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sábado, 16 de março de 2019

O serviçal inesperado




Para quem está acostumado a analisar fatos da política, a partir do que acontece na economia, é difícil imaginar que alguns frenéticos movimentos no tabuleiro de xadrez da política nacional, nos últimos dias, sugiram que a trajetória de Jair Bolsonaro na presidência da República esteja se aproximando do fim. Pode até acontecer, mas será surpreendente.

Não é assim que a banda toca. A possibilidade de promover o desmonte da Previdência Social interessa à classe dominante, para quem Jair Bolsonaro é um serviçal inesperado. Um serviçal que, se necessário, poderá ser defenestrado mais adiante. Inesperado porque a classe apostava na eleição de liberais domesticados como Alckmin & assemelhados.

Mas Bolsonaro venceu a eleição e a partir daí banqueiros, industriais, grandes proprietários de terra, executivos das multinacionais, passaram a ter que conviver com o despreparo para o cargo que o capitão reformado expõe todo dia nas redes sociais. Conviver e aguardar seus canhestros movimentos no xadrez da política. Se Bolsonaro não adquirir os votos necessários para suprimir o direito à aposentadoria, aí sim, está fora.

Voltando aos movimentos no tabuleiro de xadrez. O presidente tem peças adversárias bem próximas de suas defesas. O general Hamilton Mourão, vice-presidente, continua em sua cruzada para se tornar alternativa segura a assumir o Planalto. Suas declarações divergindo ou até antagonizando as diatribes do capitão-presidente agradam a setores liberais e até a uma parcela da esquerda e de movimentos sociais que se vêem seriamente ameaçados pela retórica ultradireitista, homofóbica e racista do presidente.

É também bastante sintomático que, em um movimento pouco discreto, as Organizações Globo tenham escalado a colunista Miriam Leitão para desancar as posições de Bolsonaro, na área da economia. Pode ser um sintoma de que a classe dominante já começa a ter problemas com o serviçal inesperado. Fica também muito claro que o capitão-presidente não tem a força que pretendia quando eleito.

(Nesse capítulo é bom lembrar que um de seus filhos chegou a ameaçar o fechamento do Supremo Tribunal Federal, bastando para isso “a presença de um cabo e um soldado”).  

O episódio do vídeo pornô que deixou boa parte da classe média conservadora em estado de choque, pode não ter importância política, mas parte de seus apoiadores incontestes ficou inesperadamente órfã.

É bem provável que, a partir de agora o capitão não possa mais exibir a desenvoltura dos pequenos ditadores sul-americanos quando em atividade e tenha que se contentar em só tomar decisões depois de consultar os generais que o cercam. Aliás, é possível que os militares do entorno passem a “aconselhar” mais de perto o Chefe do Executivo. Tuítes aloucados estão, desde já, proibidos.

O capitão-presidente não deve cair porque a instabilidade não interessa à classe dominante.  Banqueiros, capitães de indústria e homens do agronegócio, embora temerosos dos próximos movimentos de Jair Bolsonaro – por exemplo, a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém em detrimento de nossas relações comerciais com o mundo árabe – já receberam do capitão uma importante bonificação: o ministério do Trabalho desapareceu e os sindicatos estão a caminho da extinção.

É um ganho significativo para ser desperdiçado por episódios protagonizados por um presidente, que esses mesmos empresários reputam como um idiota perfeitamente controlável.

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