O economista-chefe de investimentos
do Saxo Bank da Dinamarca, Steen Jakobsen, fez uma série de críticas à economia brasileira durante evento realizado em São Paulo no início
deste mês. Para ele, presidente e Banco Central
estão perdidos e país é "campeão em fracassos".
Economistas brasileiros consultados
pelo JB reforçam
que as “análises pessimistas” podem ser resultado de uma visão superficial, ou
ainda o ponto de vista do investidor que apenas visa o lucro.
Apontam, no entanto, que algumas
medidas do governo geraram grande resistência e um certo recuo, e ainda a real
necessidade do país de realizar um planejamento estratégico de longo prazo, que
dê continuidade ao movimento de distribuição de renda iniciado na década
passada.
Jakobsen declarou que a situação
macro do Brasil é a pior dos países que ele visitou, criticou Dilma
Rousseff por não saber o que quer e ainda estar "completamente
perdida", assim como o Banco Central.
Reclamou ainda da ausência de
reformas e decisões políticas "fora do bom tom" e disse que o Brasil
precisa de uma crise de verdade, "com uma magnitude enorme", para
"tomar jeito" - apesar de ter ressaltado que o país é "campeão
mundial de fracassos" e que nunca aprende.
Comentou também que receber a Copa e
as Olimpíadas foi um erro gigante, que acabou desviando recursos importantes
para "coisas inúteis".
O economista Pedro Rossi, professor
do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
acredita que existe no discurso do setor financeiro e de parte da mídia uma
"realidade inventada".
“Acho que esse tipo de pessimismo
beira a irracionalidade e a esquizofrenia. Por mais que haja problemas na
economia brasileira, em especial o baixo crescimento, o país vive o seu índice
de desemprego mais baixo das últimas décadas (5%) e vem distribuindo renda, o
que melhora as condições de vida da população mais pobre, ou seja, não estamos
à beira do colapso”, completa Rossi.
Heron do Carmo, professor do
Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), esclarece que as
críticas parecem ser baseadas mais em impressões sobre o Brasil do que em
análise fundamentada.
“Por exemplo, com relação à Copa ele
deve ter esquecido que o Brasil recebeu o evento em 1950 e o realizou a
contento, incluindo a construção do Maracanã. Naquela época nosso PIB era cerca
de 5% do atual.”
Francisco Lopreato, também professor
de Economia na Unicamp, reforça a necessidade de avaliação dos interesses e
perspectivas de Jakobsen, um investidor, focado, provavelmente, na maior
rentabilidade para suas aplicações financeiras.
“Talvez, para esse tipo de gente,
realmente as condições estavam melhores anos atrás do que no momento mais
recente.
Durante o governo do Fernando
Henrique e até mesmo em alguns momentos do Lula, mas na gestão de FH muito
mais, depois que passou turbulência de 1999, a rentabilidade que eles estavam
conseguindo no Brasil era extremamente elevada. A taxa de juros era bastante
alta, para eles era o melhor dos mundos.”
O ponto de vista do investidor
dinamarquês pode não ser o mesmo da população brasileira, que, reforça
Lopreato, assistiu a uma melhor distribuição de renda e melhor nível de
emprego, que está entre os mais baixos do mundo, além do maior número de bolsas
de financiamento estudantil e de programas como o Ciência sem Fronteiras.
Em relação às críticas diretas à
presidente Dilma Rousseff, de que ela estaria completamente perdida, o
professor destaca que o governo realmente perdeu um pouco o rumo, devido à
resistência que enfrentou com algumas medidas como as adotadas para favorecer a
indústria, que exigiu mudanças nos juros, na questão tributária e no câmbio.
“Ela defendeu e ampliou a política de
apoio ao setor industrial que veio do Lula, contrária a do FHC, e,
principalmente quando reduziu a taxa de juros, causou frenesi”.
“A gente não pode esquecer que, desde
o final do período de alta inflação, nós temos como característica da economia
brasileira um nível de rentabilidade das aplicações financeiras muito alto.
Quando você mexe na taxa de juros, isso causa uma resistência muito grande. Ela
comprou uma série de brigas e pagou caro para isso, perdeu algumas batalhas”,
esclarece.
“Isso fez com que o governo recuasse
em alguns momentos, como na taxa de juros, na inflação e na questão tributária.
Havia um rumo claro, destaca Lopreato, mas o governo teve que “dar um passo
atrás”.
“Quando ela mudou a trajetória da
taxa de juros, ela perdeu um pouco o rumo, teve que ceder um pouco para atender
demandas e, talvez, o foco que ela tinha muito claro, nesse último ano, está
meio difuso.”
Sobre as críticas à realização da
Copa e da Olimpíadas no Brasil - o dinamarquês falou em um desvio de recursos
importantes para "coisas inúteis" –
Lopreato destaca que seria
ingenuidade imaginar que se não tivéssemos a Copa os recursos iriam para
educação e saúde. Ele explica ainda que um investimento maciço nos setores
sociais, no entanto, seria o passo seguinte ao movimento de distribuição de
renda iniciada no governo Lula.
“O problema não é a Copa. O que está
em falta no Brasil é uma discussão mais consubstancial de um projeto de longo
prazo, mas para fazer isso depende de consolidação de interesses mínimos, o
que, no Brasil, é difícil, porque cada um puxa para um lado”.
“O último movimento de planejamento
estratégico em regime democrático foi com Juscelino. Depois disso, tivemos
alguns momentos como o milagre econômico, mas foi da Ditadura, né? Tivemos uma
proposta na época de Fernando Henrique, que era de reforma e não tinha grandes
planejamentos de longo prazo”, comentou.
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