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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Blitz






Está tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente... Os versos da extinta banda Blitz, cabem como luva na situação atual da economia brasileira. Pois é, eliminados todos os resquícios da legislação trabalhista, implementada uma ordem que precariza todas as categorias do emprego, a classe dominante que apoiou Alckmin e depois Bolsonaro está de bem com a vida.

Num contexto em que há pelo menos 13 milhões de desempregados – há gente que fala em 25 milhões – a notícia pode até parecer boa. Boa para os que buscam desesperadamente uma ocupação remunerada há dois, três anos. Afinal ganhar algum é fundamental para quem está dependendo de parentes, igrejas, amigos, ou resolve sair por aí assaltando a classe média ou mesmo seus próprios companheiros de barco.

Então num primeiro momento vai estar tudo muito bom, tudo muito bem... O problema é o que vem depois do realmente.  

Considerando que o neoliberalismo pode amenizar - momentaneamente e em parte - os números do desemprego. Considerando que os patrões vão se livrar dos custos de impostos da seguridade social, a impressão que fica é a de que o baile pode começar.

Então a pergunta é: como o trabalhador que vai ganhar apenas o suficiente para comer – na imensa maioria dos casos o salário não vai dar nem pro aluguel – quem vai comprar o que as empresas produzirão a partir de agora? A balada pode começar, mas a banda não compareceu!

Há uma expressão que esteve na moda no final dos anos 60, início dos 70 e que, de repente, desapareceu da mídia, dos estudos, dos livros: vivemos, queiram os moderninhos ou não, numa sociedade de consumo de massa.

Apesar da robotização, da inteligência artificial, do aumento do setor de serviços, etc, etc, as indústrias que produzem automóveis, motocicletas, geladeiras, televisores, relógios, celulares, enfim, tudo aquilo de que nos acostumamos a precisar no dia-a-dia nesse início do século21, essas indústrias dependem de milhões de consumidores.

Trabalhadores remunerados com salários que cobrem apenas o necessário para a sobrevivência estão excluídos da tal sociedade de consumo de massa.

(É bom lembrar que o governo Lula inverteu essa tendência, subindo o valor do salário mínimo, implementando uma política de pleno emprego e melhor remuneração. O resultado: o PIB brasileiro saiu do 15º lugar para o sexto/sétimo. Quem duvidar é só dar uma passadinha no Google, os dados são do Banco Mundial, do FMI e da CIA).

Então a rapaziada que espera uma solução para o país com base na acumulação capitalista, pode botar as barbas de molho. A proeza que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende programar é velha como andar pra frente!

Delfim Neto, então ministro da Fazenda pós-64, já dizia que era preciso primeiro fazer o bolo crescer para então dividir. Não deu certo. O crescimento foi medíocre, o desemprego manteve seus altos níveis e a classe trabalhadora começou a se movimentar. Vieram as greves do ABC e a ditadura saiu de fininho.

Os militares de 64 tomaram o poder pela força; eram tempos de guerra fria e muito temor pelo “comunismo ateu” e suas derivações. Bolsonaro foi eleito para o cargo por milhões de brasileiros, num pleito em que o golpe foi dado, meses antes, por um juiz de primeira instância, a serviço da classe dominante. Moro tirou Lula do pleito e preparou-se para ser recompensado. Foi.

A política econômica de Paulo Guedes difere pouco do que foi proposto nos anos 60. Talvez seja ainda mais radical do que o imaginado pelos sabichões Delfim Neto e Mario Henrique Simonsen e a tendência é que o destino seja o mesmo: a economia vai patinar e depois retroagir durante um período.

Mas como as mudanças sociais são cada vez mais rápidas, Bolsonaro, Guedes & associados podem ser defenestrados sem maiores delongas antes até do cumprimento de seu mandato. 

É provável que a crise gerada pelos filhos do presidente, a decepção de parte da classe média – que considera a corrupção a mãe de todos os males e tinha Bolsonaro como o paladino da decência - a constatação de que pela primeira vez na história da república uma doente mental chegou ao ministério, e outras milongas já comecem a minar o apoio irrestrito que essa rapaziada ofertou ao capitão/deputado em outubro de 2018.

Nesse capítulo é bom lembrar que a classe dominante - colocada diante de coisas como ataques ao comércio com os chineses, transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém, e outras imbecilidades que podem prejudicar suas posições - já percebeu que uma troca de comando precisa ser viabilizada. Talvez com certa urgência. 



  

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