Perdas envolvem Operação Lava Jato. Recibo de ações fecharam em forte
alta na Bolsa de Nova Iorque
Petrobras apresenta um balanço limpo,
auditado, como o país inteiro esperava e todos aqueles que acreditam no
Brasil. O presidente da estatal, Aldemir Bendine, fez a exposição do
relatório que o Jornal do Brasil mostra
a seguir.
A estatal não vai pagar dividendos
(parcela dos lucros da companhia) aos acionistas. Os resultados desta
quarta-feira (22/4) da Petrobras na Bolsa de Valores de Nova Iorque, desde a
entrada de Bendine até o momento, permitem uma valorização de quase 90%. Nesta
quarta (22), os recibos de ações (ADRs) da estatal fecharam em forte alta, com
valorização de 4%.
A estatal divulga os resultados do
balanço auditado referentes ao 3º e 4º trimestres de 2014. Contabilizando as
perdas com a Operação Lava Jato, a empresa teve prejuízo de R$ 21,6 bilhões no
ano passado. As informações são divulgadas em entrevista coletiva nesta
quarta-feira (22), na sede da empresa, pelos auditores independentes.
Além do presidente da empresa,
Aldemir Bendine, participam da coletiva diretores de áreas estratégicas da
empresa. São eles: João Adalberto Elek Junior, Diretor de Governança, Risco e
Conformidade, Hugo Repsold Júnior, Diretor de Gás e Energia, Solange Guedes,
Diretora de Exploração e Produção, Ivan de Souza Monteiro, Diretor Financeiro e
de Relações com Investidores, Jorge Celestino Ramos, Diretor de Abastecimento,
Roberto Moro, Diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais e Antônio Sérgio
Oliveira Santana, Diretor Corporativo e de Serviços (interino).
Durante o dia, o Conselho de
Administração da estatal se reuniu para avaliar os números. A estatal é
alvo de investigações da Polícia Federal que revelaram, pela Operação Lava
Jato, esquema de corrupção e desvio de verbas em contratos
da empresa.
"A partir daqui a Petrobras
volta a garantir a credibilidade de seu relacionamento com credores e
investidores do país e do exterior. O maior desafio deste processo é que ele
não se esgota apenas na apresentação dos valores da companhia.", disse o
presidente Aldemir Bendine.
De acordo com o balanço, a Petrobras
apresentou prejuízo de R$ 21,6 bilhões no ano de 2014, em função,
principalmente, da perda por desvalorização de ativos, impairment (R$ 44,6
bilhões), da baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente no âmbito
da Operação Lava Jato (R$ 6,2 bilhões), do provisionamento de perdas com
recebíveis do setor elétrico (R$ 4,5 bilhões), das baixas dos valores
relacionados à construção das refinarias Premium I e II (R$ 2,8 bilhões) e do
provisionamento do Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário-PIDV (R$
2,4 bilhões).
Segundo a estatal, no terceiro
trimestre de 2014 foi apurado prejuízo de R$ 5,3 bilhões. A diferença em
relação ao lucro líquido divulgado em 27 de janeiro de 2015, de R$ 3,1 bilhões,
reflete a baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente no âmbito da
Operação Lava Jato (R$ 6,2 bilhões), além de um complemento de provisão para
perdas com recebíveis do setor elétrico de R$ 1,6 bilhão. O prejuízo de R$ 26,6
bilhões no quarto trimestre de 2014 refletiu a perda por desvalorização de
ativos (impairment).
Na avaliação da companhia, a maior
parte dessa perda foi relacionada às atividades de refino, devido a problemas
de planejamento dos projetos, utilização de taxa de desconto com maior prêmio
de risco, postergação da expectativa de entrada de caixa e menor crescimento
econômico.
Na atividade de Exploração e Produção
o impairment ocorreu em função do declínio nos preços do petróleo. Ainda na
análise da Petrobras, como destaque operacional, a produção de petróleo e gás
natural (Brasil e exterior) cresceu 5% em relação a 2013, atingindo a média de
2 milhões 669 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) em 2014. A produção
do Pré-sal contribuiu com 381 mil bpd no ano, com recorde de produção diária de
petróleo estabelecido em 21 de dezembro, com 713 mil barris.
