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terça-feira, 26 de julho de 2011

O atirador norueguês


terça-feira, 26 de julho de 2011


Um atirador, aparentemente solitário, mata 85 pessoas (mas o número não está fechado) que participavam de um encontro do Partido Trabalhista da Noruega numa ilha paradisíaca próxima da capital.

Antes faz explodir um carro bomba no centro de Oslo aparentemente tentando atingir o primeiro ministro Jens Stoltenberg e, com isso, mata mais sete.


É possível para um só homem? Talvez seja. Talvez não existam cúmplices. Essa é, pelo menos até agora, a posição da polícia. O ato, admitido como “atroz, mas necessário” pelo próprio atirador, pode ser inserido no contexto histórico europeu do início do século 21.

Países como a própria Noruega, a Suécia - onde o atirador Anders Behring Breivik fez um cursinho de nazismo - Islândia e Dinamarca assistem, impotentes, as incontroláveis (para eles) mudanças sociais no planeta.

Não é mais a revolução comunista de Marx e Engels, executada por Wladimir Ilitch Lenin na Rússia ali perto e que deixou de preocupar faz tempo. Mas seu estilo de vida se parece cada vez mais a um iate de luxo que navega, perdido, na tempestade.

São estados que nunca protagonizaram nada, mas estiveram sempre sob olhares um tanto invejosos de sua qualidade de vida, anos luz à frente dos subdesenvolvidos e “em desenvolvimento” da América Latina, Ásia e África. E ainda à frente dos membros do G7 original, (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unidos, França, Canadá e Itália).

Eram (ou são ainda) países seguros para se viver, onde as pessoas são educadas, conscientes e preparadas para cumprir o papel que se espera delas. São um pouco diferentes da outra Europa, também rica, mas conturbada, inclusive por centralizarem duas destrutivas guerras mundiais, no século passado.

A vida nos países da região estava pronta para seguir sem atribulações, já que a história, depois da queda do muro de Berlim, deveria se manter sob controle no marasmo do balançar das águas de um fiorde.

Mas a história não pára. E de repente na América Latina, na Ásia e na própria Europa do segundo time surgem economias ascendentes que começam a mudar o feitio do mundo. A China, a Índia, o Brasil, a Rússia crescem e passam a protagonistas, deixando para trás uma Europa em crise, resultado de uma “União” que parece a cada dia mais inviável.

E na qual grandes economias, como a Alemanha, tendem a engolir as menores, como a Grécia.

E mais: revoluções no norte da África colocam os nórdicos e toda a Europa dos pequenos e frágeis estados diante de uma realidade assustadora.

O sintoma, hoje, é a ameaça representada pelas migrações.  Da África chegam no momento à Itália e outros países do Mediterrâneo multidões de homens, mulheres e crianças fugindo do Egito, Tunísia e principalmente na Líbia.

Acostumados a receber um número limitado de imigrantes, boa parte para realizar o trabalho duro que ricos ou medianamente ricos não gostariam de fazer, os europeus se assustam com os novos números. E isso acontece no momento em que os empregos se reduzem com a crise.

Assim a Alemanha desenvolvida pós Segunda Guerra que abrigou milhares de turcos, Holanda, França e Reino Unido que se tornaram destino de cidadãos egressos de suas ex-colônias começam a sentir a pressão da nova massa de imigrantes.

 Outros estados que absorveram, também sem maiores problemas, latino americanos, africanos, asiáticos e, mais tarde os europeus do Leste - os fugitivos da destruição da economia dos países antes periféricos da revolução soviética - também passam a ficar sob muita pressão.

A crise do capitalismo nas economias européias torna os que chegam absolutamente indesejáveis. Seja por que essas economias não podem sustentar populações de desempregados, seja porque os imigrantes tendem a competir no mercado de trabalho.

O atirador Breivik devia imaginar que estava tentando deter uma nova avalanche do Islã sobre os bons cristãos quando abriu fogo contra membros do Partido Trabalhista da Noruega. Alguns deles imigrantes, ou descendentes, negros, muitos oriundos das camadas mais baixas da população.

O retorno do nazismo, reciclado, mas ainda precisando da pretensa superioridade racial para se legitimar, nada mais é do que uma resposta européia às novas condições da economia e à queda de status num mundo em que serão apenas pequenos países periféricos. E dependentes das grandes economias já na segunda metade do século 21.

Até onde o novo nazifacismo vai é impossível prever. Grupos de skinheads & assemelhados que costumam agredir negros, gays e judeus já são mais ou menos comuns na Europa. Até mesmo nos campos de futebol onde bananas são atiradas em jogadores brasileiros.

Os tempos são outros e os países em que os ensaios começam a acontecer ainda não vivem uma situação semelhante à Alemanha nos anos 30. E é possível que não cheguem a tanto. Mas até lá há riscos de que outros atiradores produzam outros massacres.


Texto: José Attico 

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