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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Estilo Dilma


Há tempos, antes da eleição de Dilma Rousseff, numa conversa com a então secretária do Orçamento Participativo, Denise Lobato, ficamos de acordo que a primeira presidente eleita veria eliminados, já na posse, preconceitos que perseguiram Luiz Inácio Lula da Silva desde o início do mandato, no já mais ou menos (nossa memória é curtíssima!) longínquo ano de 2002.



Já postei aqui comentários sobre uma velha senhora, ávida leitora de jornais, sempre interessada no mundo a seu redor. Conversávamos muito. Ela sempre ligava sempre para ouvir minha opinião sobre matérias que considerava polêmicas que encontrava no Globo e JB (ainda em edição impressa).  A última vez que falamos, o assunto foi a reserva indígena Raposa do Sol.

Minha opinião não foi o politicamente correto que ela esperava e a velha senhora surpreendeu-se. Mas gostou. Discordávamos sempre e naquele dia concordamos. Eia! Sus! Omessa! 

Bom, a velha senhora não engolia a eleição de um operário para a presidência da república. “Um operário sem curso superior!” Era inadmissível. Confrontada com o fato do vice também não ter terceiro grau, ficou alguns instantes muda do outro lado da linha. (José Alencar para ela era um grande homem ou coisa parecida).

Passados esses instantes, a velha senhora ponderou. “Mas ele era um homem pobre que veio do nada e criou praticamente um império.” Ou seja, o nível de escolaridade não era tão importante quanto à origem social. 

Ser “analfabeto”, como queriam os detratores de Lula, era menos importante. O grave era um operário, presumivelmente pobre, ter chegado à presidência.
Dilma Rousseff já entra no palácio do planalto eliminando esses dois quesitos: é uma mulher de classe média e tem nível universitário.

 E isso também é parte do estilo Dilma de governar. Em política externa, a presidente ameaça ser muito mais pragmática que o emotivo Luiz Inácio. É possível que a diplomacia em relação ao Irã, onde o Brasil tem interesses comerciais e quer ampliá-los, siga por caminhos mais digamos... seguros.

Ou seja, sem choques diretos com os Estados Unidos. É um caminho mais seguro, sem maiores problemas com o império norte-americano, mas Dilma vai, talvez com o tempo, aprender que essa rapaziada é muito mais pragmática do que imagina a nossa vã filosofia. 

Ou seja, a retórica da secretária de Estado Hilary Clinton, que disse estar “extremamente decepcionada com o presidente Silva em relação ao Irã”, pode sinalizar uma direção, enquanto a realidade é outra.

O Brasil, nos últimos oito anos, deixou de seguir cada passo da política externa dos Estados Unidos. Como ameaçam fazer agora países africanos e asiáticos como o Egito, a Tunísia, a Jordânia e outros como a Argélia, o Sudão e vai por aí.

Nesses estados, onde agora é grave a ameaça de democratização, os norte-americanos apoiaram irrestritamente ditaduras sangrentas, sem nenhum respeito pelos direitos humanos. Assim como apoiaram um dia Pinochet, no Chile, Videla/Viola na Argentina e os generais brasileiros. Ou como aconteceu com Hosni Mubarak até poucos dias atrás.

Agora a ameaça de um “efeito dominó” pode fazer com que esses países sob novas lideranças, resolvam optar por aquilo que a esquerda brasileira chamava, nos anos 60/70, de “política externa independente”. (Havia até uma revista com esse nome, publicada pela editora Civilização Brasileira). Ou seja, como começou a fazer o Brasil, na era Lula, com algum sucesso.

Dilma pode (e até deve) ser menos emotiva do que o torneiro mecânico do ABC paulista, mas é preciso não retornar a alinhamentos indesejáveis aos interesses do país em nome de um pragmatismo que, ao fim e ao cabo não levará a absolutamente nada. 

O Brasil já anda com suas próprias pernas.  E é muito difícil ser mais pragmático do que os americanos.



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