Parte da classe média com nível
universitário está surpresa com o prometido corte de 30% nas verbas para
universidades federais. Não devia. O candidato que apoiou, depois da derrota de
Alckmin no primeiro turno, ano passado, é isso aí.
Será que essa classe média, que tem
pretensões de ver seus filhos cursando uma faculdade pública, não sabia que educação
e cultura nunca entrariam na pauta do atual presidente? Ou podia desconfiar,
mas achava que talvez a coisa não fosse tão feia quanto parece agora?
Num mundo em que cérebros privilegiados são
disputados por grandes corporações, universidades e até governos, Bolsonaro e
sua rapaziada enxergam inteligência, cultura, formação universitária, como
atributos mixurucas de esquerdistas com alta periculosidade.
O capitão, que não faz a menor
ideia do que acontece durante um curso de filosofia ou sociologia, tem certeza
de que Sócrates, Platão, Aristóteles, Emile Durkheim e C. Wright Mills são meras
criações de professores e alunos com viés esquerdista.
Bolsonaro já disse, para câmeras e
microfones, que a presidência da república não é exatamente a sua praia, mas
infelizmente para o presidente, o país ainda não pode ser transformado num
quartel do exército.
Já na campanha, o capitão Jair tinha
um plano e dele parece não abrir mão depois de eleito: esmagar todo e qualquer
movimento reivindicatório existente no país. De sindicatos a ONGs, passando por
Uniões Estudantis, de Sem Terra, Sem Teto, Clubes de Leitura, Grêmios de secundaristas
e o que porventura mais exista no gênero. E só. Feito esse trabalho, governança
é um item secundário.
Bolsonaro também disse que ia pôr
um fim na política do toma lá dá cá, mas na esteira de sua eleição veio à tona o
que de pior pode acontecer na política partidária. Deputados e senadores do PSL,
chegados ao Congresso através do bolsonarismo, desejosos de colher vantagens em
troca de votos no plenário, são um problema duro de superar.
Até mesmo no caso da aprovação da
reforma da Previdência. Afinal, deputados e senadores dependem de votos e a
reforma não é exatamente popular quanto quer fazer parecer ao respeitável
público a Rede Globo de Televisão.
Bolsonaro diz que vai atender às
demandas através de emendas constitucionais, mas a turma do “cadê o meu” não
parece aprovar a solução.
Que o Brasil compartilha com nações
como o Congo, Namíbia, Botsuana, República Centro Africana, Lesoto, Suazilândia
e outros menos votados o gosto pela desigualdade, todo mundo sabe. Somos o décimo
colocado nesse ranking. O problema é que desigualdade é, ao mesmo tempo, causa
e efeito da depressão na economia.
Com o dinheiro cada vez mais
concentrado no um por cento da população, não há consumo; sem consumo o comércio
fica às moscas, as fábricas fecham suas portas, o desemprego continua crescendo
e a economia, como um todo, segue no embalo ladeira abaixo.
É bom lembrar que a reforma
trabalhista não criou as vagas no mercado que o governo esperava. Aliás, a
precarização do trabalho não surtiu o menor efeito, segundo as recentes
pesquisas do IBGE. Então, o aumento da crise é questão de tempo.
É possível imaginar, para dentro de
um prazo relativamente curto, o retorno do clima de greves. Primeiro tímidas,
depois tomando corpo.
É também provável o retorno das
grandes passeatas tipo “Diretas Já”, isolando o governo, intimidando o
Congresso e o Judiciário.
Talvez essa iniciativa da classe
média possa evitar, mais adiante, a concretização de seu pior pesadelo: a
presença nas ruas da população de favelas e periferia, saqueando supermercados,
queimando ônibus, prédios públicos e
confrontando a polícia.
(É bom lembrar que alguns eleitores
do capitão, nas chamadas comunidades, votaram na promessa de que traficantes,
milicianos, ladrões, estelionatários & assemelhados seriam extirpados de
suas vidas. E começam a ver que, pelo contrário, a bandidagem continua se
fortalecendo).
Nessa altura do campeonato,
empresários, rentistas, executivos de multinacionais, banqueiros, a chamada classe
dominante, já devem estar conspirando para que o poder mude de mãos.
É provável também que bolsonaristas
de ontem comecem a mudar de lado, a rapaziada do PSDB & Centrão inicie uma
cruzada por democracia, fora Bolsonaro, e o presidente acabe, como é de praxe,
no banco dos réus.
O fascismo no Brasil pode durar
dois ou três anos, mas não vai além disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário