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terça-feira, 19 de abril de 2011

Memória de meus (poucos) dias na Prefeitura


As críticas à atuação do prefeito Jorge Mário, encorpadas ultimamente pela presença de parte da população nas ruas, pedindo sua saída imediata, geralmente são centradas na suposta corrupção na máquina do executivo. Há outros dados, entretanto, que devem ser relacionados, nesse momento em que Teresópolis passa por grandes dificuldades.



Não só geradas pela tragédia de 12 de janeiro, mas também no plano político com a ameaça real de que as verbas federais e estaduais jamais cheguem à cidade em razão dos supostos desmandos do executivo municipal.

Pode ser até que a pressão da chamada sociedade organizada, num futuro próximo, faça com que o prefeito tenha que passar o cargo ao vice Roberto Pinto.

Mas é bom não ter tantas esperanças assim. Mesmo que acabe indiciado, Jorge Mário poderá recorrer, em princípio, em três instâncias da Justiça: local, estadual e aos STFs da vida.

Como a Justiça só é rápida quando se trata de defender personalidades envolvidas em situações nebulosas ( casos de Daniel Dantas para dar um exemplo conhecido) e grandes corporações, os recursos que o prefeito irá impetrar e a lentidão crônica do terceiro poder provavelmente levarão Jorge Mário, com sobras, ao final de seu mandato.

É a regra do jogo, considerando-se que uma futura condenação à perda do cargo siga o roteiro “normal”.

Jorge Mário é acusado de corrupção, mas até agora não se cogitou muito – embora algumas pessoas tenham falado nisso – de sua total incapacidade para administrar a cidade.

Nesse capítulo, com certeza, o prefeito de Teresópolis poderá  dizer que o município viveu a maior catástrofe de sua história e que com isso não puderam ser cumpridas as metas de sua administração. E coisa e tal.
Em parte é verdade, mas é preciso lembrar que antes do dia 12 de janeiro várias obras já estavam paralisadas (ou quase) e a cidade já vivia o pesadelo de dezenas de ruas que nunca estiveram em condições tão ruins.

A administração Jorge Mário conseguiu a proeza de ser muito pior do que a de seus antecessores sobre os quais pesaram (e ainda pesam) sérias críticas da população. E dos eleitores.

Como alguém que passou cerca de três meses na atual administração, embora mais ou menos distanciado do gabinete, pude acompanhar, de perto, as trapalhadas do prefeito. 

Minha ida para a subchefia da secretaria de Comunicação Social a convite do também jornalista Rolf Danzinger, então convidado para o cargo de secretário, já foi cercada de alguns cuidados.

Assim que fui procurado por Danziger o alertei para uma história que ouvi logo após a vitória do candidato do PT. Segundo meu informante, ainda no período eleitoral, uma empresa, na verdade um consórcio de empresas, ofereceu R$ 1 milhão para cada campanha. A contrapartida seria a entrega do serviço de coleta de lixo na cidade e no interior. Sem licitação, é claro.

O candidato José Carlos Faria não teria aceito, segundo palavras de pessoa no comando da campanha, porque “isso seria vender a cidade”. Sobre os outros candidatos possivelmente nunca se saberá.

Logo depois da posse do prefeito eleito, no entanto, a crise se instalou no casarão da Avenida Feliciano Sodré e a Câmara não teve outro jeito que não fosse barrar a entrada dos caminhões de lixo que, aliás, já estavam num galpão da Rio-Bahia onde hoje funciona a Myth. 

Fui informado de que a história não era bem assim e achando que poderia dar minha contribuição à secretaria de Comunicação Social, tomei posse.

O relacionamento com Jorge Mário era até bom. Logo no primeiro encontro, no gabinete, pouco antes da posse, ele elogiou meus “escritos” que disse acompanhar nos jornais.

A coisa parecia ir bem. Fizemos acordo com praticamente todos os jornais, alguns sites e TVs locais, que estavam recalcitrantes em relação ao novo prefeito e quase todo mundo recebe até hoje, uma ajuda de custo da prefeitura.

Essa ajuda é importante para a existência dos jornais e TVs locais. As exceções, mais ou menos óbvias, foram os jornais, as rádios e  TVs dos ex-prefeitos Roberto Petto e Mário Tricano. O Diário de Teresópolis não entrou nessas negociações.
Logo depois veio a crise do Diário Oficial fraudado, que levantou suspeitas sobre atuações recentes do prefeito de Teresópolis.

Nos corredores da prefeitura falava-se de licitações anteriores também fraudadas. Foram dias difíceis até porque as explicações que deveriam ser repassadas à secretaria eram confusas e inconsistentes.

Um episódio, no entanto, deixou claro, já naqueles primeiros meses da administração municipal: a total incapacidade gerencial e o destempero de Jorge Mário.

Exemplo: durante uma solenidade no teatro municipal um dos locutores oficiais da prefeitura, Oldemar Murtinho, depois das apresentações de praxe e leitura de um texto redigido pela Secretaria de Comunicação, recebeu um papel da juíza Inês Joaquina.
Salvo erro, era um texto escrito a mão pela própria juíza e o locutor oficial da cerimônia tropeçou em algumas passagens. A demonstração de intolerância veio no mesmo instante: Murtinho foi demitido na hora.

Jorge Mário deixou no ar uma desconfiança: “esse cara nunca viu um telejornal; se tivesse visto saberia que mesmo os mais bem pagos como William Boner também tropeçam”, foi a conversa que tivemos logo após o acontecido.

Pessoalmente, o episódio foi uma espécie de alerta e me fez iniciar a preparação para deixar a prefeitura, que seria concluída dois meses depois num acontecimento lamentável, em que Jorge Mário chamou, pela manhã, o secretário Rolf Danziger e ordenou que, em virtude da contenção de gastos, teria que haver corte de pessoal na secretaria. Danziger se desgastou, demitindo uma funcionária.

A demissão de um dos dois fotógrafos só não aconteceu porque o alertei dos riscos que iríamos correr. Volta e meia um deputado, uma autoridade, uma personalidade, aparece na prefeitura e Jorge Mário faz, sempre, questão de uma foto.

Já conhecendo a personalidade destemperada do prefeito lembrei que, se nosso único fotógrafo estivesse, por exemplo, no interior, a coisa ia sobrar pra nós. O fotógrafo ficou depois de um novo desgaste, mas à tarde, de modo totalmente inesperado, o então secretário soube que sua secretaria já estava extinta.

Não havia clima para continuar e a demissão, já decidida por mim, acabou antecipada.  A covardia do prefeito e sua total incapacidade de gerir uma prefeitura como a de Teresópolis veio, ao longo dos tempos, ficando clara.

A balela do corte de despesas com pessoal não foi digerida e uma posterior extinção de gratificações acabou tornando o prefeito um inimigo íntimo dos próprios funcionários.

Nessa época, o núcleo em torno do prefeito – formado inicialmente por pessoas que conheciam Teresópolis por ouvir falar – começou a ser diluído.

Semanas depois, restava apenas o secretário José Alexandre, considerado, nos corredores, uma espécie de “operador da corrupção” e que só caiu depois de uma intensa pressão da chamada sociedade local.

Na próxima matéria outros detalhes sobre minha passagem, quase meteórica, pela administração Jorge Mário. 
 

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