Visite Também

Visite também o Conexão Serrana.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabriel García Márquez morre aos 87 anos

Gabriel Garcia Márquez
O escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1982, morreu nesta quinta-feira (17), aos 87 anos, em sua residência na Cidade do México. O autor de clássicos da literatura universal como "Cem Anos de Solidão", que enfrentou um câncer linfático em 1999, chegou a ser internado no mês passado com infecção pulmonar e a saúde bem debilitada. A causa oficial da morte ainda não foi divulgada.
Em sua página do Twitter, a jornalista e amiga Fernanda Familiar confirmou a morte do escritor: "Deixa de bater o coração de Gabriel García Márquez", escreveu ela na rede social. Um dos primeiros a repercutir a perda foi o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que decretou luto. "Mil anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos", disse o representante do país.

Considerado o escritor de língua espanhola mais popular desde Miguel de Cervantes, no século 17, García Márquez alcançou celebridade literária que gerou comparações com clássicos das letras universais como Mark Twain e Charles Dickens. Suas obras ficcionais extravagantes e melancólicas --entre elas "Crônica de uma Morte Anunciada", "O Amor nos Tempos do Cólera" e "Outono do Patriarca"-- superaram em vendas qualquer outra publicação em língua espanhola, com exceção da Bíblia.
O romance épico "Cem Anos de Solidão" vendeu mais de 50 milhões de cópias em mais de 25 idiomas. Publicado em 1967, é um dos exemplos principais do chamado realismo fantástico e marcou um boom da literatura latino americana que durou duas décadas. A obra narra a saga de gerações da família Buendí e foi "o primeiro romance em que os latino-americanos se reconheceram, que os definiu, que celebrou sua paixão, sua intensidade, sua espiritualidade e superstição, sua grande propensão ao fracasso", disse o biógrafo Gerald Martin à agência Associated Press.

Ao receber o Nobel, em 1982, García Márquez descreveu a América Latina como uma "fonte de criatividade insaciável, cheia de tristeza e beleza, do qual este errante e nostálgico colombiano não é mais que uma fração, destacada pelo destino. Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e malandros, todas as criaturas daquela realidade desenfreada, deixaram pouco a extrair da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios convencionais para tornar nossa vida verossímil". 
Ele voltou à Colômbia em 1958 para casar-se com Mercedes Barcha, sua vizinha de infância, com quem teve os filhos, Rodrigo, que é diretor de cinema, e Gonzalo, designer gráfico. Em 1960, muda-se para o México e intensifica sua produção artística. Em 1961, lança "Ninguém Escreve ao Coronel" e, em 1962, "O Veneno da Madrugada", que lhe renderia, na Colômbia, o Prêmio Esso de Romance. "Cem Anos de Solidão" chegaria em 1967 para consagrá-lo como grande romancista.

Sua obra-prima faz com que seus lançamentos passem a ser tomados por grande expectativa e coloca a América Latina e o Realismo Fantástico no centro do cenário literário mundial. Conseguiu ainda emplacar outros grandes sucessos, como "Crônica de Uma Morte Anunciada", de 1981, "O Amor nos Tempos de Cólera", de 1985, e "Notícias de um Sequestro", de 1996. Seu último romance, "Memórias de Minhas Putas Tristes", foi publicado em 2004.

Pobre e esfarrapado durante grande parte de sua vida adulta, García Márquez foi transformado por sua fama e riqueza tardias. Um "bon vivant" com personalidade travessa, o escritor era um anfitrião gracioso, que contava histórias longas, com animação, para os hóspedes. Ferozmente protetor de sua imagem, uma característica compartilhada por sua esposa, ele ocasionalmente se rendia a um temperamento explosivo quando se sentia menosprezado ou deturpado pela imprensa.

