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domingo, 15 de junho de 2014

Cidadão Kane



A escolha da revista Sight & Sound é patética
Saiu na blogosfera que o filmeCidadão Kane, do diretor americano Orson Wells, muitas vezes considerado o melhor filme de todos os tempos pela chamada crítica especializada, foi deposto do trono.

Em seu lugar assumiu O Corpo que cai, do inglês Alfred Hitchcock. È um sinal dos tempos diria um idoso velho filósofo de plantão.


A escolha é feita pela revista Sight & Sound que, de 10 em 10 anos, faz uma pesquisa entre 840 críticos, acadêmicos e escritores do mundo todo. Ladrões de Bicicleta, de Vitorio de Sica reinou até 1962, diz o Google, substituído por Kane nos últimos 50 anos.

Pode-se até não concordar com a escolha anterior de Kane pelos críticos. Houve outras pesquisas, na qual O Couraçado Potemkim do russo Sergei Einstein aparecia como o melhor e o brasileiro Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha era o oitavo colocado.

É possível que “sinal dos tempos” seja uma expressão desgastada, velhíssima, mas a mudança de humor da chamada crítica especializada é significativa.

Então vejamos. Cidadão Kane, como Ladrões de Bicicleta e OCouraçado Potemkim são produtos de uma era - fugaz e já ultrapassada - em que o cinema ameaçou transformar-se, realmente, em arte, ganhando status de igualdade com o teatro e as artes plásticas.

Era tempos nos quais diretores brilhantes como Murnau, Einstein, Renè Clement, John Ford, Akira Kurosawa, Renè Clair, Antonioni, Fellini, De Sica, Welles, Jean Luc Goddard e muito outros, levavam, senão multidões, pelo menos milhares de aficionados aos cinemas especializadas em exibir  “filmes de autor”. No Rio o Paissandu, foi o ícone dessa era.

 Cidadão Kane é uma obra prima não apenas pelo talento de Wells – que ninguém discute – mas porque se trata de um importante estudo sobre o poder da mídia. Um tema atualíssimo nesse momento em que os grandes jornais de alcance nacional estão em curva descendente e cresce o poder de blogs, sites & assemelhados como fonte de informação do respeitável público.

Na trama o protagonista - o próprio Wells faz o papel - casado com uma cantora medíocre usa o poder de seus jornais e emissoras de rádio para torná-la uma diva das óperas nos anos 40.

O roteiro, sem maiores delongas, baseia-se  na vida de William Randolph Hearst multimilionário da mídia, um dos primeiros manipuladores de peso da opinião pública. Hearst não gostou muito do retrato que Welles fez dele, mas jornais e rádios não tinham o poder que têm hoje e o filme foi para as telas e fez sucesso nos Estados Unidos e no mundo.


Passados 60 anos, Cidadão Kane é, talvez, mais atual do que qualquer estudo sociológico sobre o poder da mídia.


No Brasil esse poder assumiu, formalmente, o lugar dos partidos de oposição no momento, pressiona os ministros do STF ao limite do suportável e impinge na população, desconfiada, uma tentativa de reverter o resultado das próximas eleições, principalmente para a prefeitura de São Paulo.


É uma tentativa. Nada leva a crer que a luta para tornar o chamado mensalão tema decisivo em 7 de outubro vá se sobrepor ao aumento do emprego e da renda, que trouxe para a classe média milhões de pessoas que as pesquisas antes classificavam como pobres.  


Sobre O Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock, é apenas um thriller bem feito. O inglês, aliás, sempre foi visto pela crítica especializada não como um “autor”, mas uma artesão talentoso. Festim Diabólico, filmado num único cenário e com apenas oito cortes é – opinião pessoal – o melhor filme do também autor de Os Pássaros.

Texto: José Attico

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