O balanço revela ainda que no ano,
quatro novas plataformas entraram em operação e 87 novos poços foram
interligados no Brasil. No refino, a produção total de derivados de 2014 foi de
2 milhões 170 mil bpd, 2% acima de 2013. Em novembro entrou em operação o 1º
trem da RNEST. Os investimentos totalizaram R$ 87,1 bilhões em 2014, uma
redução de 17% em relação a 2013. A Companhia terminou o ano com R$ 68,9
bilhões em caixa.
Com a divulgação do balanço auditado
de 2014, a Petrobras quer evitar perder grau de investimento em avaliações por
agências de classificação de risco. Em fevereiro, a agência Moody's rebaixou
a nota de crédito da empresa, que perdeu o grau de investimento e passou
para o grau especulativo, indicando que investir na petrolífera brasileira
passou a ser uma operação mais arriscada.
A empresa de auditoria
PricewaterhouseCoopers (PwC) se recusou a assinar o balanço da Petrobras do
segundo semestre do ano passado, depois que a Operação Lava Jato revelou o
esquema de corrupção que envolvia diretores da empresa com superfaturamento em
obras e projetos da empresa.
Após adiar a publicação do balanço
por duas vezes, a Petrobras divulgou, no dia 28 de janeiro, o resultado do 3º
trimestre do ano passado não auditado. As demonstrações contábeis indicavam um
lucro líquido de R$ 3,084 bilhões. Na ocasião, não houve consenso para a
definição das perdas sofridas em decorrência do desvio de recurso por
corrupção.
O presidente da Petrobras, Aldemir
Bendine, afirmou que o corpo gerencial da empresa vai se reunir para fazer uma
"revisitação do seu plano de negócios e uma mudança em sua prática de
governança para os próximos cinco anos".
O presidente considera que a Petrobras
foi "vítima" dos desvios deflagrados pela Operação Lava Jato, e
classificou que o que ocorreu foi um "grande desastre, que serve de
exemplo para que a empresa melhore seu modelo de
gerenciamento". Pedindo desculpas "em nome das 86 mil
famílias" que participam da holding da estatal, Bendine disse ainda que
tem um sentimento de "vergonha" por conta dos desvios ocorridos, e
que um grupo de pessoas não irá acabar com a credibilidade da Petrobras.
"O que eu quero reafirmar é que
continuamos acreditando nessa empresa que é orgulho nacional e nós vamos manter
nossa cabeça erguida, respondendo rapidamente à
sociedade de acordo com nossa capacidade. Eu faço um pedido de desculpas em
nome dos empregados da Petrobras, porque hoje sou um deles". Em relação às
perdas com a Operação Lava Jato, Bendine afirmou que a estatal pretende reaver
os valores já a partir de maio.
"A companhia se debruçou
fortemente na apuração da melhor metodologia para dar a dimensão dos valores
naquele momento. É importante também separar os efeitos da Operação Lava Jato
de uma realidade econômico-financeira que a empresa está passando. Isso é uma
página virada neste capítulo triste que a companhia passou e temos confiança de
que vamos conduzi-la para uma nova fase", garantiu Bendine.
Ivan de Souza Monteiro, Diretor
Financeiro e de Relações com Investidores, afirmou que a empresa tem um caixa
atual de US$ 26,2 bilhões. Segundo Monteiro, "as captações anunciadas já
cobrem o previsto para o ano de 2015, e agora o objetivo é captar recursos para
o ano que vem".
O diretor também declarou que a
Petrobras pretende voltar a mercados que não participava há muito tempo. Para
ele, a publicação do balanço é um passo importante para esta volta, e deu o
exemplo do mercado de capitais. "A companhia não faz operações neste tipo
de mercado há 15 anos. Pretendemos voltar a atuar nesta área".
Em relação aos desinvestimentos,
Bendine voltou a negar que a petroleira vai diminuir a participação no pré-sal,
mas falou sobre futuros investimentos nos campos: "Podemos sim adotar
parcerias com outras empresas em casos de altos riscos na exploração, mas no
momento não temos nenhum campo com esta característica".
Em relação ao próximo balanço, do 1º
trimestre de 2015, o presidente disse que há previsão para divulgação no dia 15
de maio, destacando que a princípio não há perigo de contaminação com novos
desvios da Operação Lava Jato. Para ele, todos as perdas já foram descontadas.
Questionado se a Shell procurou a Petrobras a respeito dos desvios antes da compra da
BG, o presidente respondeu que as perdas com corrupção não influenciaram na
negociação, e que o objetivo da Shell era justamente se tornar parceira da
Petrobras.
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