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domingo, 3 de março de 2019

O Capitão e os Sindicatos




A decisão do capitão Bolsonaro acabando, na sexta-feira à noite por Medida Provisória, com a possibilidade da contribuição sindical ser descontada em folha – a partir de agora o pagamento tem que ser feito através de boleto - abre espaço para reflexões.

Em primeiro lugar, usar de picuinha para agredir o movimento sindical – a MP é tão irrelevante que pode até ser rejeitada pelos deputados ali adiante – só mostra a fragilidade que começa a acossar o atual governo.

O momento para um regime de características pré-fascistas podia até parecer favorável. Os movimentos sindicais, sociais, populares, navegam nesse instante entre a surpresa, a estupefação e a decepção e apenas agora começam a buscar novos caminhos.

A decisão anterior, que extinguiu a contribuição sindical obrigatória, pode até dar impressão de ter alcançado os objetivos, mas, pelo contrário, foi um erro cometido pelo capitão e seu conluio neopentecostal. Erro que pode custar caro daqui por diante.

Naquele capítulo, realmente extintos foram os sindicatos, federações e confederações dominados pela rapaziada que mereceu, sempre, a antiga (da década de 30) alcunha de pelegos. Como Paulinho da Força & assemelhados.

Pelegos sempre tiveram, para os patrões, uma função crucial no cenário da luta de classes, que a inteligência do núcleo em torno de Bolsonaro não tem capacidade de avaliar. Suas reivindicações – às vezes previamente acertadas com os donos das fábricas - até podiam melhorar um pouco o cenário para categorias menos aguerridas e com menores condições de ir à luta. E só.

Mas, por outro lado, essa rapaziada teve até agora a importante função de despolitizar a luta sindical, aceitando recuos, contramarchas, imposições descabidas, mudanças bruscas de direção, desde que o reivindicado pelo Trabalho não extrapolasse o âmbito dos pátios da fábrica.

Sob condições especiais de crise – como acontece agora na Ford de São Bernardo - a redução da jornada de trabalho ou aceitação de posturas mais flexíveis era mais fácil de ser negociada pela massa de sindicatos do que por duas ou três entidades mais duras no trato com o Capital.

Os movimentos dirigidos por pelegos, que serviam de anteparo nos embates Capital/Trabalho, não resistiram ao fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, mas os filiados da CUT e sindicatos mais aguerridos e com maior tradição de luta, vão permanecer na defesa dos interesses da classe.

Agora, os patrões terão que bater de frente com trabalhadores com mais consciência de seus direitos, mais treinados na luta do dia-a-dia e mais politizados, sabendo que aumento de salários e melhoria de condições de trabalho são apenas duas das pautas que devem estar na mesa.

O episódio da picuinha, por sua vez, deixa claro para o respeitável público que o Poder, ao contrário do que vinha sendo arrotado desde a vitória nas urnas, vem sendo desgastado com velocidade surpreendente.

É bom lembrar que quando as nuvens começaram a se formar no céu dos militares golpistas de 64, com o surgimento das greves reivindicatórias do ABC sendo cada vez mais politizadas e com milhões de pessoas indo para as ruas pedindo Diretas Já, os generais começaram a recuar, advertidos de que uma ruptura no poder poderia levar a consequências funestas.

A anistia proposta na época sob a batuta do deputado Petrônio Portela incluía tanto guerrilheiros e líderes condenados, quanto os militares envolvidos em assassinatos, tortura, roubo, corrupção e outros crimes.

Os generais saíram de fininho, advertidos pelo bruxo Golbery do Couto e Silva, principal mentor do regime, de que os riscos podiam ser incontroláveis.

Em consequência, o coronel Brilhante Ulstra, torturador conhecido, ficou fora de eventuais processos que pudessem ser abertos contra ele porque a lei de anistia de Petrônio Portela, digamos, perdoava os dois lados.

Bolsonaro e seu grupo não têm inteligência para repetir a saída dos militares do poder. Talvez nem saibam o que aconteceu com o italiano Benito Mussolini, possível modelo do atual regime. 

Segundo o Google: ao final de abril de 1945, com a derrota total aparente,(Mussolini) tentou fugir para a Suíça, porém, foi rapidamente capturado e sumariamente executado próximo ao lago de Como por guerrilheiros italianos. Seu corpo foi então trazido para Milão onde foi pendurado de cabeça para baixo em uma estação petrolífera (posto de gasolina) para exibição pública e a confirmação de sua morte.








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