É notável o contorcionismo da Folha para artificialmente piorar os resultados
de Lula e Dilma no último Datafolha e melhorar os de Temer.
É uma manobra clássica de engana-trouxas. Escrevi trouxas porque é assim
que a Folha parece tratar seus leitores.
Comecemos por Dilma e Temer.
O título do texto que mede o atual governo é: 50% dos brasileiros querem
Temer no lugar de Dilma.
Ora, ora, ora.
E os demais 50%? O título poderia ser: “Metade dos brasileiros não quer
Temer”. Ou, num esforço de imparcialidade: “O Brasil dividido entre a
permanência ou não de Temer”.
Você tem que ter cuidado ao ler mesmo pesquisas na mídia. Os números são
dispostos de forma a atender aos interesses dos donos, e os textos que os
acompanham vão na mesma linha.
Por exemplo: o artigo sobre o tema acima trazia também a avaliação de
Temer. É um número tétrico para Temer: apenas 14% acham seu governo bom ou
ótimo.
A Folha escondeu isso no meio do texto. E ainda colocou o seguinte: era
o mesmo resultado de Dilma em sua última avaliação como presidente.
Mas um momento.
Dilma vinha de um massacre cotidiano da imprensa, da oposição
parlamentar liderada por Aécio e Cunha, da Lava Jato, de Moro — enfim, de todas
as forças reacionárias e golpistas.
Temer não: é protegido pela mídia, e preservado por Moro e pela Lava
Jato. Mais que tudo: ele está no governo há pouco tempo, o que faz toda a
diferença.
O padrão é: altas avaliações populares no início das administrações e
baixas avaliações no final. Temer conseguiu inverter o padrão consagrado. É
rejeitado desde o ponto zero.
Nada dessas ponderações a Folha fez. Mas o fato é que os 14% de
aprovação enfraquecem substancialmente Temer. Numa palavra, ele não pegou. Não
decolou. E nem vai melhorar: o tempo só piora as avaliações aos olhos da
sociedade.
O mesmo esforço da Folha para transformar dados se viu em relação a Lula.
O extraordinário é: com toda a pancadaria que vem levando, Lula aparece
na liderança isolada nas intenções de votos em todos os cenários.
Outros dados notáveis: Aécio perdeu metade das intenções em menos de um
ano. De 27% apurados em dezembro de 2015, caiu para 14% agora.
Todos os líderes tucanos perderam consideravelmente terreno, o que
mostra o desgaste que lhes vem custando a campanha golpista frenética. Os
eleitores moderados do PSDB já perderam a paciência com a guinada à direita do
partido.
Mas como a Folha apresenta o desempenho de Lula? Com um “mas”, para
desqualificar um desempenho impressionante. “Mas” no segundo turno — e lá vem.
Não chegamos perto sequer do primeiro turno, e é no segundo que a Folha lança
luzes para fingir que Lula não é o destaque absoluto deste último DataFolha.
Faz-se barulho também com a rejeição de Lula: 46%. Mas atenção: no
último DataFolha ela era de 57%. Isso quer dizer: mesmo com toda a perseguição
da mídia e de Moro a rejeição de Lula baixou 11 pontos percentuais. Ou quase
20%.
O que deve acontecer, caso Lula seja candidato, quando ele falar nos
programas eleitorais e quando jornais e revistas tiverem que publicar não
apenas acusações, como é hoje?
Não é difícil imaginar.
Mas a mídia parece viver num universo paralelo. Neste final de semana,
ao mesmo tempo em que o DataFolha dava a ascensão de Lula, a Veja fazia uma
reportagem especial que trazia uma ficção extremamente ao gosto da revista.
Nela, Lula estaria abatido, sem força política, num terrível ocaso.
Ora, ora, ora.
O leitor inocente da Veja não conseguirá entender como alguém tão por
baixo aparece em primeiro no DataFolha. E repito: sob ataque incessante.
Ao mesmo tempo em que a Folha e a Veja armavam seus textos sobre o
cenário político, Lula estava no Nordeste falando com gente, misturado ao povo,
como gosta, em plena campanha.
É assim que ele desde já é o franco favorito para 2018 — quer a Folha e
a Veja, para não falar da Globo, queiram.
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