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terça-feira, 1 de março de 2011

A Sra. Thatcher e os breves recuos da História


A vida da ex-primeira ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, vai virar filme. Hollywood quer glorificar uma personagem sem dúvida interessante, mas parece que perdeu o tempo de bola. Thatcher já está esquecida e suas teorias foram sepultadas pela recente crise que afetou (e ainda afeta) as economias do chamado primeiro mundo. 


Pois é. Margareth Thatcher, a “Dama de Aço”, (no Brasil foi rebaixada para “Dama de Ferro”) empolgou os neoliberais mundo afora, não apenas por sua determinação – daí o apelido – mas também por implementar mudanças que acabaram se espalhando pelo mundo. 

A Sra. Thatcher protagonizou um breve recuo da história recente, que acabou não indo muito longe.

Para a ex-primeira ministra britânica o fundamental era a redução drástica do estado. A economia, acreditavam todos os neoliberais capitaneados por ela, deveria ser totalmente gerida pelo mercado. 

O estado se limitaria a acompanhar os movimentos das empresas interferindo preferencialmente quando existissem querelas entre elas. 

Muitos serviços públicos foram privatizados. A era da “Dama de Ferro” terminou (a exceção são os Estados Unidos, ainda neoliberais) de forma inglória com a crise dos subprimes que se espalhou pelo mundo, quebrando bancos por toda a Europa e ameaçando até hoje as economias da Irlanda, Grécia Portugal e outras menos votadas. Ou menos atingidas.

Após a crise que tangenciou os países emergentes, a Europa começou a discutir o controle dos bancos e a idéia de um “estado reduzido” desmancha-se no ar. Até porque as menos afetadas pela crise internacional foram as economias em que a presença do estado, como gerenciador, é bastante forte: Brasil, Rússia, Índia e China, os chamados BRICs.

A tendência a maior participação do estado na economia tem, porém, uma outra face. 

Muitos dos países dominados por ditaduras sangrentas devem iniciar, agora, um movimento no sentido contrário que pode ir na direção do... neoliberalismo. Ou seja, a tendência é que futuros governos democráticos na África e na Ásia optem por menor participação do estado. 
Afinal a centralização levou suas economias à bancarrota.

É assim mesmo; a história não se faz linearmente, mas através de avanços e recuos em diferentes partes do planeta. 

À Revolução Francesa de 1889, radicalizada na Comuna de Paris, sucedeu-se uma regressão: Napoleão Bonaparte tornou-se imperador, poucos anos depois da nobreza da França ter as cabeças cortadas pela guilhotina. No início do século 19 havia clima para esse tipo de retrocesso.

Os movimentos que fazem a história andar dependem da economia. O desenvolvimento econômico, por sua vez, é dependente de fatores como o crescimento populacional e o desenvolvimento tecnológico.

No século 18, durante a Revolução Industrial, que eclodiu inicialmente na Inglaterra, nenhum empresário tinha problemas (nem de consciência) quando empregava crianças de dez anos para trabalhar dez, doze horas nos teares a vapor. 

Tanto as fábricas quantos os aglomerados onde moravam esses operários eram absolutamente insalubres e milhares de pessoas morreram de exaustão.

Hoje algumas fábricas ainda continuam insalubres, os operários ainda são mal pagos e ainda existe - nas economias emergentes inclusive – trabalho escravo.  Mas ninguém imagina contratar crianças de dez anos para trabalhar dez, doze horas por dia. A remuneração também avança.

As exigências de fábricas invadidas por chips de computador têm que ser respondidas, na prática, com a cooptação de força de trabalho mais especializada. Operários que saibam atender às exigências da tecnologia ganham, é óbvio, mais do que um ajudante de pedreiro. Ou que um torneiro mecânico.

A Sra. Thatcher, que agora vira filme, provavelmente geriu um momento de recuo na história, que o tempo vai corrigindo.

Texto: José Attico

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