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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Mourão




“O governo brasileiro acredita que é possível encontrar uma solução para devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas, sem qualquer medida extrema que nos confunda com aquelas nações que serão julgadas pela história como agressoras, invasoras e violadoras das soberanias nacionais”. O discurso, segunda-feira (25) na Colômbia, é do vice-presidente da República Federativa do Brasil, Hamilton Mourão.

Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas realmente... realmente faltou acrescentar: o país vai se posicionar contra o cerco econômico imposto ao governo de Caracas e Maduro é problema dos venezuelanos.

A fala do vice deve ter provocado um profundo desgosto no chanceler brasileiro Ernesto Araújo, que, aliás, estava a seu lado. Araújo manteve diante da mídia a correta postura do cão de companhia e só abriu a boca quando o general mandou.

Ou seja, a política externa do Brasil não tem nada a ver com ele – e nem com Bolsonaro – é prerrogativa dos generais no Planalto e ponto final.

Um parêntesis: esse detalhe pode ser indicativo de que Araújo e a ministra da Mulher, Direitos Humanos, etc, etc, Damares das quantas, não são levados a sério pela tropa que chegou ao poder com Jair Bolsonaro. Damares, aquela senhora que vê Jesus caindo da goiabeira, e Ernesto Araújo foram indicados para os cargos pelo filósofo, com segundo grau completo, ex-muçulmano, praticante da poligamia e agora católico fervoroso e anticomunista de carteirinha, Olavo de Carvalho. Fecha parêntesis.

Talvez o próprio Bolsonaro já não tenha tanta importância assim no quartel do Planalto, obrigado a engolir de volta e rapidamente palavras ditas anteontem e outras alguns dias antes.

Como, por exemplo, a afirmação de que ‘a China é um predador que quer comprar o Brasil’ ou a proposta de transferência da embaixada do país de Tel Aviv para Jerusalém. 
Mourão vai à China cuidar de minimizar as bobagens ditas pelo presidente e os israelenses terão de se dobrar aos interesses do agronegócio brasileiro.

O ex-capitão disse também, meses atrás, aos jornalistas que cobrem a Câmara dos Deputados, que a reforma da Previdência proposta por Temer era absurda! Foi mandado inverter os sinais e, as pressas, apresentou outra, um pouco mais radical ainda.

Mas voltando ao general Mourão. Antes que sites e blogs progressistas se animem com a figura é bom ler o que saiu na revista Carta Capital:

“Nos últimos anos, Mourão passou a adotar um perfil linha dura semelhante ao de Bolsonaro. Em seu último discurso como general no Salão de Honras do Comando Militar do Exército, no fim do ano passado, chamou o torturador Carlos Brilhante Ustra de 'herói’. * 



Antes de deixar o cargo de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército e seguir para a reserva, Mourão causou enorme polêmica ao defender, em uma palestra promovida pela maçonaria em Brasília em 2017, uma possível intervenção das Forças Armadas caso as instituições não resolvessem “o problema político.”

À época, o militar afirmou que ou o Judiciário retirava da vida pública “esses elementos envolvidos em todos os ilícitos” ou o Exército teria de “impor isso”. Ele afirmou que não existe uma fórmula de bolo para uma revolução ou uma intervenção, mas que haveria “planejamentos muito bem feitos”.

Muitos cobraram à época uma punição para o general, mas Villas Boas Corrêa, comandante do Exército, preferiu resolver o caso internamente e acelerar a aposentadoria de Mourão. 

Em 2015, o comandante do Exército também resolveu internamente outra polêmica. Exonerou Mourão do Comando Militar do Sul e o transferiu para a secretaria de Finanças após seu subordinado criticar abertamente o governo de Dilma Rousseff.

Virando essa página e já como vice-presidente da república, o general mudou completamente o tom, segundo a revista Exame:

Ao contrário do que disseram os integrantes do clã Bolsonaro, por exemplo, Mourão disse considerar graves as ameaças contra o ex-deputado Jean Wyllys, afirmou que é a mulher que deve tomar a decisão em caso de aborto, defendeu investigação sobre as suspeitas que pairam sobre o senador Flávio Bolsonaro e – “traição” suprema a quem costurava acordos com Israel e Estados Unidos – recebeu uma delegação palestina e se opôs ao alinhamento automático com qualquer país".

Um final perfeitamente alinhado com o recente discurso na Colômbia.

Mourão também disse - e aí o copyright é meu “que proibir a ida de Lula ao funeral do irmão era uma desumanidade”.

O general é, por enquanto, um enigma. Sabemos, pelos antecedentes, que despreza o capitão-presidente e que está disposto a dizer o que pensam os militares no quartel do Planalto.

Mas é só isso mesmo ou explicitando um contraste entre ele e os bolsonaristas, o vice pretende se apresentar como alternativa muito mais viável aos interesses dos militares !?

De qualquer modo, nos últimos dias, a rapaziada de Curitiba e grupos ávidos por um lugar ao sol entre os que almejam se tornar serviçais da ideologia proposta pela dupla Olavo de Carvalho\Jair Bolsonaro, parecem ter preferido o silêncio.

Ou talvez, como aconteceu com o chanceler, estejam receosos de precisar usar outra focinheira imposta pelos generais.



* Chefe do DOi-Codi quando foram registradas 45 mortes e desaparecimentos de presos políticos, segundo a Comissão Nacional da Verdade, Ustra também costuma ser enaltecido por Bolsonaro. Na sessão da Câmara que aprovou o impeachment contra Dilma Rousseff, o presidenciável referiu-se ao torturador como o “terror” da ex-presidenta. Em recente entrevista ao Roda Viva, Bolsonaro disse que seu livro de cabeceira era “Verdade Sufocada”, de autoria de Ustra. 




















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