 25 anos, Aécio Neves, diretor de loterias da Caixa Econômica Federal.
Elegeu-se deputado em 1986 pelo PFL, mas desde 1993 migrou para o PDS de Paulo
Maluf onde permanece até hoje, acompanhando as sucessivas mudanças de nome da
sigla até chegar ao atual PP.
Não emplacou Eduardo Cunha na diretoria
da Petrobras durante o governo FHC, mas tornou-se ministro no governo tucano.
Primeiro da Indústria, Comércio e Turismo (1996-1998) e depois, do Trabalho
(1999-2002).
Em 2003, integrava a bancada de
deputados do PPB (antigo nome do atual PP) na Câmara dos Deputados, ao lado de
Eduardo Cunha – que logo depois mudou-se para o PMDB – e José Janene. Em 2004,
integrou a bancada do PP que impôs a nomeação de Paulo Roberto Costa para a
diretoria da Petrobras.
Em 2005, foi dos poucos parlamentares
que não abandonaram Severino Cavalcanti, seu correligionário que chegou à
presidência da Câmara, mas caiu em desgraça por denúncia de receber propinas
para alugar um restaurante da Casa.
Antes desse episódio, Severino tentou
indicar Djalma Rodrigues para a "diretoria que fura poço" da
Petrobras, sem sucesso. Paulo Roberto Costa e Rodrigues trabalharam juntos até
o ano de 2000 na extinta Gaspetro, subsidiária que cuidava da área de gás no
governo FHC, e na TBG, empresa que administra o gasoduto Brasil-Bolívia. A
intimidade dos dois com políticos do PP é indicativo da necessidade de
investigar melhor os primórdios deste relacionamento, antes de 2003.
Em 2006, Dornelles foi eleito senador
pelo Rio de Janeiro e a partir de 2007 presidiu o PP até 2013, época em que o
doleiro Alberto Youssef diz ter sido o "tesoureiro" informal do
partido.
Nas eleições de 2014 foi um dos
articuladores da chapa "Aezão" no Rio de Janeiro, pregando o voto em
Aécio para a presidência e em Pezão (PMDB) para governador, do qual ele é vice.
Com todo esse currículo, tendo visto e
convivido com tantos escândalos, é no mínimo estranho que não tenha sido
chamado como testemunha pela força-tarefa da investigação da Lava Jato.
Pelo menos para esclarecer como
funcionava o PP quando Dornelles era presidente e Youssef dizia ser uma espécie
de tesoureiro informal. E também para esclarecer os critérios da bancada de
deputados para escolha tanto Paulo Roberto Costa como Djalma Rodrigues como
indicados a cargos de confiança.
Ou será que, por não ser petista, e por
ser primo de Aécio, "não vem ao caso" ouvi-lo?
Helena Sthephanowitz no Rede Brasil
Atual
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