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quinta-feira, 2 de maio de 2019

Bolsonaro ainda não subiu no telhado, mas...



Parte da classe média com nível universitário está surpresa com o prometido corte de 30% nas verbas para universidades federais. Não devia. O candidato que apoiou, depois da derrota de Alckmin no primeiro turno, ano passado, é isso aí.

Será que essa classe média, que tem pretensões de ver seus filhos cursando uma faculdade pública, não sabia que educação e cultura nunca entrariam na pauta do atual presidente? Ou podia desconfiar, mas achava que talvez a coisa não fosse tão feia quanto parece agora?

 Num mundo em que cérebros privilegiados são disputados por grandes corporações, universidades e até governos, Bolsonaro e sua rapaziada enxergam inteligência, cultura, formação universitária, como atributos mixurucas de esquerdistas com alta periculosidade.

O capitão, que não faz a menor ideia do que acontece durante um curso de filosofia ou sociologia, tem certeza de que Sócrates, Platão, Aristóteles, Emile Durkheim e C. Wright Mills são meras criações de professores e alunos com viés esquerdista.

Bolsonaro já disse, para câmeras e microfones, que a presidência da república não é exatamente a sua praia, mas infelizmente para o presidente, o país ainda não pode ser transformado num quartel do exército.

Já na campanha, o capitão Jair tinha um plano e dele parece não abrir mão depois de eleito: esmagar todo e qualquer movimento reivindicatório existente no país. De sindicatos a ONGs, passando por Uniões Estudantis, de Sem Terra, Sem Teto, Clubes de Leitura, Grêmios de secundaristas e o que porventura mais exista no gênero. E só. Feito esse trabalho, governança é um item secundário.

Bolsonaro também disse que ia pôr um fim na política do toma lá dá cá, mas na esteira de sua eleição veio à tona o que de pior pode acontecer na política partidária. Deputados e senadores do PSL, chegados ao Congresso através do bolsonarismo, desejosos de colher vantagens em troca de votos no plenário, são um problema duro de superar.

Até mesmo no caso da aprovação da reforma da Previdência. Afinal, deputados e senadores dependem de votos e a reforma não é exatamente popular quanto quer fazer parecer ao respeitável público a Rede Globo de Televisão.

Bolsonaro diz que vai atender às demandas através de emendas constitucionais, mas a turma do “cadê o meu” não parece aprovar a solução.

Que o Brasil compartilha com nações como o Congo, Namíbia, Botsuana, República Centro Africana, Lesoto, Suazilândia e outros menos votados o gosto pela desigualdade, todo mundo sabe. Somos o décimo colocado nesse ranking. O problema é que desigualdade é, ao mesmo tempo, causa e efeito da depressão na economia.

Com o dinheiro cada vez mais concentrado no um por cento da população, não há consumo; sem consumo o comércio fica às moscas, as fábricas fecham suas portas, o desemprego continua crescendo e a economia, como um todo, segue no embalo ladeira abaixo.

É bom lembrar que a reforma trabalhista não criou as vagas no mercado que o governo esperava. Aliás, a precarização do trabalho não surtiu o menor efeito, segundo as recentes pesquisas do IBGE. Então, o aumento da crise é questão de tempo.

É possível imaginar, para dentro de um prazo relativamente curto, o retorno do clima de greves. Primeiro tímidas, depois tomando corpo.

É também provável o retorno das grandes passeatas tipo “Diretas Já”, isolando o governo, intimidando o Congresso e o Judiciário.

Talvez essa iniciativa da classe média possa evitar, mais adiante, a concretização de seu pior pesadelo: a presença nas ruas da população de favelas e periferia, saqueando supermercados, queimando ônibus,  prédios públicos e confrontando a polícia.

(É bom lembrar que alguns eleitores do capitão, nas chamadas comunidades, votaram na promessa de que traficantes, milicianos, ladrões, estelionatários & assemelhados seriam extirpados de suas vidas. E começam a ver que, pelo contrário, a bandidagem continua se fortalecendo).

Nessa altura do campeonato, empresários, rentistas, executivos de multinacionais, banqueiros, a chamada classe dominante, já devem estar conspirando para que o poder mude de mãos.

É provável também que bolsonaristas de ontem comecem a mudar de lado, a rapaziada do PSDB & Centrão inicie uma cruzada por democracia, fora Bolsonaro, e o presidente acabe, como é de praxe, no banco dos réus.

O fascismo no Brasil pode durar dois ou três anos, mas não vai além disso.

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