O autor, com suas sobrancelhas grisalhas e espessas e seu bigode branco, passou mais tempo na Colômbia em seus últimos anos, fundando seu instituto de jornalismo na cidade portuária de Cartagena, onde mantinha uma casa. Em 1998, já em seus 70 anos, García Márquez realizou um sonho, ao usar o dinheiro de seu Nobel para se tornar acionista majoritário da revista colombiana "Cambio". Antes de adoecer com câncer linfático em junho de 1999, o autor contribuiu prodigiosamente para a revista. "Eu sou um jornalista. Sempre fui um jornalista", disse à AP na época. "Meus livros não poderiam ter sido escritos se eu não fosse jornalista, porque todo o material foi retirado da realidade".

O homem político
Como muitos escritores latino-americanos, García Márquez transcendeu o mundo das letras. Desde cedo, Gabo tornou-se um herói para a esquerda latino-americana, aliando-se cedo ao líder revolucionário cubano Fidel Castro e criticando as intervenções violentas de Washington, do Vietnã ao Chile. Seus textos perfilaram o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, além de retratarem como traficantes de cocaína liderados por Pablo Escobar abalaram o tecido social e moral de sua Colômbia natal, sequestrando membros da elite, tema de "Notícias de um Sequestro".

A escrita de García Márquez foi constantemente informada por seus pontos de vista esquerdistas, forjados em grande parte por um massacre de militares a trabalhadores bananeiros em greve contra a United Fruit Company (mais tarde, Chiquita) em 1928, perto de Aracataca. Ele também foi muito influenciado pelo assassinato, 20 anos mais tarde, de Jorge Eliécer Gaitán, candidato presidencial esquerdista em ascensão.
Apesar de os Estados Unidos terem negado visto de entrada ao escritor seguidas vezes por conta de suas posições políticas, ele foi cortejado por presidentes e reis e contava Bill Clinton e François Mitterrand entre seus amigos. García Márquez criticou o que considerava uma perseguição política injusta de Clinton por suas aventuras sexuais. O próprio Clinton lembrou em uma entrevista à AP em 2007 de ter lido "Cem Anos de Solidão" quando estava na faculdade de direito e não ter sido capaz de entendê-lo, nem mesmo nas aulas. "Eu percebi que este homem havia imaginado algo que parecia uma fantasia, mas era profundamente verdadeiro e  profundamente sábio", disse o ex-presidente dos EUA.

Ao longo da vida, García Márquez recusou ofertas de postos diplomáticos e tentativas de o lançar à presidência da Colômbia, embora tenha se envolvido nos bastidores das negociações de paz entre o governo da Colômbia e os rebeldes de esquerda.

Os últimos anos
Os últimos anos de vida de Gabo foram marcados por 
relatos sobre problemas de memória , que não foram confirmados oficialmente. As aparições públicas de García Márquez também foram mais escassas, apesar de ele continuar a socializar com amigos.

Em março deste ano, quando fez 87 anos, o escritor foi homenageado diante da imprensa por amigos e simpatizantes, que lhe deram bolo e flores do lado de fora de sua casa, em um bairro de elite na Cidade do México. Na ocasião, o autor mostrou-se sorridente, recebeu presentes e tirou fotos, mas não falou com os jornalistas. Nos últimos anos, restringiu ao máximo suas aparições em público e declarações por motivos de saúde.


Corpo de Gabriel García Márquez será cremado, informa família


O corpo do escritor colombiano Gabriel García Márquez, morto nesta quinta-feira (17) aos 87 anos na Cidade do México, será cremado em uma cerimônia privada. A informação foi confirmada pela família mediante um comunicado lido para jornalistas na porta da casa do escritor, segundo divulgaram as agências de notícias France Presse e EFE.

O comunicado foi lido pela diretora do Instituto Nacional de Belas Artes, María Cristina García. Ainda de acordo com Cristina, em respeito a um desejo da família, nenhum outro ato fúnebre será realizado. Por enquanto, apenas uma homenagem nacional será feita ao escritor no Palácio de Belas Artes, na próxima segunda-feira (21).

Segundo a France Presse, uma das irmãs do escritor, Aída, disse à imprensa colombiana que espera que o corpo do escritor seja levado para sua terra natal. "Gabito é da Colômbia, têm de trazer Gabito, quer dizer, não tive tempo de pensar nisso, mas não há dúvida de que ele tem de vir e de que vão trazê-lo para nós", declarou Aída García Márquez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário