Os jornalões e canais da TV corporativa estão tentando reverter uma iniciativa moralizadora, transformando o “sigilo” proposto pelo governo nos orçamentos para as obras da Copa do Mundo e Olimpíadas em alguma coisa que cheire a corrupção.
É complicado. Os textos estão saindo confusos e o que se quer passar - a idéia de que o governo não quer transparência nos processos de licitação - acaba se restringindo aos títulos.
Desta vez, pelo menos, a mídia está defendendo com unhas e dentes os seus anunciantes, principalmente as empreiteiras.
O sigilo proposto pelo governo se restringe aos orçamentos que serão apresentados às empresas. Com isso Dilma Rousseff tenta – mas dificilmente conseguirá – impedir que os empresários, sabedores de quanto o governo pretende pagar, rateiem entre si cada uma das obras, subindo, os preços e decidindo em comodato quem vai fazer o quê.
É simples. Se uma obra é orçada em hipotéticos R$ 100 milhões, de posse desse número a empreiteira que “vai vencer a concorrência” envia, por exemplo, uma proposta de R$ 150 milhões.
As “concorrentes” enviam propostas com valores ainda mais altos. O governo opta pelo orçamento mais baixo e paga R$ 50 mi a mais pela obra.
Claro que a decisão de “quem vai fazer o quê” foi tomada anteriormente e em condomínio pelas empresas.
Em uma “concorrência” futura à outra empresa caberá fazer a proposta mais baixa, sempre, é claro, acima do que o poder público gostaria de pagar.
E claro que mesmo o sigilo moralizador proposto pelo governo dificilmente deixará de ser quebrado. Em processos como esses, centenas de pessoas acabam por conhecer antecipadamente as cifras do orçamento.
Como o que está envolvido são milhões (ou mesmo bilhões) um funcionário do governo mais ou menos graduado, com acesso aos dados, pode ganhar uma grana que venha até a compensar possíveis dissabores que surjam se for descoberto.
A luta dos jornais para acabar com o sigilo e permitir o encarecimento das obras deve continuar. O respeitável público, principalmente a classe média conservadora que lê O Globo, Folha de São Paulo, Estadão & outros mais pobres ainda de leitores não liga muito quando come gato por lebre.
Texto: José Attico
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