Outro mito sobre o suposto comunismo
do PT, é que Dilma e Lula, por revanchismo, sejam contra as Forças Armadas,
quando suas administrações, à frente do país, começaram e estão tocando o maior
programa militar e de defesa da história brasileira.
Lula nunca pegou em armas contra a
ditadura. No início de sua carreira como líder de sindicato, tinha medo “desse
negócio de comunismo” - como já declarou uma vez - surgiu e subiu como
uma liderança focada na defesa de empregos, aumentos salariais e melhoria das
condições de classe de seus companheiros de trabalho, operários da indústria
automobilística de São Paulo, e há quem diga que teria sido indiretamente
fortalecido pelo próprio regime militar para impedir o crescimento político dos
comunistas em São Paulo.
Dilma, sim, foi militante de esquerda
na juventude, embora nunca tenha pego em armas, a ponto de não ter sido acusada
disso sequer pela Justiça Militar.
Mas se, por esta razão, ela é
comunista, seria possível acusar desse mesmo “crime” também José Serra, Aloisio
Nunes Ferreira, e muitos outros que estão, hoje, contra o PT.
Se o PT tivesse alguma coisa contra a
Marinha, ele teria financiado, por meio do PROSUB, a construção do estaleiro e
da Base de Submarinos de Itaguaí, e investido 7 bilhões de dólares no
desenvolvimento conjunto com a França, de vários submersíveis
convencionais e do primeiro submarino atômico do Brasil?
Teria, da mesma forma, comprado novas
fragatas na Inglaterra, voltado a fabricar navios patrulha em nossos
estaleiros, até para exportação para países africanos, investido na
remotorização totalmente nacional de mísseis tipo Exocet, na modernização do
navio aeródromo (porta-aviões) São Paulo, na compra de um novo navio científico
quebra-gelo na China, na participação e no comando por marinheiros brasileiros
das Forças de Paz da ONU no Líbano ?
Se fosse comunista, o governo do PT
estaria, para a Aeronáutica, investido bilhões de dólares no desenvolvimento
conjunto com a Suécia, de mais de 30 novos caças-bombardeio Grippen
NG-BR, que serão fabricados dentro do país, com a participação de empresas
brasileiras e da SAAB, com licença de exportação para outros países, depois de
uma novela de mais de duas décadas sem avanço nem solução ?
Teria encomendado à Aeronáutica e à
Embraer, com investimento de um bilhão de reais, do governo federal, o projeto
do novo avião cargueiro militar multipropósito KC-390, desenvolvido com a
cooperação da Argentina, do Chile, de Portugal e da República Tcheca, capaz de
carregar até blindados, que levantou voo pela primeira vez, há poucos dias,
como a maior aeronave já fabricada no Brasil ?
Teria comprado, para os Grupos de
Artilharia Aérea de Auto-defesa da FAB, novas baterias de mísseis
IGLA-S; ou feito um acordo com a África do Sul, para o desenvolvimento
conjunto, com a DENEL Sul-africana, do novo míssil ar-ar A-Darter?
Se fosse um governo comunista, o
governo do PT teria financiado o desenvolvimento, para o Exército, do novo
Sistema Astros 2020, e recuperado financeiramente a AVIBRAS ?
Se fosse um governo comunista, que
odiasse o Exército, o governo do PT teria financiado e encomendado a
engenheiros dessa força, o desenvolvimento e a fabricação, com uma empresa
privada, de 2.050 blindados da nova família de tanques Guarani, que estão sendo
construídos na cidade de Sete Lagoas, em Minas Gerais ?
Ou o desenvolvimento e a fabricação
da nova família de radares SABER, e, pelo IME e a IMBEL, para as três armas, da
nova família de Fuzis de Assalto IA-2, com capacidade para disparar 600 tiros
por minuto, a primeira totalmente projetada no Brasil ?
Ou encomendado e investido na compra
de helicópteros russos - lembremos que a Rússia é hoje um país capitalista -
e na nacionalização de novos helicopteros de guerra da
Helibras ?
Em 2012, o novo Comandante do
Exército, General Eduardo Villas Bôas, então Comandante Militar da
Amazônia, respondeu da seguinte forma a uma pergunta, em entrevista à
Folha de São Paulo:
Lucas Reis:
• “Em 2005, o então Comandante do
Exército, general Albuquerque, disse “o homem tem direito a tomar café, almoçar
e jantar, mas isso não está acontecendo (no Exército). A realidade atual mudou?
General Villas Bôas:
• “Mudou muito. O problema é que o
passivo do Exército era muito grande, foram décadas de carência. Desde 2005,
estamos recebendo muito material, e agora é que estamos chegando a um nível de
normalidade e começamos a ter visibilidade. Não discutimos mais se vai faltar
comida, combustível, não temos mais essas preocupações.”
