Na internet, no celular, em Brasília,
no Rio, o deputado Eduardo Cunha multiplica-se em contatos e esforços que o
fazem mostrar-se como pessoa confiante, que de fato é, e inatingível agora como
o foi pelas muitas situações críticas que personificou. Mas desta vez há uma
surpresa, inconciliável com os seus seis meses de domínio absoluto da maioria
da Câmara.
Eduardo Cunha é um daqueles tipos que
fazem paus mandados a granel. Em cada uma de suas situações embaraçosas, há
sempre mãos de gato para negar que seja o autor de documentos, de
intermediações, da articulação de negócios exóticos. E, ao que se saiba, sempre
há também lealdade de sua parte. Um dos pormenores da acusação que o atinge na
Lava Jato, e que ele repele, é sua alegada advertência, a um pagador de US$ 5
milhões, de que não faltasse igual pagamento a seu companheiro na operação. O
mão de gato no caso.
As repórteres Simone Iglesias e
Fernanda Krakovics noticiaram resistências na bancada peemedebista a incluir o
assunto da Lava Jato em documento de apoio ao colega acusado. Queriam o texto
limitado ao comando da Câmara. A bancada do PMDB é a de Cunha. Foi o centro de
atração para formar-se o apoio às manipulações e votações comandadas por Cunha.
Apesar disso, o documento não foi emitido: o próprio Eduardo Cunha, sem o que
lhe convinha, teria decidido pela gaveta.
Mas a surpresa está menos nesse
resultado do que na sua origem. Enfim começou no PMDB uma reação dos que não se
alinham com Eduardo Cunha. Paralisados por estarrecimento desde a eleição de
Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, peemedebistas dessa corrente
inquietaram-se com a acusação proveniente da Lava Jato e seus possíveis
desdobramentos sobre o partido. Ou sobre si mesmos e seus planos políticos. E
iniciaram uma ação em surdina dirigida aos colegas que lhes parecem mais
acessíveis à tese do descomprometimento do PMDB com Eduardo Cunha.
Desde o outro fim de semana, há uma
incipiente guerra sem ruídos entre peemedebistas. Com uma preocupação dos que a
iniciaram: os argumentos, sem referência ao governo, devem ser em torno só da
necessidade de recuperar a velha unidade do partido e, como decorrência, a
candidatura própria a presidente com perspectiva de êxito.
O tipo de movimentação de Eduardo
Cunha na primeira semana de recesso, em vez do habitual giro pelas bases
eleitorais, tem tudo de contenção das perdas e busca de recuperação dos idos.
Ficou difícil saber se, a esta
altura, seu problema mais premente está na Lava Jato ou dentro do PMDB: está
mal em ambos.
Janio de Freitas, na Folha
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