Há um dado interessante a ser considerado no tsunami
provocado pelas denúncias do site Intercept Brasil.
Ninguém contestou o conteúdo das conversas entre Moro e
Dallagnol. O destaque foi para a forma como foram obtidas.
A grande mídia apontou suas baterias para a ilegalidade na
captação dos diálogos, Moro e Dallagnol dizem que não fizeram nada demais e
bola pra frente.
Pois é, a bola seria tocada pra frente sem maiores delongas –
como foi no caso do telefonema entre Lula e Dilma Rousseff grampeado pela PF –
se outros elementos não fossem adicionados ao imbróglio político.
Na opinião desse humilde escrevinhador não há fato jurídico
capaz de se sobrepor ao fato social, ao fato político, histórico. Ou seja: as
leis mudam de opinião ao sabor dos ventos do poder.
Um exemplo ainda próximo foi à capitulação vergonhosa de
ministros do STF logo após o golpe do dia 1º de abril de 1964.
A constituição de 1946 teve o mesmo uso do
papel higiênico. (Talvez não, porque tinha sido impressa em papel off set um tanto espesso).
Todo o chamado arcabouço jurídico, incluídas as cláusulas pétreas,
seguiu em marcha batida para o esgoto e a rapaziada de plantão no STF passou a
aprovar, com louvor, toda a legislação autoritária imposta pelos militares que
chegaram ao Planalto. Inclusive a pena de morte, lembram?
Favorecido pelos ventos bolsonaristas, o então juiz Sérgio Moro
e os procuradores da Lava Jato deliberaram que o papel onde está impressa a
Constituição de 1988 talvez possa ser utilizado para a mesma finalidade.
E é até possível que Moro ganhasse mais alguma condecoração pelo
estupro da chamada Carta Magna, mas os tempos são outros.
Os primeiros meses de seu
parceiro (e Criatura, porque não) à frente do Executivo estão sendo desastrosos
e as imbecilidades explicitadas no dia a dia do Planalto – logo removidas pela
ação de deputados e senadores – deixam a classe dominante de cabelo em pé,
assustada com os rumos que vai tomando o país.
Obviamente banqueiros, grandes proprietários de terras,
empresários, executivos de multinacionais desejam ardentemente jogar nos ombros
dos segmentos mais pobres da população o peso de uma eventual recuperação da
economia. (A aprovação da reforma da Previdência faz parte dessa pauta).
Mas sabem também que isso não é tudo. A saída, estão carecas
de saber, passa pela recuperação do emprego, e do mercado interno.
Ou seja, passa pela redução das desigualdades, tema não muito
bem digerido por essa rapaziada.
Quando Bolsonaro pede a empresários que deem “um norte para o
governo” (foi num encontro com lideranças da classe ontem em São Paulo) a
classe dominante fica ainda mais certa do que já desconfiava: o Brasil é uma
caravela que navega alegremente em direção á tempestade.
Infelizmente para Moro, Dallagnol & Cia o conteúdo do
Intercept vai continuar assombrando suas vidas.
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