A outra razão que contribui para que
o governo do PT seja tachado de comunista, e muita gente saía às ruas, no
domingo, é a política externa, e a lenda do “bolivarianismo” que teria adotado
em suas relações com o continente sul-americano.
Não é possível, em pleno século XXI,
que os brasileiros não percebam que, em matéria de política externa e economia,
ou o Brasil se alia estrategicamente com os BRICS (Rússia, Índia, China e
África do Sul), potências ascendentes como ele; e estende sua influência sobre
suas áreas naturais de projeção, a África e a América Latina - incluídos países
como Cuba e Venezuela, porque não temos como ficar escolhendo por simpatia ou
tipo de regime - ou só nos restará nos inserir, de forma subalterna, no projeto
de dominação europeu e anglo-americano?
Ou nos transformarmos, como o México,
em uma nação de escravos, que monta peças alheias, para mercados alheios, pelo
módico preço de 12 reais por dia o salário mínimo ?
Jogando, assim, no lixo, nossa
condição de quinto maior país do mundo em território e população e sétima maior
economia, e nos transformando, definitivamente, em mais uma colônia-capacho dos
norte-americanos?
Ou alguém acha que os Estados Unidos
e a União Europeia vão abrir, graciosamente, seus territórios e áreas sob
seu controle, à nossa influência, política e econômica, quando eles já
competem, descaradamente, conosco, nos países que estão em nossas fronteiras?
Do ponto de vista dessa direita
maluca, que acusa o governo Dilma de financiar, para uma empresa brasileira, a
compra de máquinas, insumos e serviços no Brasil, para fazer um porto em Cuba -
a mesma empresa brasileira está fazendo o novo aeroporto de Miami, mas ninguém
toca no assunto - muito mais grave, então, deve ter sido a decisão tomada pelo
Regime Militar no Governo do General Ernesto Geisel.
Naquele momento, em 1975, no bojo da
política de aproximação com a África inaugurada, no no Governo Médici, pelo
embaixador Mario Gibson Barbosa, o Brasil dos generais foi a primeira nação do
mundo a reconhecer a independência de Angola.
Isso, quando estava no poder a
guerrilha esquerdista do MPLA - Movimento Popular para a Libertação de Angola,
comandado por Agostinho Neto, e já havia no país observadores militares
cubanos, que, com uma tropa de 25.000 homens, lutariam e expulsariam, mais
tarde, no final da década de 1980, o exército racista sul-africano,
militarmente apoiado por mercenários norte-americanos, do território angolano.
Ao negar-se a meter-se em assuntos de
outros países, como Cuba e Venezuela, em áreas como a dos “direitos humanos”,
Dilma não faz mais do fez o Regime Militar brasileiro, com uma política externa
pautada primeiro, pelo “interesse nacional”, ou do “Brasil Potência”, que
estava voltada, como a do governo do PT, prioritariamente para a América
do Sul, a África e a aproximação com os países árabes, que foi fundamental para
que vencêssemos a crise do petróleo.
Também naquela época, o Brasil
recusou-se a assinar qualquer tipo de Tratado de Não Proliferação Nuclear,
preservando nosso direito a desenvolver armamento atômico, possibilidade essa
que nos foi retirada definitivamente, com a assinatura de um acordo desse tipo
no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Se houvesse, hoje, um Golpe Militar
no Brasil, a primeira consequência seria um boicote econômico por parte do
BRICS e de toda a América Latina, reunida na UNASUL e na CELAC, com a perda da
China, nosso maior parceiro comercial, da Rússia, que é um importantíssimo
mercado para o agronegócio brasileiro, da Índia, que nos compra até mesmo
aviões radares da Embraer, e da África do Sul, com quem estamos também
intimamente ligados na área de defesa.
O mesmo ocorreria com relação à
Europa e aos EUA, de quem receberíamos apenas apoio extra-oficial, e isso se houvesse
um radical do partido republicano na Casa Branca.
Os neo-anticomunistas brasileiros
reclamam todos os dias de Cuba, um país com quem os EUA acabam de reatar
relações diplomáticas, visitado por três milhões de turistas ocidentais todos
os anos, em que qualquer visitante entra livremente e no qual opositores
como Yoani Sanchez atacam, também, livremente, o governo, ganhando dinheiro com
isso, sem ser incomodados.
Mas não deixam de comprar,
hipocritamente, celulares e gadgets fabricados em Shenzen ou em Xangai, por
empresas que contam, entre seus acionistas, com o próprio Partido
Comunista Chinês.
Mauro Santayana no
jb em 14/03/2015
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