O balanço auditado da Petrobras
referente aos resultados de 2014 foi bem recebido por economistas.
Para eles,
trata-se de um passo importante. Fernando Sarti, professor de Economia da
Unicamp, em conversa com o JB por
telefone, destacou que a divulgação ajuda a superar todo o movimento
especulativo que vinha prejudicando a estatal, e permite que o mercado passe a
se pautar em questões reais, como as relacionadas à produção, financiamento e
preço de petróleo.
Em um primeiro momento, mais imediatista, a tendência do
mercado pode até vir a ser negativa, mas a tendência é de melhora
significativa, acredita o professor.
Para Sarti, a divulgação do impacto
do esquema investigado pela Operação Lava Jato veio como já era esperada,
apesar da expectativa de que a desvalorização não fosse tão alta para haver
algum lucro para os dividendos.
A Petrobras apresentou prejuízo de R$ 21,6
bilhões no ano de 2014, em função, principalmente, da perda por desvalorização
de ativos (R$ 44,6 bilhões), da baixa de gastos adicionais
capitalizados indevidamente no âmbito da Operação Lava Jato (R$ 6,2 bilhões),
do provisionamento de perdas com recebíveis do setor elétrico (R$ 4,5 bilhões),
das baixas dos valores relacionados à construção das refinarias Premium I e II
(R$ 2,8 bilhões) e do provisionamento do Programa de Incentivo ao Desligamento
Voluntário-PIDV (R$ 2,4 bilhões).
"Aos poucos, o mercado começa a
avaliar agora a Petrobras de uma forma mais tranquila", aponta Sarti,
chamando a atenção para a "tempestade em copo d'agua" que se criou em
cima da estatal com base nos resultados da Operação Lava Jato.
O mercado deve
começar então, acredita, a se pautar mais em questões operacionais, de
produção, investimentos, preço do petróleo, entre outros fatores ligados
efetivamente às atividades da estatal.
A tendência do mercado em relação à
divulgação do balanço, em um primeiro momento, pode até ser negativa, destacou
Sarti, "mas daqui para frente vejo tendência de melhoria
significativa".
O professor salientou ainda para os interesses envolvidos,
principalmente levando em conta os investimentos e retornos futuros em relação
ao pré-sal. "Há muito interesse econômico em jogo, então o uso das
informações é muito importante."
A partir de agora as atenções vão se
voltar para cima de questões mais reais, operacionais
"A impressão que eu tenho é que,
passado esse momento de assimetria das informações, porque houve muita
especulação em cima das informações, agora é uma tendência de convergir um
pouco mais e essa convergência vai ser muito mais em direção de uma leitura
positiva do que pela leitura negativa. Eu acho que o que ela (a Petrobras)
tinha que ser penalizada ela já foi, a partir de agora as atenções vão se
voltar para cima de questões mais reais", explica Sarti.
Sarti destaca também a importância de
manter a Petrobras uma empresa pública, e ainda de não ser tratada da forma
como foi pelo mercado em um período mais recente.
"Tentaram confundir as
coisas. Se foi erro de administração na empresa, que se corrija, que se puna os
criminosos, agora, a Petrobras é um ativo público da sociedade brasileira, tem
que ser assim tratada. A forma como o mercado lê e aprova a Petrobras não é
exatamente o que nós, 'do lado de cá', lemos e aprovamos da Petrobras."
Gilberto Braga, professor de Finanças
do Ibmec/RJ, acredita que o mercado deve receber o balanço de maneira positiva,
porque está detalhado e com grande transparência em relação ao que a companhia
já identificou em diversos aspectos, como sobre projetos que estão sendo
ajustados e sobre os impactos do esquema de corrupção e pagamento de propina
desvendado pela Lava Jato.
Balanço serve de ponto de partida para
retomada
"O número, em si, o tamanho do
prejuízo, é menos importante. O mais importante é que o balanço foi
extremamente detalhado, e eu acho que ele satisfaz as expectativas de
transparência em relação às necessidades que o mercado tinha, e que serve de
ponto de partida para a retomada da operação da companhia no futuro",
comentou Braga em conversa com o JB.
Reginaldo Nogueira, professor do
Ibmec-MG, apesar de chamar a atenção para o caráter negativo dos resultados, e
a necessidade de corrigir erros do passado, destacou que a divulgação do
balanço foi fundamental, já que o mercado precisa de transparência.
"Hoje
foi um passo importante, não é a solução dos problemas da empresa, mas pelo
menos foi um passo importante para dizer que existe, aparentemente, uma vontade
de restabelecer a capacidade de gerencial e a saúde financeira e econômica da
empresa", destacou Nogueira.
O professor de economia do Instituto
Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) do Rio de Janeiro, Alexandre Espírito
Santo, destacou para a Agência Brasil que
a divulgação do balanço auditado é importante por reconhecer todas as perdas
decorrentes de fatores como a desvalorização de ativos, conhecida como impairment.
“É
bastante positivo”, disse Espírito Santo, acrescentando que os números, apesar
de fortes, são vistos como um bom sinal.
“Porque era exatamente isso que todos
estavam esperando: doa a quem doer, coloque o resultado que tem que
vir”. Espírito Santo avaliou que a divulgação do balanço pode sinalizar
uma retomada da credibilidade da estatal junto ao mercado e a seus acionistas
brasileiros e internacionais. “A única coisa que o mercado não gosta, em nenhum
momento, é de incerteza e insegurança. Mesmo com números muito ruins, se estão
sendo apresentados da maneira adequada, você vira a página.”
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