Se Jair Bolsonaro cair nas próximas semanas os esforços de
setores progressistas, esquerdistas, liberais arrependidos & assemelhados, que
planejam o Brasil sem bolsonarismos, será um tanto esvaziado.
Isso porque cairá um presidente que vai sendo visto por
grande parte da mídia, políticos à direita, e a maior parte da classe dominante
como alguém totalmente incapacitado para ocupar o cargo.
O ex-deputado, que foi eleito com milhões de votos das
populações mais pobres com a promessa de exterminar com a bandidagem, sempre
teve em mente que bastava extinguir, sindicatos, ONGs, organizações estudantis
e correlatos para que o Brasil fosse salvo dos esquerdistas e ingressasse numa
gloriosa era de crescimento, com escolas militarizadas, homossexuais “curados”
ou banidos, pardos e pretos no seu lugar.
Não deu muito certo. Bolsonaro obviamente não pode fazer
nada contra traficantes e milicianos num contexto em que há 13 milhões de
desempregados e não sabemos quantos a caminho do mesmo destino.
A presença do exército nas ruas do Rio mostrou a seus
eleitores dos subúrbios e periferias que promessas desse naipe também não podem
ser cumpridas, com simples entrega de armas a setores de classe média que vivem
sob ameaça da bandidagem.
Bolsonaro não tem a menor ideia de que grande parte dos
homicídios (que nunca aparecem nos jornais e TVs) acontece entre pessoas que se
conhecem, em brigas de trânsito, no botequim, envolvendo vizinhos, marido e
mulher & correlatos. Distribuir armas é potencializar o problema.
No embalo dos cem dias, o ex-capitão parece querer
descartar-se rapidamente do que seriam suas bases de poder. É possível que,
permitindo ataques a oficiais do exército com liderança entre seus pares, o
presidente esteja simplesmente externando mágoas antigas do tempo em que foi
devidamente defenestrado dos quartéis, após uma tentativa de envolver o
exercito em ações terroristas.
Bolsonaro também está fritando o principal responsável por
sua eleição. O juiz Moro, que se encarregou formalmente, de impedir que Luiz
Inácio Lula da Silva fosse candidato em 2018, vai sendo posto de lado
rapidamente, sem que até agora os analistas de plantão saibam exatamente por
quê. Alguns desses analistas de plantão acham que Moro tem pretensões à
presidência, mas é pouco provável.
Se o governo do ex-capitão caminhar celeremente para o
brejo, como indicam as derrotas já ocorridas e prenunciadas, (vem aí a derrubada
do decreto das armas) teremos em sucessão: 1) o reconhecimento dos filhos do
presidente (e dele próprio) como participes dos grupos de milicianos que
assolam a periferia do Rio de Janeiro; 2) tornados réus, o próprio Bolsonaro
acabará sendo indiciado e rapidamente removido do poder; com amplo apoio das
Forças Armadas e da classe dominante. O general Mourão toma posse.
É bom não sentir muito alívio. Mourão, que tem produzido um
discurso civilizado para agradar setores políticos como o PSDB, não muda a
orientação em política econômica. Deve apenas mandar ministros com pouca
instrução para casa e, quem sabe, outros para o manicômio.
Com Mourão no poder, é bom lembrar, será infinitamente mais
fácil aprovar no Congresso medidas como a reforma da Previdência e outras do
ideário neoliberal.
É bom não esquecer que o vice-presidente é golpista. Já
disse claramente que é favorável a tomada do poder pelos militares em caso de
ameaça de um retorno “à situação anterior”. Disse também que 13º salário é jabuticaba
e que tem pena dos empresários que pensam em investir no Brasil porque pagam
muitos impostos, etc, etc.
Mourão terá apoio sólido de grupos militares e está longe de
ser idiota.
Uma permanência mais longa de Bolsonaro no poder, ao
contrário do que se possa pensar, pode dificultar eventuais tentativas de golpe
quando das próximas eleições.
Isso porque à medida que o ex-capitão vai sendo abalado por
sua total incapacidade de governar, movimentos de operários, estudantes, ambientalistas,
intelectuais, artistas, políticos, periferia e classe média vão se organizando
no sentido de virar o jogo.
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