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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Sobre imagens de homens negros acorrentados

Sobre o bate boca provocado pela venda de imagens de homens negros, velhos, acorrentados, vendidos numa loja num aeroporto, quero dizer que tenho uma dessas em casa. Que, aliás, ganhei de presente de uma pessoa a quem amo muito e que conhece muito bem minhas posições antirracistas. Afinal passei minha infância, até os doze anos, jogando pelada, bola de gude, soltando pipa e indo a escola com meninos pardos e negros, moradores das favelas nos morros do Telégrafo, Pindura Saia e Mangueira, no bairro da São Cristóvão, Rio de Janeiro. 

Como continuo a ser um estudioso da História do Brasil, a imagem do preto velho acorrentado, um escravo acorrentado, serve para que eu não esqueça, nunca, que o Brasil foi o último dos países do Ocidente a libertar escravos.

Escravos, aliás, só libertados por pressão de ingleses que viam em milhões de negros livres um grande mercado para suas manufaturas. Escravos que durante mais de 300 anos foram caçados nas terras africanas onde nasceram e vinham, acorrentados em porões de navios, espoliados de todos os direitos, tratados como mercadoria, torturados às vezes até a morte para trabalhar (muitas vezes também até a morte) nos engenhos de cana e mais tarde em minas de ouro e diamantes.

O homem acorrentado me faz lembrar, todos os dias, dessa monstruosa tragédia contra a parte negra do que chamamos humanidade. Acho que tentarmos apagar o passado, um passado que talvez envergonhe alguns de nós, é quase tão monstruoso quanto o racismo estrutural que viceja alegremente Brasil afora com o beneplácito, talvez com apoio mesmo, do presidente da república Jair Bolsonaro.

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