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quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Figurinhas

 

E não me lembro, nem remotamente, do gosto das Balas Ruth. Ou se alguma vez senti o gosto, porque a bala era o que menos importava.  Mas lembro de tirar rápido o papel para encontrar a figurinha. Alegria ou decepção? Figurinha nova ou repetida? Na medida em que o álbum era preenchido, ficava cada vez mais difícil aparecer uma novidade.

Foi um tempo em que quase todos os meninos da classe média do Rio de Janeiro, juntavam as figurinhas da Bala Ruth. Muitos adultos também contribuíram para que juntar figurinhas virasse uma febre. O ano, o Google me diz, era 1951.

Uma intensa atividade de troca acontecia na hora do recreio nos pátios das escolas. Mas em alguns locais do centro da cidade as trocas e até venda de figurinhas virou uma atividade intensa. Com o passar do tempo a troca ia ficando mais complicada. Praticamente todo mundo tinha as mesmas figurinhas pra trocar.

 Havia as difíceis de encontrar (acho que daí foi gerada a expressão “figurinha difícil”, hoje já em desuso). Figurinha difícil mesmo era a “Casa de Madeira”. Como sua existência foi questionada a figurinha acabou sendo exposta na vitrine de uma loja no Centro da cidade. E as pessoas paravam pra dar uma olhada. O “Acrópole,” aquele mesmo nas ruínas de Atenas, também era figurinha complicada de conseguir.

O anunciado prêmio pelo preenchimento do álbum devia ser muito bom. Mas logo depois, premiar preenchimento de álbum de figurinhas foi proibido. E nunca se soube se realmente alguém foi premiado. 

Meu envolvimento com álbuns de figurinhas não ficou por aí. Em 1971 fui trabalhar na Editorial Bruguera, empresa com sede em Barcelona e um sócio no Brasil.

Acontece que antes de me tornar funcionário do Departamento Editorial a Bruguera havia lançado um álbum de figurinhas chamado de História Natural. O álbum, sem que ninguém soubesse por que, acabou sendo adotado por professores de escolas públicas das redes estadual e municipal do Rio. Talvez como um instrumento auxiliar das aulas de Ciências.

O sucesso foi tão grande que a empresa com área construída equivalente a dois contêineres e meio, pôde, com recursos próprios, construir um prédio de três andares: um galpão no térreo, área administrativa no primeiro andar, editorial no segundo. A Bruguera passou de pequena a empresa de porte médio.

Depois de História Natural a empresa, claro, tentou lançar outros álbuns, alguns com temas diferentes. Um deles que reproduzia cédulas de dinheiro de todo o mundo acabou barrado pela Receita Federal, apesar das notas serem reduzidas, com impressão em apenas uma face.

Uma segunda tentativa, um álbum quase igual ao História Natural, mal pagou os custos de produção. 

Mesmo uma nova tentativa feita em parceria com a Rede Globo de televisão – que entrou com os fotolitos das figurinhas e a difusão na TV - não chegou nem perto ao sucesso do História Natural.

Hoje os lançamentos se fazem com ajuda de publicidade na TV. Os mais comuns reúnem fotos de jogadores de futebol quando se aproximam os jogos da Copa do Mundo.

Não há mais “figurinhas difíceis.

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