Kim Kataguiri, que já tem em seu álbum de fotos a antológica imagem ao lado de Eduardo Cunha (líder máximo do movimento anti-corrupção, um guru para as crianças do MBL – Movimento Brasil Livre) e a belfie (selfie da bunda)
E
depois, caso o Estatuto do Desarmamento seja mesmo revogado, o que
fará o patriota Kim? Vai às manifestações com uma AK-47 ou com um
revólver como faz Bolsonaro filho? Vai entregar um Taurus 38 para
cada correligionário que se acorrentar ao pilar do Salão Verde da
Câmara?
A
foto provocadora dispensa legendas. Está explícito que Kim e seus
Power Rangers aguardam ansiosamente para colocar petistas e qualquer
um que pense diversamente para correr na base da bala. Vista uma
camiseta vermelha em dia de manifestação puxada por esses coletivos
pró-impeachment e saiba do que estou falando.
Depois
do mais recente artigo sobre o quanto deputados receberam em suas
campanhas para empenhar-se na revogação do estatuto, neo-fascistas
seguidores do MBL e do Movimento Viva Brasil invadiram a página do
facebook do DCM, vomitando asneiras e fazendo ameaças.
Nada
de muito sério, mas de uma turma que se informa pelo facebook e que
não sabe diferenciar o que foi o referendo e o que é o estatuto,
com aquela conversa de que desarmamento é coisa de blog corrompido
pelos petralhas pode-se esperar de tudo.
Afinal,
eles politizam qualquer coisa e no momento atual não apenas querer
andar de bicicleta mas querer andar desarmado também é coisa de
comunista. De bicicleta e desarmado então, merece ser fuzilado por
essa gente de bem que sonha em ter uma pistola na cintura para sair
combatendo os comunistas.
A
linha de raciocínio, quando não visava atacar o DCM, era ainda mais
sombria: “Só o cidadão honesto está desarmado. Isso vai mudar em
breve!”, ameaçava um dos muitos pretensos candidatos a Charles
Bronson, seguidores do sorumbático Benê Barbosa, ativista e auto
intitulado maior especialista no assunto no país.
Estão
brincando com fogo e empurrando-nos para uma sociedade tão doente
quanto a do tio Sam. Facilitar o acesso às armas é criar um oceano
de tragédias. Um levantamento feito nos casos investigados pelo
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) aponta que
83% dos assassinatos esclarecidos foram cometidos por motivos fúteis
como brigas de trânsito, discussões de casal, rivalidades entre
torcedores fanáticos. Quando se tem uma arma à mão, este é o
resultado.
Depois
do massacre em Columbine (uma das centenas de matanças em
universidades, escolas ou cinemas que ocorrem nos Estados Unidos por
motivos tão complexos quanto frágeis), Michael Moore produziu um
documentário na tentativa de entender como e por que aquilo havia
acontecido.
São
muitas as observações e a cultura do medo imposta pela mídia é
uma avaliação certeira, porém a conclusão derruba logo de cara um
dos argumentos mais caros aos defensores do direito de se andar
armado: o de que quem mata não é a arma e sim o homem. Ora, o homem
que mata o faz com um arma na mão e o fácil acesso a ela só
aumenta as estatísticas.
Com
esse argumento tão cínico quanto rasteiro, a turma armamentista faz
diversas acusações sobre quem então seria o responsável pelas
mortes em Columbine já que a culpa segundo eles não era das armas.
Acusam os filmes, os vídeogames, os pobres, os negros, o sol, a
chuva, sobra até para o cantor Marilyn Manson. Ninguém quer
enxergar que aquilo só ocorreu porque os adolescentes tinham armas e
munição obtidas fácil e legalmente.
Desde
as cavernas já usamos a funda, o tacape, a zarabatana, depois
partimos para armas mais sofisticadas a fim de resolver os problemas
individuais na pré-existência de um Estado. Até que alguém
inventou o diálogo, a civilização e a política e pouco a pouco
foi abandonado o costume de atender a porta de casa com um mosquete
na mão. É preciso muita titica de galinha na cabeça para acreditar
que andar armado seja o passo seguinte na evolução.
Escapa-me
entender que essas pessoas não visualizem que o que devemos almejar
é uma sociedade na qual ninguém use armas, nem mesmo a polícia. O
Reino Unido tem uma das legislações mais restritivas ao uso de arma
em todo o mundo. A maior parte dos policiais britânicos não anda
armado. Em um ano – entre maio de 2012 e abril de 2013 – as
polícias da Inglaterra e do País de Gales fizeram disparos de armas
de fogo apenas três vezes. Não mataram ninguém.
O
que passa na mente dessa turma que é contra o aborto mas a favor que
se mate quando já for maiorzinho? Os legisladores e lobistas ganham
dinheiro para isso. Os inocentes querem bala. Lázaro, ajude-nos a
entender.
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