Não é difícil imaginar o alívio que muitos de nós, falo dos mais “antigos”, sentimos no episódio do afastamento de Fernando Collor de Melo da presidência e sua substituição por Itamar Franco.
Até ali os conhecedores da postura do político mineiro tinham uma pergunta que não queria calar: Por que Itamar Franco aceitou ser vice de Collor e compartilhar com ele um governo que os mais bem informados já previam como corrupto e desastroso?
Entre os eleitores de Collor estavam, claro, os politizados de direita inconformados com a possível chegada de um sindicalista ao poder. E que topariam qualquer nome que fizesse um contraponto a Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas também podiam ser contados aos milhões os eleitores das classes C,D e E que, acostumados à tutela, repetiriam a postura ancestral e, naqueles idos de 1989, não votariam “num burro como eles.”
A classe média , por sua vez, seguiria o caminho de obediência a um roteiro similar, também votando com os mais ricos: os empresários que tinham medo de Lula.
Collor venceu apesar de um passado nebuloso nas asas da ditadura que acabara de cair. (Foi prefeito e governador em Alagoas, levado ao posto, sem que houvessem eleições pelos militares golpistas). Tudo isso parecia esquecido pelos eleitores que levaram Fernando Collor de Melo ao Planalto.
A grande decepção veio com o seqüestro da poupança, resultado de uma administração (lembra da Zélia, ministra da Fazenda?) que simplesmente não tinha a menor idéia do que fazer com a economia.
Collor caiu e de repente a questão dos motivos que levaram Itamar Franco a compor uma chapa que iria dar no que deu acabou não tento a menor importância.
Itamar, é bom lembrarmos, deixou o poder com alguma coisa em torno de 80% de ótimo e bom, segundo pesquisas da época. Os repentes e esquisitices do novo presidente, suas desconfianças folclóricas e seus casos com ajudantes de ordens, modelos que tinham o hábito de não usar calcinhas e mulheres de seu entorno, acabaram contribuindo para seus altos índices de popularidade.
Itamar também reinventou o fusca. Segundo ele para que o povão tivesse acesso a um carro de preço mais baixo. Para os inimigos, o presidente era apenas um nostálgico, querendo reviver bons momentos do passado em Juiz de Fora. O carro da Volkswagen voltou a sair de cena logo depois de Itamar deixar o planalto.
Morto na semana passada é possível que, a partir de agora, Itamar Franco receba o crédito que lhe é devido pelo fim dos altos índices de inflação que, há décadas desorganizava a economia do país.
Foi o presidente que comandou o processo, mas Fernando Henrique Cardoso, o ministro da Fazenda de plantão, é que acabou colhendo os louros. É assim mesmo, o povo brasileiro faria qualquer coisa para não ter de volta aumentos de preços que chegaram a 80% ao mês.
Sobre FHC (que segundo ele mesmo nunca entendeu nada de economia) Itamar disparou recentemente: “me arrependo amargamente de ter permitido que o Fernando assinasse as notas do real; foi a única coisa que fez na implantação da nova moeda”.
Texto: José Attico
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