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terça-feira, 4 de novembro de 2014

O extremismo da direita não pode ser menosprezado, diz cientista político Marcos Ianoni

Ianoni conecta as origens dos insatisfeitos direitistas de hoje às manifestações de junho


Durante uma passeata em São Paulo, no sábado (1), contra a reeleição de Dilma Rousseff, foi possível constatar manifestantes pedindo uma intervenção militar. Embora os articuladores da manifestação já tenham se posicionado contra, dizendo que são a favor da democracia, pôde-se perceber que a direita está mais articulada, mais mobilizada e abriga casos de extremismo não tão incomuns, ilustrado pelas faixas pedindo o retorno da ditadura. Apesar de muitas pessoas verem a situação como piada e absurdo, para Marcus Ianoni, cientista político, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), o extremismo político não pode ser visto de maneira leviana.

Ele corrobora a ideia de que o Brasil é uma democracia forte e que as configurações políticas hoje são muito diferentes de quando se configurou uma ditadura, nos anos 60. Porém, ele acredita que o assunto tem que ser repudiado de forma firme e imediata e não tratado como bobagem. “Não podemos menosprezar esses grupos extremistas. Podemos analisar que o contexto é outro, que as conjunturas internacional e nacional são outras, que não tem grupos militares que parecem dispostos a dar um golpe, mas de qualquer forma essas manifestações são preocupantes, sim. Toda a sociedade civil organizada deve repudiar veementemente. A mídia, os partidos políticos, o PSDB, inclusive, devem se manifestar contra”, comenta ele.
Ianoni publicou um artigo no Jornal do Brasil no dia 28 de outubro, no qual diz que o mais importante é perceber que a direita está partindo para a mobilização “aproximando-se de comportamentos até então mais vinculados à esquerda: uma militância organizada e empenhada”. As pessoas que criticavam a presença de movimentos sociais e políticos dentro das manifestações são aquelas que não se sentem representadas. Elas aprenderam a protestar, ou se criou uma cultura de protesto, normalmente mais ligada a esquerda, mas que agora também é estratégia da direita. Em entrevista ao Jornal do Brasil, ele disseca o tema, explicando como acredita que essa configuração se tornou possível. 
Ele lembra que, num primeiro momento, as manifestações de junho de 2013 foram puxadas pelo Movimento Passe Livre, que defende a tarifa zero e é notadamente de esquerda. “Depois da inserção de setores muito mais amplos do que aquele setor organizado, que convocou a primeira manifestação, houve uma adesão de um leque de forças sociais amplo naquela conjuntura de junho, que permaneceu. Na época, foram forças antipartidárias, antimovimento social, contra qualquer presença de força organizada, o anseio dessas pessoas não foi excluído das conjunturas e esse anseio se expressou novamente na conjuntura eleitoral. Essas pessoas que estão insatisfeitas com a política e geram uma onda anti-petista e antigoverno Dilma”, diz ele.
Para Ianoni, esses insatisfeitos podem se associar com a direita pelo discurso de mudança e pela falta de informação. “Uma das principais forças de propulsão, dos insatisfeitos das ruas é a mídia. Os insatisfeitos das ruas, não relacionado aos movimentos sociais, os desorganizados, tem como principal referencia  a grande mídia, que não apoia o governo”, comenta ele.
Claro que nem todos os insatisfeitos foram englobados pelas candidaturas oposicionistas, existindo muitos insatisfeitos que ainda viram no governo Dilma a melhor opção e muitos outros que votaram nulo ou não votaram: “Esses insatisfeitos com o sistema político, com a corrupção, com o suposto boliviarianismo da Dilma apoiaram a candidatura da Marina, num primeiro momento e do Aécio, num segundo momento. Não que todos os insatisfeitos foram englobados por essas duas candidaturas. Os insatisfeitos não são uma coisa só. Uma parte desses insatisfeitos é suscetível ao discurso de direita ou é de direita. A questão é que esses candidatos (Marina e Aécio) tinham uma capacidade de dialogar com esses insatisfeitos por serem oposição. A possibilidade de uma candidatura de oposição vencer aumentou a força desses insatisfeitos e aumentou também a postura de indução da grande mídia oposicionista, baseando-se na indignação nacional presente nas ruas”, diz Ianoni.
Para Ianoni, a direita está mais mobilizada, tanto a ponderada quanto a mais radical. “Dentro dessa direita conservadora tem alguns grupos mais radicais que estão dispostas a radicalizar nos programas, ou seja, no conteúdo das propostas e também nas ações. Isso não é algo isolado, eles tem base na sociedade. Mulheres vestidas com a bandeira do Brasil que dizem que Dilma e o PT vão implantar o comunismo. Candidatos que são declaradamente contra homossexuais. Temos um regime democrático, mas não temos de maneira unanime uma cultura democrática, em nossas raízes autoritárias e em função da desigualdade social, nossa sociedade tem esse ranço autoritário”, completa.
Para ele, ao contrário do que pode ser visto na direita, movimentos extremos na esquerda estão mais controlados. E ele não vê indicações totalitárias ou radicais no governo petista, por exemplo. 
“Nessa conjuntura eu não visualizado uma esquerda autoritária, eu não acho que o PT é totalitário, ele venceu as eleições quatro vezes. Na Venezuela, reclamam do Chávez porque ele mudou a constituição permitindo a reeleição indefinida. Temos que lembrar que quem aprovou a reeleição no Brasil foi o Fernando Henrique, ele que mudou a constituição para permitir a reeleição. O PT vem ganhando dentro das regras do jogo. Dois dias antes da eleição, a reportagem da Veja soltou aquela capa e não se viu o governo invadir redação de jornal. A PF, na época do Collor, invadiu a Folha de São Paulo para confiscar jornais. Algo que não acontece hoje". 

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