Visite Também

Visite também o Conexão Serrana.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Strauss-Khan, o FMI e o mundo em que vivemos


O Fundo Monetário Internacional foi cercado, até agora, por uma aura de respeitabilidade que dava a seus diretores uma espécie de “direito moral”, ou coisa parecida, de intervir em economias fragilizadas do chamado Terceiro Mundo. 


O Brasil, até que Luiz Inácio Lula da Silva quitasse a dívida com o órgão, foi alvo das estapafúrdias intervenções do Fundo. A decisão de acatar sem restrições os ditames do órgão implicava, sempre, em mais recessão e desempregos. Invariavelmente.

Valoriza-se (até hoje o FMI ainda reza por essa cartilha) a privatização a qualquer custo e a subordinação dos governantes eleitos aos movimentos do mercado. Esse paraíso em que as empresas seriam felizes para sempre e os mais pobres morreriam no final do filme foi bruscamente interrompido pela crise dos subprimes nos Estados Unidos.

Com a globalização (ou a presunção de que o mundo caminha na sintonia fina do mercado) o castelo de cartas atravessou o Atlântico e chegou à Europa e Ásia. Sobreviveram, lépidas, as economias demonizadas pelo FMI: Brasil, Rússia, Índia, China, Os BRICs.

Mas nem sempre a banda tocou desse jeito. Até meados dos anos 50 acreditava-se que havia uma ancestral competição entre países, nações, povos, estados, tribos, através dos tempos. Essa competição levava quase sempre a guerras, por disputas territoriais. 

Geralmente estavam em jogo regiões ricas em solo fértil, abundância de água e, bem mais tarde, carvão, petróleo e outras riquezas. A Alsácia/Lorena, disputada por França e Alemanha até o fim da II Guerra Mundial, exemplifica essa luta em meados do século 20.

Com o advento da chamada globalização, essas disputas pareceram ter saído de moda. (Exceção é claro da ocupação do Iraque pelos Estados Unidos, agora proprietários da segunda maior reserva mundial de petróleo). 

Prega-se uma cooperação em que as economias dividem entre si – a cada um segundo suas possibilidades ou especialidades – a produção de bens e serviços. O objetivo é aprimorar o comércio entre as nações e acelerar o fim da miséria. Tudo isso, é claro, pela via do mercado, não importando que alguns produzam espigas de milho e farelo de soja e outros tablets & similares de alta tecnologia e valor agregado.

Bom, o Fundo tinha o “direito moral” de aconselhar os dirigentes a caminhar, como se viu em 2008, em direção à catástrofes sociais em que os ricos ficavam mais ricos e aos pobres restava pouco mais do que ir para as ruas (como na Grécia e Irlanda hoje; Portugal e Espanha num futuro próximo) enfrentar a polícia para não morrer de fome. 

Ou de doenças, porque uma das primeiras medidas sussurradas no ouvido de governantes encalacrados é a redução de benefícios sociais como serviços gratuitos de saúde, aposentadorias e outras migalhas atiradas à populações miseráveis de países ricos.

A prisão do nº 1 do Fundo após o que teria sido uma tentativa de estupro num Hotel de Manhattan mostra uma nova face dos homens que governam o dinheiro do mundo. 

Dominique Strauss-Khan já tinha outras acusações de comportamento semelhante, contra uma subordinada sua no FMI e contra uma jornalista que, agora, jura que vai a Justiça acusá-lo de comportamento similar. 

O francês, que até poderia vencer Nicolas Sarkozy nas próximas eleições para presidente do país, comandava um organismo internacional que decidia a vida de milhões de pessoas. 

Não deixa de ser irônico um predador sexual ditando regras para governantes do mundo todo sequiosos e, dadas as condições de seus países, irremediavelmente subordinados à do Fundo.

Mas a demolição do ex-diretor do Fundo Monetário Internacional produzida pelas autoridades de um país que sempre estendeu a mão a ditadores sangrentos, muitos deles useiros e vezeiros em crimes da mesma natureza do cometido por Strauss-Khan, deixa os mais espertinhos “com a pulga atrás da orelha” - expressão muito em voga no passado não tão distante assim.  

Dominique Strauss-Khan, possível sucessor socialista de Nicolas Sarkozy incomoda tanto assim os americanos? Ou seriam as tímidas mudanças no modo de trabalhar do Fundo, que o francês queria implementar, o motivo da gigantesca publicidade em torno de sua prisão por uma tentativa de estupro afinal não consumada?


Quem viver, etc, etc 

Texto: José Attico

Nenhum comentário:

Postar um comentário